Notícia

Microplásticos: especialistas da Universidade Yale esclarecem conceitos e consequências ambientais

Em publicação da Universidade Yale, nos Estados Unidos, especialistas explicam os principais questionamentos relacionados aos microplásticos

Brian Yurasits via Unsplash

Fonte

Universidade Yale

Data

sexta-feira, 4 dezembro 2020 12:10

Áreas

Ecologia. Embalagens. Gestão de Resíduos. Química Verde. Sustentabilidade.

A especialista em saúde ambiental Dra. Leigh Shemitz, presidente da organização SoundWaters, e o Dr. Paul Anastas, especialista em Química Ambiental da Universidade Yale, nos Estados Unidos, esclareceram conceitos e questões ligados aos microplásticos – um ‘pequeno’ problema com grandes consequências ambientais.

O que são microplásticos e de onde vêm?

“Como o nome sugere, os microplásticos são minúsculas partículas de plástico com menos de cinco milímetros de tamanho. Essas peças variam desde aproximadamente o diâmetro de um grão de arroz até [dimensões que] precisam ser vistas ao microscópio”, disse a Dra. Leigh Shemitz.

Há uma ampla variedade de fontes de microplásticos, incluindo aterros, residências e itens pessoais, projetos de construção, fábricas, agricultura e muito mais. “Nos últimos cem anos – mas principalmente desde a década de 1950 – nós, como humanos, produzimos 8 bilhões de toneladas de plástico, e a estimativa é que apenas cerca de 10% desse material foi reciclado. Então de onde vêm os microplásticos? Vêm de todas as nossas coisas”, explicou a Dra. Leigh Shemitz.

O Dr. Paul Anastas, Diretor do Centro de Química Verde e Engenharia Verde e de Prática de Química para o Meio Ambiente da Universidade Yale, explicou que existem microplásticos primários e secundários. “Microplásticos primários são partículas de plástico projetadas para serem muito pequenas para que realizem a função pretendida”, disse o professor, acrescentando que essas microesferas de plástico são frequentemente encontradas como pequenas esferas em cremes faciais esfoliantes ou como pó fino em creme dental e protetor solar. “Normalmente, eles são levados pelo ralo, escorregam pelas estações de tratamento de água e entram nos cursos d’água”.

Por outro lado, os microplásticos secundários são “grandes materiais plásticos que poderiam ser usados ​​em embalagens ou materiais de construção que simplesmente se desintegram com o tempo por abrasão, vento ou raios de sol e se tornam microplásticos”, explicou o Dr. Anastas. Sacos plásticos, garrafas e recipientes para alimentos, bem como tintas, adesivos e revestimentos e eletrônicos são exemplos de materiais que podem quebrar e liberar microplásticos secundários. Lavar roupas feitas com fibras sintéticas em máquinas de lavar é outra forma comum em que as famílias muitas vezes contribuem sem saber para o problema dos microplásticos.

Onde os microplásticos são encontrados?

“Eles estão sendo encontrados em quase todos os lugares que procuramos”, disse o Dr. Paul Anastas. Microplásticos primários e secundários são encontrados em oceanos, lagos, cursos de água, solo, ar e, infelizmente, até mesmo em nossos alimentos.

“Há muitas pesquisas sugerindo o quão onipresentes eles são”, acrescentou a Dra. Leigh Shemitz. “Não há nenhuma parte do globo que não tenha microplásticos, do Ártico à Antártica e tudo mais.” No entanto, o Dr. Anastas explica que há “muito menos conhecimento sobre os microplásticos no ar e no solo em comparação com os microplásticos na água”. Isso ocorre porque os microplásticos na água são fáceis de encontrar, testar e analisar – e é simplesmente onde a atenção dos pesquisadores está focada por enquanto.

Quais são os impactos ambientais dos microplásticos?

Os microplásticos têm impactos ambientais significativos, a maioria estudada em ambientes marinhos. Uma vez liberados ou separados de seu produto plástico original, os microplásticos podem viajar através dos cursos de água e acabar nos ecossistemas que servem de lar para uma variedade de vida marinha, incluindo algas, zooplâncton, peixes, caranguejos, tartarugas marinhas e pássaros. A Dra. Shemitz ressalta que há muitos casos de emaranhamento, em que a vida marinha fica presa em pedaços de plástico como uma linha de pesca velha e é estrangulada até a morte. “Os microplásticos também são uma preocupação, principalmente no oceano, porque são facilmente ingeridos por seres vivos. Quando um peixe ou invertebrado absorve esses microplásticos ao se alimentar, eles podem ter problemas de saúde, como uma grave interferência ou abrasão em seus tratos digestivos, o que pode ser fatal”, destacou o pesquisador.

Além disso, outros poluentes da água tendem a se acumular na superfície desses microplásticos; quando os animais ingerem o plástico, eles também ingerem esses produtos químicos tóxicos. Essas substâncias começam a se acumular em seus corpos e, lentamente, sobem na cadeia alimentar.

A exposição a microplásticos tem impacto na saúde humana?

Os ecologistas descobriram que os microplásticos frequentemente chegam à água potável, assim como sal, mel e açúcar; algumas pesquisas sugerem que os humanos estão consumindo mais de 100.000 partículas de microplásticos por ano. No entanto, há muitas perguntas sem resposta sobre os impactos dos microplásticos em humanos e como o corpo humano responde aos microplásticos que comemos, bebemos ou inalamos.

O Dr. Anastas ressalta que sabemos que inalar partículas muito finas de qualquer tipo de material também pode causar irritação respiratória que pode levar a problemas cardiovasculares mais sérios, mas alguns dos problemas de saúde ocultos de longo prazo ainda não são conhecidos. “Os plásticos são feitos simplesmente conectando pequenos produtos químicos em cadeias até que se tornem grandes produtos químicos que podem ser usados ​​como materiais, e são chamados de polímeros. Além da maioria dos materiais feitos pelo homem, os polímeros são a base de muitas coisas na natureza. Cada árvore é um polímero. Sua pele é um polímero. Cada alimento que você come é um polímero”, explicou o professor.

O especialista continua explicando que nossos corpos estão acostumados a quebrar, processar e descartar polímeros naturais todos os dias, mas os novos polímeros feitos pelo homem vêm com muitas incógnitas. “Simplesmente não sabemos em que grau esses polímeros feitos pelo homem são diferentes e afetam nossos corpos de maneira diferente”, explicou o Dr. Anastas. “Nossos corpos evoluíram para processar todos esses outros polímeros naturais ao longo de incontáveis ​​anos, mas nossos corpos e o meio ambiente não tiveram a chance de evoluir para processar esses polímeros feitos pelo homem.”

Por enquanto, os pesquisadores usam os dados existentes sobre os microplásticos para fazer suposições sobre o que também pode estar acontecendo no corpo humano. “O que vimos em ambientes marinhos é como os microplásticos podem interromper os sistemas reprodutivos, retardar o crescimento, diminuir o apetite e causar inflamação nos tecidos e danos ao fígado”, ressaltou a Dra. Shemitz. “Então, como esses estudos sugerem, não há ‘nenhum efeito’ agora. É provável que a ingestão de microplásticos possa nos expor ainda mais a alguns dos produtos químicos encontrados em plásticos que são sabidamente prejudiciais”.

Que esforços estão sendo feitos pela indústria e pelos governos para resolver esse problema?

Há uma pressão crescente sobre governos e indústrias para evitar que os microplásticos entrem no meio ambiente, e a Dra. Shemitz explica que as indústrias estão começando a reavaliar sua contribuição para o problema. Ela diz que algumas empresas estão tomando iniciativas para fazer produtos ou embalagens de plástico reciclado para “reduzir a tonelagem geral de plástico que é produzida todos os anos”.

Além de apenas ajustar o uso e a disponibilidade de plástico descartável, o Dr. Anastas sugere que “a solução é projetar nossos plásticos para ter o caráter, a qualidade e a natureza que sejam saudáveis ​​e sustentáveis, e não ruins”. “Plásticos não são ruins, plásticos ruins são ruins”, disse o Dr. Anastas. “Os plásticos ruins começam a ser feitos de materiais tóxicos, esgotantes e finitos, como óleo e petróleo, e não se degradam por dezenas de milhares de anos. As indústrias estão começando a reinventar os plásticos para que eles possam realmente ser bons, e isso significa começar com materiais renováveis, como matéria vegetal, que pode se degradar sem causar danos ao nosso meio ambiente”.

Como os consumidores podem reduzir os microplásticos no meio ambiente?

Quando os consumidores gerenciam sua exposição pessoal aos microplásticos, eles também evitam que os microplásticos entrem no ambiente. Os especialistas sugerem evitar plásticos descartáveis, por exemplo, optando por frascos e recipientes de vidro reutilizáveis e contra produtos com microesferas, como cosméticos esfoliantes. Além de pequenas mudanças nos hábitos, o Dr. Anastas sugere “conhecer o que você pode exigir como consumidor”.

“No momento, há plásticos mais ecológicos sendo introduzidos, mas as pessoas ainda não estão familiarizados com eles”, disse o especialista. “Muitos desses novos produtos biodegradáveis à base de plantas são semelhantes aos polímeros naturais que você encontraria em árvores, folhas e grama. Você precisa saber que eles existem e exigi-los em seus produtos. ” O professor está otimista de que um impulso do consumidor em direção a produtos mais verdes forçará a indústria a usar o conhecimento técnico de que já dispõe para encontrar soluções positivas.

Além de ajustar seus hábitos de consumo individuais para reduzir futuros microplásticos, a Dra. Shemitz recomenda aumentar sua própria consciência para o problema, envolvendo-se em esforços de limpeza locais para reduzir os plásticos que já poluem o meio ambiente. Enfrentar o problema em primeira mão, acredita a Dra. Shemitz, é a única maneira. “Tornar o problema visível para as pessoas é realmente uma parte importante da compreensão dos plásticos no meio ambiente. Temos que participar [dessa problemática], não apenas [em relação ao que] compramos e usamos, mas [também a] tudo o que vemos”, concluiu a especialista.

Acesse a matéria completa na página da Universidade Yale (em inglês).

Fonte: Yale Sustentabilidade. Imagem: Brian Yurasits via Unsplash.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que  cadastrados no Canal Ambiental e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Ambiental, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2024 ambiental t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional em Meio Ambiente, Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account