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Violência contra a mulher cresce durante a pandemia

A pressão psicológica, que cresce naturalmente com as notícias sobre o avanço da pandemia, e o aumento do tempo de convívio com o agressor são apenas alguns fatores associados à violência contra a mulher nessa quarentena

Pixabay

Fonte

FAPERJ | Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

Data

quarta-feira, 20 maio 2020 12:25

Áreas

Saúde. Sociedade.

Em meio à pandemia, uma dura realidade – mascarada em muitos lares – torna-se agora mais visível. O número de casos de violência contra a mulher vem crescendo de forma substancial, no mundo inteiro, nesse período em que diversos países adotaram medidas necessárias de isolamento social para frear o avanço do novo coronavírus.

Na China, por exemplo, ativistas de direitos humanos denunciaram que os casos de agressões à mulher triplicaram durante a quarentena. Na França, desde o começo da crise sanitária, houve um aumento de aproximadamente 30% dos casos de polícia relacionados às agressões contra mulheres. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU Mulheres), mesmo antes da disseminação global do coronavírus, um terço das mulheres em todo o mundo já experimentou alguma forma de violência em suas vidas, seja física ou psicológica.

No Brasil, não é diferente. Segundo o plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), houve um aumento de cerca de 50% na demanda de casos de violência contra a mulher após o início da recomendação de isolamento social no estado, em março.

“Para a maioria das pessoas ficar em casa nesse momento de quarentena é sinônimo de proteção. Mas para muitas mulheres, de diversas idades e condições econômicas, que também precisam lidar com o medo de contaminação pelo vírus, a quarentena representa o desafio de permanecer trancada com o agressor em seu próprio lar, 24 horas por dia”, disse a médica e professora Dra. Claudia Leite de Moraes, do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ) e do curso de Pós-Graduação em Saúde da Família da Universidade Estácio de Sá. Contemplada pelo programa Cientista do Nosso Estado, por meio do qual recebe apoio da FAPERJ para a realização de suas pesquisas, ela coordena, na universidade, o Programa de Investigação Epidemiológica em Violência Familiar (PIEVF), que completou 20 anos em 2019. “Vale lembrar que muitos casos de violência contra a mulher são subnotificados, porque há o medo e a resistência da vítima em denunciar, além da dificuldade concreta de contato presencial com as instituições de proteção à mulher no período da pandemia”, completou a professora.

A pressão psicológica, que cresce naturalmente com as notícias sobre o avanço da pandemia, e o aumento do tempo de convívio com o agressor são apenas alguns fatores associados à violência contra a mulher nessa quarentena. “O aumento do estresse e a sobrecarga de trabalho em casa para a mulher, que muitas vezes é a principal ou única encarregada dos cuidados com familiares, são alguns fatores que propiciam a ocorrência de violência, em lares onde a principal forma de comunicação já é a violência. O maior tempo de convívio com os agressores, que passam a ter maior controle e poder sobre a vítima, e a redução do contato com a rede psicossocial de apoio individual e coletivo, como amigos, família, trabalho e escolas, também aumentam o risco de violência”, acrescentou a Dra. Claudia.

A própria conjuntura econômica também contribui para agravar as tensões domésticas. A perda de empregos afeta especialmente as mulheres, que se concentram no setor de Serviços, o mais afetado pela crise, e ainda representam a maioria da força de trabalho no mercado informal, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Além das restrições de movimento decorrentes da quarentena, as limitações financeiras e o sentimento de insegurança encorajam os abusadores, dando-lhes poder e controle adicionais. O abuso de álcool e drogas, mais frequente em situações de crise, também compõe o quadro que pode levar a intensificação e a ocorrência de novos casos de violência”, resumiu a especialista.

A pesquisadora destaca que, nesse momento de quarentena, é fundamental a organização de redes institucionais de apoio a distância, com canais para assistência remota à mulher vítima de violência, pela Internet e pelo telefone. “No início da quarentena, as instituições públicas e redes de apoio tiveram que se organizar às pressas para oferecer esse tipo de assistência remota à mulher. Muitas dessas trabalhavam apenas presencialmente, mas agora já é possível notificar as agressões e crimes via Internet, até mesmo por aplicativos, e por telefone, inclusive de forma anônima”, observou a Dra. Cláudia.

Além dos canais para realização de denúncias via telefone (o Ligue 180, especializado no atendimento à mulher em situação de violência; o Disque 100, para denúncias de violações aos direitos humanos; e o telefone 190, da Polícia Militar) e pela internet (Ministério Público), o Governo Federal disponibilizou no mês de março o aplicativo “Direitos Humanos Brasil” para recebimento de denúncias de violência doméstica.

Recentemente, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) divulgou um material informativo com enfoque na violência contra a mulher neste período. O material tem como objetivo conscientizar mulheres sobre possíveis situações de violência e disponibilizar canais de ajuda nesse momento, e meios de denúncia para vizinhos e familiares diante de casos suspeitos. A Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro também divulgou uma cartilha, que pode ser acessada aqui. Além destes canais, as delegacias de mulheres e delegacias comuns mantêm o funcionamento 24 horas.

Acesse a notícia completa na página da FAPERJ.

Fonte: Débora Motta, FAPERJ. Imagem: Pixabay.

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