Notícia

Sistema de alerta a partir de águas residuais pode fazer toda a diferença no combate à COVID-19

Projeto em Portugal ajudará a emitir alertas sobre o novo coronavírus, analisando as águas residuais na entrada e na saída de estações de tratamentos de águas de centros urbanos

Nelson Garrido, Instituto Superior Técnico de Lisboa

Fonte

Instituto Superior Técnico de Lisboa

Data

quarta-feira, 22 abril 2020 07:50

Áreas

Biotecnologia. Microbiologia. Saneamento. Saúde Pública.

E se, através de testes de águas residuais, fosse possível antecipar a detecção da presença do novo coronavírus numa determinada localidade, perceber com maior exatidão a carga de infecção na comunidade ou ainda detectar precocemente o SARS-CoV-2, o vírus da COVID-19? Pois bem, é esse mesmo o propósito do COVIDETECT, um projeto lançado pelo Ministério do Ambiente e Ação Climática de Portugal, em um consórcio com várias empresas e instituições de ensino, entre elas o Instituto Superior Técnico de Lisboa (Técnico de Lisboa). Ao grupo de pesquisadores do Técnico de Lisboa caberá uma das tarefas mais importantes do projeto: a validação do método de detecção do vírus nas águas residuais.

Vários grupos de pesquisa em todo o mundo estão tentando realizar a análise das águas residuais- água usada que passa pelo sistema de drenagem até chegar a uma estação de tratamento – como uma ferramenta valiosa no combate ao novo coronavírus; ela pode ajudar a estimar com mais precisão o número total de infecções, uma vez que a maioria das pessoas não chegará a ser testada. Sabendo das potencialidades que desta análise, os pesquisadores do Laboratório de Análises do Instituto Superior Técnico (LAIST) envolvidos no COVIDETECT manifestaram a “intenção de pesquisar o SARS-CoV-2 em águas residuais desde os primeiros relatos da presença deste vírus nas fezes de doentes infectados”, recorda o professor Dr. Ricardo Santos, do Técnico de Lisboa.

O projeto, considerado prioritário pelo Ministério do Ambiente e Ação Climática de Portugal, acabou por ganhar uma estrutura ainda mais robusta com a criação do consórcio, contando com uma equipe multidisciplinar com elementos das várias entidades parceiras.“Após a fase inicial de pesquisa e desenvolvimento, iremos proceder à monitorização das águas residuais para a presença e quantificação do vírus”, destaca o pesquisador do Técnico de Lisboa.  “O conhecimento e amostras geradas pelo LAIST será depois utilizado por outros parceiros do consórcio para a modelagem do SARS-CoV-2”, acrescenta a Dra. Sílvia Monteiro, pesquisadora do LAIST.

“O COVIDETECT é bastante interessante não só do ponto de vista científico, mas também de saúde pública”, destaca o Dr. Ricardo Santos. A fundamentação para este argumento é fácil de explicar: “Por um lado, o que se sabe é que os vírus continuam a ser excretados nas fezes muito depois de serem negativos nas amostras respiratórias, podendo dar uma indicação mais clara do fim do surto. Por outro lado, como as pessoas assintomáticas ou com sintomas leves não são diagnosticadas, a análise das águas residuais poderá dar uma melhor aproximação da verdadeira extensão do surto epidêmico”, afirma o pesquisador do LAIST.  A Dra. Sílvia Monteiro lembra ainda que “os vírus começam a aparecer nas fezes dias antes do desenvolvimento dos primeiros sintomas” e por isso uma monitorização rápida nas águas residuais poderá evidenciar a circulação do vírus na comunidade mais rapidamente. Isto é importante na fase em que nos encontramos, dado que permitirá perceber se existirá o ressurgimento do SARS-CoV-2 em uma próxima etapa”, afirma a especialista do LAIST.

Os pesquisadores preveem que o projeto, que terá a duração de um ano, tenha uma primeira fase de desenvolvimento e validação do método de cerca de um mês.  Além da monitorização regular de SARS-CoV-2 em efluentes de ETARs [estações de tratamento de águas residuais] identificadas por entidades gestoras, e a reconstrução dos genomas de SARS-CoV-2 excretados e em circulação nas mesmas,  prevê-se que o COVIDETECT permita a modelagem epidemiológica e ecológica dos dados gerados, e posteriormente a transferência de conhecimento para as autoridades competentes,  contribuindo assim para o esforço nacional e mundial de conhecimento da extensão da pandemia. Os dados recolhidos poderão ainda apoiar as decisões das autoridades e melhorar a capacidade de preparação e resposta coordenada.

Além de aferir a circulação do vírus na população antes da sua disseminação na comunidade, este tipo de projeto pode também ajudar a esclarecer a eficiência dos processos de tratamento de águas residuais. “É importante não contaminarmos as águas ambientais, rios, lagos e praias com esgoto, porque senão teríamos uma contaminação recorrente. Por isso é necessário avaliar a eficiência dos tratamentos. E isso será feito, no âmbito deste projeto, para o SARS-CoV-2”, conclui a Dra. Sílvia Monteiro.

Acesse a notícia completa na página do Instituto Superior Técnico de Lisboa.

Fonte: Instituto Superior Técnico de Lisboa. Imagem: Nelson Garrido, Instituto Superior Técnico de Lisboa.

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