Notícia

FPAS: saiba como estas substâncias, presentes no cotidiano, podem afetar sua saúde e o meio ambiente

Substâncias de amplo uso e com capacidade para permanecerem intactas no meio ambiente podem resultar em níveis crescentes de contaminação ambiental

Divulgação

Fonte

FDA, ATSDR, EPA e Universidade de Pádua

Data

sexta-feira, 7 fevereiro 2020 12:55

Áreas

Química Industrial. Saúde.

Segundo a agência reguladora Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, as substâncias per- e polifluoralquilas (PFAS) são uma família de produtos químicos sintéticos, encontrados em uma ampla gama de produtos utilizados pelos consumidores e pela indústria. Existem quase 5.000 tipos de PFAS, alguns dos quais foram mais amplamente utilizados e estudados do que outros. Muitas PFAS são resistentes a graxa, óleo, água e calor. Por esse motivo, a partir da década de 1940, as PFAS têm sido usadas em diversas aplicações, incluindo tecidos e carpetes resistentes a manchas e à água, produtos de limpeza, tintas e espumas de combate a incêndio. Além disso, certas PFAS são autorizadas pelo FDA para uso limitado em panelas, embalagens e processamento de alimentos.

O amplo uso de PFAS e a capacidade de permanecerem intactas no meio ambiente significa que, com o tempo, os níveis de PFAS que foram usadas no passado ​​e as de uso atual podem resultar em níveis crescentes de contaminação ambiental. Também foi demonstrado que a acumulação de certas PFAS ocorre em humanos e animais, conforme encontrado através de exames de sangue. Enquanto a ciência que cerca os potenciais efeitos das PFAS na saúde está se desenvolvendo, as evidências atuais sugerem que a bioacumulação de certas PFAS pode causar sérias doenças.

Efeitos sobre a Saúde

Segundo a Agência para Substâncias Tóxicas e Registro de Doenças (ATSDR) do governo dos Estados Unidos, estudos em humanos expostos às FPAS mostraram que as substâncias podem:

  • Interferir nos hormônios naturais do corpo
  • Aumentar os níveis de colesterol
  • Afetar o sistema imunológico e
  • Aumentar o risco de alguns tipos de câncer.

Onde as PFAS podem ser encontradas?

Segundo a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos, as PFAS podem ser encontradas em:

  • Alimentos embalados em materiais contendo PFAS, processados com equipamentos que usavam PFAS ou cultivados em solo ou água contaminados por PFAS
  • Produtos domésticos comerciais, incluindo tecidos repelentes a manchas e à água, produtos antiaderentes (por exemplo, Teflon), polidores, ceras, tintas, produtos de limpeza e espumas de combate a incêndios
  • Local de trabalho, incluindo instalações ou indústrias de produção (por exemplo, cromagem, fabricação de eletrônicos ou recuperação de óleo) que usam PFAS
  • Água potável, normalmente localizada e associada a uma instalação específica (por exemplo, de fábrica, aterro, estação de tratamento de águas residuais, instalação de treinamento de bombeiros)
  • Organismos vivos, incluindo peixes, seres humanos e outros animais, onde o PFAS tem a capacidade de se instalar e persistir ao longo do tempo.

Entrevista: pesquisas e efeitos

Os efeitos das PFAS sobre a saúde dos seres humanos ainda não são totalmente conhecidos, mas essas substâncias estão sob foco dos pesquisadores há anos. No entanto, pouco tem sido feito para limitar a presença dessas substâncias no meio ambiente. Em entrevista à Universidade de Pádua, na Itália, Nausicaa Orlandi – química industrial e a mais jovem e primeira mulher presidente da Federação Nacional da Ordem dos Químicos e Físicos da Itália – explicou a importância das PFAS:

Universidade de Pádua – O que são exatamente são PFAS?

Nausicaa Orlandi – O acrônimo significa substâncias perfluoralquilas ou substâncias polifluoralquilas: em palavras muito simples, é uma família de moléculas orgânicas caracterizadas pelo fato de terem a maioria dos átomos de hidrogênio substituídos por átomos de flúor. As PFAS geralmente são produzidas com duas vias de síntese: eletrofluoração e telomerização. Dentro dessa família, encontramos moléculas únicas como PFOS – ácido perfluorooctanossulfônico – e PFOA – ácido perfluoroctanóico – além de muitas outras. As PFAS são produzidas em todo o mundo desde a década de 1940 e ainda são usadas ​​em muitas aplicações comuns. O exemplo clássico é de panelas antiaderentes, mas podemos encontrá-las em espumas à prova de fogo, papel e embalagem, cortinas e tapetes, roupas e equipamentos, ceras; e mais produtos de limpeza, amaciantes, tintas, adesivos, produtos médicos, produtos para a pessoa (xampu, condicionadores, filtro solar, cosméticos, cremes dentais, fio dental) e muito mais.

Universidade de Pádua – Que características essa substâncias têm?

Nausicaa Orlandi – Seu amplo uso demonstra evidentemente grande utilidade e versatilidade de aplicação. As PFAS têm a característica de serem particularmente inertes a reações químicas, resistentes ao calor e à abrasão ou ao atrito, e são usadas por fornecer propriedades antiaderentes aos materiais e impermeabilidade à água e aos óleos. Eles também têm uma alta solubilidade em meio aquoso. Dada a ampla variedade de usos, as PFAS, mais cedo ou mais tarde, acabam no meio ambiente e tem uma tendência a se acumular biologicamente. Como existe uma quantidade muito grande de PFAS, isso torna a classificação, a regulação, a análise e sua possível limitação muito complexas. Por exemplo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que existam pelo menos 4.730 substâncias atribuíveis a essa denominação, mas no mesmo documento afirma que a lista ainda está incompleta.

Universidade de Pádua – Quando começou a atenção à PFAS e aos perigos relacionados ao seu uso para a saúde e o meio ambiente?

Nausicaa Orlandi – Na década de 2000. Por exemplo, para as PFAS, é a diretiva européia 2006/122 que leva às primeiras restrições, gradualmente aumentadas pela legislação subsequente, na qual é considerada uma substância de atenção prioritária para a água. Existe, portanto, uma escalada de interesses relacionada ao maior número de informações e dados que, ao longo dos anos, somos capazes de analisar sobre essas substâncias. O nível de regulamentação está aumentando em relação ao alto número de membros dessa família. A partir de PFOS e PFOA, passamos para os compostos carboxilados (como PFNA, PFHPA, PFTEDA, entre outros) ou sulfonatos (PFHXS, PFBS, PFDS, entre outros) e continuamos com os fluortelosômeros e todas as outras PFAS. Em resumo, uma pirâmide a ser percorrida do topo à base, com um aumento na busca de métodos analíticos, avaliações de perigos e quaisquer restrições e regulamentos.

Universidade de Pádua – PFAS são perigosas para a saúde?

Nausicaa Orlandi – As pessoas são expostas a essas substâncias através de uma infinidade de produtos com os quais entram em contato, em alimentos e em situações ambientais ou de trabalho. Em particular, a ingestão através da água potável, a via humana predominante de exposição, desempenha um papel significativo. As PFAS foram encontradas em águas superficiais e subterrâneas, podendo ser absorvidas pela exposição e também através da ingestão, por inalação durante o banho e pela absorção da pele. Os recipientes para alimentos, roupas, móveis e outros itens são outras rotas de exposição possíveis para os seres humanos.

As pesquisas realizadas até o momento revelaram associações entre a exposição às PFAS e os efeitos negativos específicos sobre a saúde humana. Por exemplo, por ocasião de eventos organizados em 2018 pelo Programa Nacional de Toxicologia (NTP) dos Estados Unidos, houve o destaque de possíveis disfunções do sistema imunológico (relacionadas principalmente às PFOS e PFOA), distúrbios endócrinos (particularmente no desenvolvimento de doenças metabólicas, incluindo obesidade e diabetes tipo 2) e problemas com o desenvolvimento cognitivo e neurocomportamental de crianças (como sugerem alguns estudos epidemiológicos). O cenário certamente destaca a necessidade de continuar os estudos nesse campo e intensificar a pesquisa para melhorar a compreensão dos possíveis mecanismos e processos químicos e biológicos através dos quais as PFAS pode ter um impacto na saúde humana.

Acesse a página da FDA sobre FPAS (em inglês).

Acesse a página da ATSDR sobre FPAS (em inglês).

Acesse a página da EPA sobre FPAS (em inglês).

Acesse a entrevista completa na página da Universidade de Pádua (em italiano).

Fonte: FDA, EPA e Daniele Mont D’Arpizio, Universidade de Pádua. Imagem: Divulgação.

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