Notícia

Estudo revela novas conexões entre áreas de mangue de diferentes regiões do Brasil

Pesquisadores combinam simulações em computador e análises genéticas para avaliar grau de proximidade entre árvores, e sugerem que correntes costeiras e animais polinizadores podem contribuir para troca de material genético entre as populações

Jonathan Wilkins via Wikimedia Commons

Fonte

Jornal da Unesp

Data

sexta-feira, 23 junho 2023 10:35

Áreas

Biodiversidade. Biologia. Ciência Ambiental. Desmatamento. Ecologia. Engenharia Florestal. Geografia. Monitoramento Ambiental. Mudanças Climáticas.

Os manguezais são florestas que se formam em regiões onde as águas dos rios se encontram com os mares, e se destacam devido à presença das árvores de mangue que dominam a paisagem estuarina, e exibem suas características raízes aéreas. Por servirem de abrigos para diversas espécies de animais aquáticos nos estágios iniciais de vida, eles são reconhecidos e valorizados como verdadeiros berçários da vida marinha.

Outro importante serviço ecológico que prestam é sua elevada capacidade de estocar e sequestrar carbono do ambiente, o que os torna importantes agentes para a mitigação das mudanças climáticas. E o ser humano também retira outros benefícios desses espaços: os mangues agem como um cinturão de proteção nas regiões costeiras, diminuindo a intensidade das ondas e do vento e protegendo as comunidades e cidades ao longo das regiões onde estão presentes.

Ao contrário do que ocorre com outras espécies vegetais, a dispersão das sementes de mangues, chamadas de propágulos, não ocorre por conta da ação de animais ou do vento. São as águas que as transportam e depositam pela costa. As formas das sementes podem variar, dependendo da espécie. Algumas, por exemplo, são parecidas com vagens alongadas. Após se desprenderem das plantas, os propágulos dos mangues podem ser levados pela maré e alcançarem os canais e, na sequência, o mar aberto. Lá, as sementes ficam flutuando, à mercê das correntezas, até que finalmente encalhem em alguma praia ou estuário onde, se as condições forem favoráveis, poderão se desenvolver.

Sabe-se que as sementes podem chegar a viajar milhares de quilômetros e passar até mais do que um ano na água, sem que percam a capacidade de gerar uma nova árvore. Porém, exatamente por conta dessa capacidade de cobrir grandes distâncias, os estudiosos ainda se perguntam quais são os caminhos que os propágulos percorrem, e de que maneira as populações de mangue estão conectadas.

Em busca de respostas para esse questionamento, pesquisadores do Instituto de Biociências da Unesp, do Campus do Litoral Paulista (CLP-Unesp), combinaram técnicas de simulação computacional e análise genética para conferir a influência das correntes oceânicas nas viagens dos propágulos e verificar em que nível uma população de determinada região influencia a de outras áreas.

A pesquisa foi o trabalho de mestrado do jovem pesquisador André Guilherme Madeira, no programa de Pós-Graduação de Biodiversidade de Ambientes Costeiros. Os resultados foram publicados na revista científica Molecular Ecology Resources. O estudo foi realizado a partir de uma colaboração internacional entre pesquisadores do Brasil e do Japão, integrantes da Rede Internacional de Genética e Conservação de Mangue, grupo do qual o Dr. Gustavo Maruyama Mori, professor do CLP-Unesp e orientador de André, participa desde 2015, quando realizou seu pós-doutorado.

Conservação de manguezais

Para os pesquisadores, compreender a dinâmica de distribuição de propágulos e a conexão entre as diferentes populações de mangue é essencial para permitir desenhar projetos de restauração e proteção desses ecossistemas que se mostrem mais eficientes. “Esses resultados indicam quais áreas fornecem mais propágulos para outras regiões do país, contribuindo com mais material genético para manter a diversidade dessas florestas”, disse André Madeira. Por outro lado, assim como os dados apontam as regiões mais conectadas, eles também destacam as áreas mais isoladas e que, num caso de destruição de habitat, seria mais difícil recuperar.

Embora a importância ambiental e social das florestas de mangue seja notória, elas  seguem sofrendo com desmatamento. É comum que seus espaços sejam revertidos para os mais diversos fins, incluindo projetos de expansão portuária, criação de tanques de aquicultura e carcinicultura ou o avanço da urbanização e da indústria imobiliária. O professor Gustavo Mori destacou que essas árvores são importantes aliadas na mitigação das mudanças climáticas, principalmente por meio de sua ação como sequestradoras de carbono. Ao removerem o carbono da atmosfera e fixá-lo abaixo do solo, elas formam grandes ‘aterros’ subterrâneos. Entretanto, com a destruição do mangue, o carbono volta a ser liberado para atmosfera, e essas áreas, que antes atuavam como sumidouros, se tornam emissoras de gás carbônico.

As pressões antrópicas sobre o ecossistema levaram o Brasil a ser considerado um dos países que mais emite carbono devido ao desmatamento de manguezais. Segundo dados do ICMbio, cerca de 25% da cobertura de manguezais brasileiros já foi destruída desde o começo do século, o que leva à necessidade de ações de restauração e preservação para que a população siga aproveitando os serviços ecossistêmicos fornecidos por suas florestas.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a reportagem completa na página do Jornal da Unesp.

Fonte: Malena Stariolo, Jornal da Unesp. Imagem: Jonathan Wilkins via Wikimedia Commons.

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