Notícia

Estudo expõe como a degradação do ambiente impacta os povos tradicionais da Amazônia Paraense

Pesquisa da UFF também discute o conceito de racismo ambiental

Paygomuyatpu Munduruku (Ocupação Munduruku) via Wikimedia Commons

Fonte

UFF | Universidade Federal Fluminense

Data

segunda-feira, 5 fevereiro 2024 18:10

Áreas

Agricultura. Conhecimento Tradicional. Conservação. Desmatamento. Geografia. Políticas Públicas. Sociedade.

Uma pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) analisou os impactos promovidos pelo avanço do agronegócio e da mineração na Amazônia Paraense e as principais consequências sobre as populações tradicionais e sobre o meio ambiente, articulando os conceitos de racismo ambiental, etnocídio e ecocídio para compreender o cenário de devastação da floresta no Pará. Somente em junho de 2021, o estado registrou 36% do total desmatado na Amazônia.

O estudo ‘Agronegócio e mineração na Amazônia Paraense: Populações tradicionais e racismo ambiental‘, liderado pela Dra. Francisca Marli Rodrigues de Andrade, professora da UFF, em parceria com o Dr. Eunápio Dutra do Carmo, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Dr. Alen Batista Henriques, também da UFF, teve como base uma análise quantitativa que utilizou dados sobre as exportações de commodities do agronegócio e da mineração fornecidos pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e pela plataforma privada Thomson Reuters Eikon Datastream. A investigação avaliou o aumento da produção e exportação de bens produzidos por essas atividades para confirmar a dependência brasileira desse modelo econômico, que resulta em impactos em curto, médio e longo prazo no ambiente e nas culturas que coexistem com a Amazônia.

“Na pesquisa, focamos nos impactos ambientais que essa cadeia produtiva promove. Primeiro, devemos lembrar que as commodities são matérias-primas, do tipo agrícola, pecuarista, mineral ou ambiental, produzidas em larga escala com a finalidade de fornecer material para diferentes setores da sociedade”, explicou a professora Francisca Andrade.

“A forma como esse modelo de produção se instalou no Brasil, tornou-se sinônimo de poluição ambiental e de concentração de terras por parte de grandes grupos econômicos”, afirmou. A sobreposição desses dois fatores concretiza dificuldades múltiplas para as comunidades tradicionais, que envolvem povos indígenas, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, pescadores e comunidades de várzea, como o acesso à terra e aos bens naturais, elementos indispensáveis ao modo de vida e de sobrevivência desses grupos.

De acordo com a professora, com uma orientação voltada exclusivamente para os ganhos econômicos em larga escala, esse modelo de produção expõe a biodiversidade e as populações tradicionais aos riscos provocados pelo desmatamento e pela contaminação de metais pesados nos rios e no ar, além da intoxicação por agrotóxicos utilizados nas plantações, sobretudo de soja, um dos principais cultivos do país — de janeiro a julho de 2023, o Brasil exportou cerca de 72,5 milhões de toneladas de soja conforme publicação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nesse ‘combo da destruição’, como a pesquisadora atribui, é difundida a ideia de que os povos indígenas, com sua cultura de coevolução e proteção da floresta amazônica, precisam ser eliminados para garantir a prosperidade econômica.

A conexão com o racismo ambiental

Recentemente, ao falar sobre as chuvas que atingiram o Rio de Janeiro no início do ano e afetaram todo o litoral do país, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, chamou a atenção da mídia para o conceito de racismo ambiental. A expressão surge também quando analisado o contexto de degradação do meio ambiente na Amazônia. Na pesquisa, o conceito foi utilizado para descrever principalmente as injustiças ambientais em um contexto racializado que é o da Amazônia Paraense: “Quando falamos em combate ao racismo, normalmente pensamos nas lutas sociais do movimento negro e afrodiaspórico. Ainda temos um pouco de dificuldade de associar a racialização das minorias políticas aos povos indígenas”, explicou a professora Francisca Andrade.

No estudo, o conceito se refere ao modo como as comunidades e os povos tradicionais que habitam o coração da floresta são sistematicamente submetidos a situações de contaminação e degradação ambiental. Surge, assim, a inacessibilidade aos bens naturais como água potável, rios e ar limpo, aos alimentos saudáveis e à floresta preservada, essenciais para a sobrevivência dessas comunidades. Com a devastação do ecossistema para suprir a produção exploratória, não apenas a biodiversidade é afetada, mas também as culturas e os modos de vida que se desenvolveram há gerações no seio da Amazônia: “Quando essas populações desaparecem, desaparecerá também uma parte da história da humanidade”.

O futuro da Amazônia Paraense

De acordo com a pesquisadora, “as injustiças ambientais se intensificam quando as populações tradicionais suportam de forma desproporcional os impactos devastadores da dívida ecológica provocada principalmente pelos grandes empreendimentos e pelas grandes corporações”.

Ao longo dos anos, a floresta e as comunidades que resistem nela sofreram e sofrem diversos tipos de violações de direito, incluindo queimadas intencionais e a violência letal, com assassinatos de ambientalistas, de defensores dos direitos humanos e de lideranças comunitárias. Como concluiu a professora, “isso evidencia que a forma como o setor de produção de commodities está instaurado no Brasil gera impactos para as populações tradicionais e também para a biodiversidade, afetando a sua forma mais elementar que é o direito à vida”.

A professora da UFF alertou que essas consequências, em proporções diferentes, afetam toda a sociedade brasileira. A crise climática, que no Brasil tem provocado longos períodos de estiagem nas regiões mais secas e chuvas torrenciais cada vez mais devastadoras nas cidades litorâneas, é um exemplo concreto desse cenário. “A longo prazo, temos um quadro assustador, porque sabemos que o destino é o desaparecimento da natureza e das pessoas que habitam essa região”, declarou.

Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal Fluminense.

Fonte: Francielly Barbosa, Assessoria de Imprensa da UFF. Imagem: ocupação do canteiro de obras da usina de Belo Monte em 2013. Fonte: Paygomuyatpu Munduruku (Ocupação Munduruku) via Wikimedia Commons.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que  cadastrados no Canal Ambiental e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Ambiental, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2024 ambiental t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional em Meio Ambiente, Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account