Notícia

Poluente emitido pela queima de biomassa causa dano ao DNA e morte de célula pulmonar

Nem todas as células morrem. Mas, as que sobrevivem continuam sofrendo danos em seu DNA

Pixabay

Fonte

Karina Toledo, Agência Fapesp. Revista Nature .

Data

domingo, 10 setembro 2017 09:00

Áreas

Saúde, Queimadas, Poluição do ar, Qualidade do ar,

Quando são expostas em laboratório a concentrações comparáveis de poluentes encontrada na atmosfera amazônica em época de queimadas, células do pulmão humano sofrem severos danos em seu DNA e param de se dividir. Após 72 horas de exposição, mais de 30% das células em cultura já estão mortas. Ao que tudo indica, principal responsável pelo estrago  é o reteno, um composto químico pertencente à classe dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs).

“Não encontramos na literatura científica informações sobre a toxicidade do reteno. Espero que nossos achados sirvam como incentivo para que esse composto seja melhor estudado e para que suas concentrações ambientais passem a ser reguladas pelas organizações de saúde”, disse Dra. Nilmara de Oliveira Alves Brito, primeira autora do artigo e bolsista de pós-doutorado da FAPESP. A pesquisa foi conduzida sob a supervisão do professor Dr. Carlos Menck, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP) em conjunto com colaboradores de outras instituições brasileiras renomadas.

De acordo com a pesquisadora, o primeiro passo foi determinar a concentração de poluentes a ser usada nos testes in vitro para mimetizar a exposição sofrida por pessoas que moram no chamado “arco do desmatamento” – 500 mil km² de terras que vão do leste e sul do Pará em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.

Por meio de modelos matemáticos, os pesquisadores calcularam a capacidade de inalação de material particulado pelo pulmão humano no auge do período de queimadas, bem como a porcentagem de poluentes que de fato se deposita no órgão. “A partir dessa massa teórica, determinamos as concentrações que seriam testadas nas culturas celulares”, disse Alves Brito.

“Fizemos a coleta com equipamentos que aspiram o ar e depositam o material particulado fino – com diâmetro menor que 10 micrômetros – em um filtro. Nosso interesse era estudar as partículas pequenas, pois são as que conseguem chegar nos alvéolos pulmonares”, disse Alves Brito.

Como explicouo Dr. Paulo Artaxo, os filtros foram congelados logo após a coleta do material particulado, uma vez que os compostos orgânicos encontrados na pluma de poluição são extremamente voláteis.

“Esse material foi levado para São Paulo e diluído em uma solução nutritiva, que depois foi aplicada nas culturas. Foi usada a mesma proporção de poluentes presente no ar respirado pela população em Porto Velho”, disse Artaxo.

As culturas tratadas com a solução foram comparadas com um grupo de células-controle, que recebeu apenas o solvente usado para extrair os poluentes do filtro. O objetivo era confirmar que os eventuais efeitos adversos observados eram causados pelo material particulado e não pelo solvente.

Alcance mundial

Embora o reteno não seja emitido pela queima de combustíveis fósseis – principal fonte de poluição em regiões urbanas no Brasil –, os pesquisadores destacam que esse composto pode ser encontrado na atmosfera de cidades como São Paulo, em decorrência provavelmente da queima de cana e de outros tipos de biomassa nas proximidades.

No artigo, os pesquisadores ressaltam que a maioria das pesquisas realizadas teve como foco o papel dos combustíveis fósseis na poluição atmosférica. No entanto, aproximadamente 3 bilhões de pessoas em todo o mundo estão expostas a poluentes oriundos da queima de biomassa – decorrente de práticas agrícolas, desmatamento, queima de madeira ou carvão para uso como combustível, em fogões ou aquecimento residencial.

Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado em 2012 apontou que aproximadamente 7 milhões de mortes – uma em cada oito ocorridas no mundo – era resultado de exposição à poluição atmosférica.

“A combinação de incêndio florestal e ocupação humana transformou a queima de biomassa em uma séria ameaça à saúde pública. A maioria dos incêndios florestais ocorre no arco do desmatamento, impactando diretamente mais de 10 milhões de pessoas na região. Muitos estudos identificaram severos efeitos na saúde humana, como aumento na incidência de asma e elevação na morbidade e mortalidade principalmente na população mais vulnerável, composta por crianças e idosos”, apontam os autores.

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