Notícia

Pesquisadores estudam impacto ambiental de nanopartículas de dióxido de titânio

Pesquisadores pretendem conhecer as implicações das nanopartículas de dióxido de titânio na aquacultura e no meio marinho

NasserHalaweh via Wikimedia Commons

Fonte

Universidade do Porto

Data

quarta-feira, 27 setembro 2023 19:25

Áreas

Biodiversidade. Biologia. Ciência Ambiental. Ecologia. Gestão de Resíduos. Materiais. Microbiologia. Monitoramento Ambiental. Pesca. Saúde Ambiental. Toxicologia.

Pesquisadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto, em Portugal, fizeram avanços promissores na consolidação de conhecimento relativo ao impacto que as nanopartículas de dióxido de titânio podem ter na aquacultura e meio marinho.

O estudo, publicado na revista científica Journal of Hazardous Materials e realizado no âmbito do projeto europeu Nanoculture, permitiu compreender os diferentes efeitos provocados pela ingestão de nanopartículas de dióxido de titânio no peixe conhecido como pregado, uma espécie produzida em aquacultura com elevado interesse comercial.

Nanopartículas

As nanopartículas, invisíveis a olho nu, possuem um tamanho que varia entre 1 e 100 nanômetros. Essas partículas existem no mundo natural, podendo também resultar de atividades humanas e são classificadas levando em consideração suas propriedades físicas e químicas. Dependendo de sua composição, tamanho, forma, ou tipo de revestimento, as nanopartículas apresentam características únicas, podendo ser aplicadas extensivamente em diversas áreas, como a medicina, a engenharia e a agricultura. Por isso, em um estudo de impacto de nanopartículas, é fundamental considerar estas particularidades.

Como consequência do seu uso generalizado, as nanopartículas persistem cada vez mais nos ecossistemas, o que para muitos pesquisadores representa uma motivação para analisar o seu impacto ambiental. Este é o caso da Dra. Elza Fonseca, pesquisadora principal do estudo da Universidade do Porto, que explicou que “a utilização inevitável de nanopartículas nas nossas vidas enquanto consumidores e sua subsequente presença no meio ambiente, faz-nos questionar quais as implicações para os organismos aquáticos, incluindo aqueles criados em aquacultura, e consequentes riscos associados ao consumo de produtos contaminados”.

Como realça o estudo, a avaliação do impacto das nanopartículas é essencial para garantir a viabilidade dos ecossistemas marinhos, bem como de produtos de aquacultura seguros.

Um projeto único

A escolha da espécie analisada é um dos aspectos mais inovadores deste estudo. Apesar da literatura estar bem consolidada no que diz respeito aos efeitos adversos de nanopartículas em organismos modelo, o mesmo não acontece em espécies comercializadas para consumo humano.

O pregado é um peixe achatado bentônico, isto é, vive no fundo dos mares, e é muito apreciado pelo seu sabor delicado. Dado o seu estilo de vida em associação com os sedimentos marinhos, torna-se vulnerável à exposição a nanopartículas de dióxido de titânio, que ocorrem em altas concentrações nestes sedimentos, dispersas via produtos de cuidado pessoal nos quais são aplicadas, como protetores solares, cremes e pastas de dentes.

A equipe de pesquisa decidiu analisar o efeito da ingestão de nanopartículas de dióxido de titânio de dois tamanhos diferentes, quantificando a sua presença nos tecidos de pregados expostos e não expostos. Adicionalmente, dado o seu papel fundamental na destoxificação do organismo, foi avaliado o estado do fígado dos indivíduos em estudo. “Tentamos ir um pouco mais além e entender se a resposta dos peixes poderia mudar ao longo do tempo, dependendo do tamanho da nanopartícula, e ainda perceber de que forma as alterações morfológicas e moleculares observadas no fígado estariam relacionadas”, explicou a Dra. Elza Fonseca.

Resultados

A pesquisadora do CIIMAR esclareceu que, embora tenham ocorrido alterações ao nível do fígado, há lugar para boas notícias. Apesar de as nanopartículas de dióxido de titânio estarem cada vez mais presentes no ambiente, parecem não ser tão tóxicas como outras, como é o caso das nanopartículas de prata, uma vez que estes peixes têm a  capacidade de excretar estas substâncias através das fezes.

No entanto, a Dra. Elza Fonseca disse que “o fato destas nanopartículas não se acumularem nos tecidos examinados, não significa que não perturbem o equilíbrio do organismo até serem excretadas”. A cientista alertou ainda que a presença destas nanopartículas no ambiente não deve ser desvalorizada, uma vez que sua libertação exagerada e a exposição crônica às mesmas poderão levar ao aparecimento de doenças ou condições em longo prazo, tanto em organismos selvagens como de aquacultura.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade do Porto.

Fonte: Ana Carolina Sousa, CIIMAR. Imagem: peixe pregado (turbot Scophthalmus maximus). Fonte: NasserHalaweh via Wikimedia Commons.

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