Notícia

Pesquisadores da UFMG alertam para efeitos da presença do novo coronavírus no esgoto

Nota técnica do INCT ETEs Sustentáveis trata do despejo de carga viral nos rios e recomenda proteção a trabalhadores de estações de tratamento

Foca Lisboa, UFMG

Fonte

UFMG | Universidade Federal de Minas Gerais

Data

segunda-feira, 30 março 2020 15:35

Áreas

Microbiologia. Saneamento. Saúde.

Trabalhos recém-publicados na revista científica The Lancet Gastroenterology & Hepatology mostraram que pacientes com a COVID-19 apresentaram em suas fezes o RNA do Sars-CoV-2, o novo coronavírus, causador da doença. Em cerca de metade dos pacientes investigados, a detecção do RNA viral se deu por cerca de 11 dias após as amostras do trato respiratório testarem negativo. Isso indica a replicação ativa do vírus no sistema gastrointestinal e a possibilidade da transmissão via feco-oral ocorrer mesmo após o trato respiratório estar livre do vírus. Há evidências também da presença de outros coronavírus (como o Sars-CoV e o Mers-CoV) nas fezes e de sua capacidade de permanecerem viáveis em condições que facilitariam a transmissão via feco-oral.

Nota técnica publicada na última semana pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) ETEs Sustentáveis, que se dedica a pesquisas e ações relacionadas ao tratamento de esgoto e é sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), menciona o estudo divulgado pela revista The Lancet para defender que uma das estratégias para detecção da presença de doença ou infecção viral na população (mesmo entre portadores assintomáticos) é o monitoramento do esgoto. O INCT ETEs Sustentáveis já vem realizando estudos do gênero, concentrados, num primeiro momento, em bactérias resistentes a antibióticos e outros potenciais patógenos conhecidos.

O professor Dr. Carlos Chernicharo, coordenador do INCT ETEs Sustentáveis, alerta sobre a importância dos cuidados que devem ser tomados por trabalhadores e pesquisadores do setor. “Os profissionais que atuam na área de esgotamento sanitário, como os que operam as redes coletoras e estações de tratamento, e os pesquisadores que manuseiam amostras de esgoto não podem abrir mão de medidas como a utilização de equipamentos de proteção individual, a fim de evitar a ingestão inadvertida de esgoto, ainda que por meio da ingestão de aerossóis [partículas finíssimas, sólidas ou líquidas, suspensas no ar], para evitar a contaminação”, afirma o pofessor, que é recém-aposentado do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia da UFMG. De acordo com a nota técnica, medidas de segurança ocupacional, já adotadas como padrão, são eficazes na proteção contra o coronavírus e outros patógenos presentes no esgoto.

Vírus nos rios

Outra implicação importante da possibilidade de transmissão feco-oral do Sars-CoV-2 é que, no período de duração da pandemia, uma enorme carga viral pode estar sendo despejada nos rios. Isso está diretamente relacionado à situação sanitária do Brasil – apenas 46% do esgoto no país é tratado, segundo a edição de 2018 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). “Como consequência, poderá aumentar a disseminação do Sars-CoV-2 no ambiente e a infecção da parcela mais vulnerável da população, que não tem acesso a infraestrutura adequada de saneamento básico”, afirma a nota técnica, que é assinada pelo Dr. Carlos Chernicharo e pelos colegas de INCT Dr. César Mota e Dra. Juliana Araújo, também professores da UFMG.

O texto recomenda ações coordenadas urgentes dos profissionais das áreas de saúde, saneamento, universidades e governos no cenário atual de emergência de saúde pública, que pode se agravar ainda mais em função da desigualdade social e do elevado déficit na prestação de serviços de saneamento no Brasil. A nota ressalta que cerca de 100 milhões de brasileiros não têm acesso a serviços de coleta de esgoto e 35 milhões não usam água tratada, também segundo o SNIS 2018.

Acesse a publicação “Prolonged presence of SARS-CoV-2 viral RNA in faecal samples” (em inglês).

Acesse a publicação “Enteric involvement of coronaviruses: is faecal–oral transmission of SARS-CoV-2 possible?” (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da UFMG.

Fonte: Itamar Rigueira Jr., UFMG. Imagem: Centro de pesquisa da UFMG na ETE Arrudas, da Copasa. Fonte: Foca Lisboa, UFMG.

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