Notícia

Pesquisadores apontam caminhos para a gestão de resíduos sólidos urbanos

Pesquisadores propuseram a criação de um fundo nacional de créditos de carbono para financiar iniciativas voltadas a reduzir o acúmulo de lixo

Dr. Michel Xocaira Paes

Fonte

Agência FAPESP

Data

quinta-feira, 15 fevereiro 2024 12:40

Áreas

Cidades. Ciência Ambiental. Economia. Economia Solidária. Educação Ambiental. Energia. Engenharia Ambiental. Gestão Ambiental. Gestão de Resíduos. Logística Reversa. ODS. Sociedade. Sustentabilidade. Tecnologias. Toxicologia.

Apenas a cidade de São Paulo produz cerca de 20 mil toneladas de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) todos os dias, sendo 12 mil toneladas domiciliares e 8 mil toneladas da limpeza urbana, decorrentes de atividades de varrição, recolhimento de restos de feiras, podas e capinas. Considerando somente as 12 mil toneladas produzidas nas residências, isso dá uma média de aproximadamente 1 quilo de resíduos sólidos por habitante ao dia.

O padrão nacional de composição dos RSU é de 50% de matéria orgânica, 35% de recicláveis e 15% de rejeitos. Se houvesse um manejo adequado – com o orgânico sendo aproveitado para produção de adubo e biogás, o reciclável sendo efetivamente reciclado e até mesmo parte do rejeito sendo utilizada mediante soluções criativas –, o país reduziria sua taxa de emissão de gases de efeito estufa e teria uma fonte adicional de receita, graças à prática da economia circular, que transforma resíduos em recursos. Mas a taxa de reaproveitamento dos RSU no Brasil ainda é extremamente baixa, de apenas 2,2%.

“Caso sejam adotadas ações de melhoria, como tecnologias que integrem compostagem, reciclagem e o aproveitamento do metano dos aterros para a geração de bioenergia, as emissões produzidas pelos sistemas municipais de gestão de resíduos sólidos poderão ser reduzidas de 6%, segundo uma perspectiva bem conservadora, a 70%, em uma mais otimista. Isso corresponderia a uma redução de 4,9 a 57,2 milhões de toneladas de CO2 equivalente, aportando benefícios econômicos anuais de US$ 44 milhões a US$ 687 milhões em créditos de carbono”, disse o Dr. Michel Xocaira Paes, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ele é o primeiro autor de um estudo sobre o tema publicado na revista científica Habitat International. O artigo é fruto da pesquisa de pós-doutorado do Dr. Michel Paes, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A pesquisa também recebeu apoio por meio de um projeto coordenado por seu então supervisor, Dr. José Antonio Puppim de Oliveira.

“Nós estudamos o manejo dos RSU em seis cidades brasileiras. E escolhemos quatro delas para exemplificar, no artigo, caminhos diversos para a inovação na gestão. Essas cidades são Harmonia (RS), São Paulo (SP), Ibertioga (MG) e Carauari (AM). São todas muito diferentes sob vários parâmetros: regiões, territórios, populações, índices de desenvolvimento humano etc. São diferentes também em seus sistemas de gestão dos RSU. Mas cada uma delas apresenta pelo menos um elemento inovador muito interessante. Por isso, decidimos estudá-las”, contou o Dr. Michel Paes à Agência FAPESP.

Segundo o pesquisador, tanto Harmonia quanto Ibertioga apresentam percentuais muito altos de reaproveitamento dos resíduos – de 56% e 67%, respectivamente. Harmonia realiza ainda a compostagem doméstica e desvia quase metade dos resíduos orgânicos dos sistemas de coleta e tratamento dos RSU. Porém, enquanto em Harmonia a gestão é feita pela iniciativa privada, com forte destaque para a educação ambiental e a participação social da população na separação dos RSU e na compostagem doméstica para a produção de alimentos orgânicos, em Ibertioga toda a operação é pública e foi observada uma expressiva capacidade de governança local, além de importante apoio do governo estadual para a implementação das unidades de triagem e compostagem nas cidades do Estado. Os resultados são bem positivos em ambos os casos.

Em São Paulo, além das inovações mencionadas no estudo, iniciativas novas, ainda de pequeno porte, mas com potencial de serem replicadas, têm aparecido na cidade. É o caso da Realixo, empresa criada por jovens com formação universitária engajados em práticas de preservação ambiental, economia circular e sustentabilidade. Mediante pagamento mensal, a empresa recolhe semanalmente resíduos orgânicos ou recicláveis nos domicílios dos usuários. E, depois da triagem, destina os materiais a instituições parceiras, para compostagem ou reciclagem.

Na outra extremidade do espectro urbano, Carauari é um município amazônico com apenas 28 mil habitantes: 21,5 mil na área urbana e 6,5 mil nas áreas rurais e florestais. Localiza-se à margem do rio Juruá, a duas horas de avião ou cinco dias de barco de Manaus. “Mas a distância engana. Em vez de uma população desassistida, o que encontrei lá foi uma população muito organizada, empoderada e engajada no manejo comunitário dos recursos naturais e em iniciativas de bioeconomia, economia circular e sustentabilidade. Há um forte protagonismo das associações e organizações locais em parceria com organizações não governamentais, universidades, governos e iniciativa privada”, relatou o Dr. Michel Paes.

Publicado na revista científica npj Urban Sustainability, o estudo feito em Carauari apresentou informações detalhadas sobre as atividades das comunidades locais, baseadas principalmente na pesca e manejo do pirarucu e na extração de sementes para a produção de óleos vegetais. Integrados por meio de economia circular, os resíduos gerados em uma atividade, em vez de impactarem o meio ambiente, são convertidos em recursos para implementar outra atividade.

“Não existe varinha mágica para resolver o problema dos resíduos. Mas encontramos, nas quatro cidades, boas práticas, que podem ser sintetizadas em um projeto abrangente, apoiado sobre quatro pilares: capacidade técnica e política local; educação ambiental e participação social da população; colaboração entre os três níveis de governo [federal, estadual e municipal]; e parcerias locais para inovação”, resumiu o pesquisador.

“Desses pilares derivamos a proposta de criação de um fundo nacional de crédito de carbono, a ser gerenciado pelo governo federal com a participação dos estados e municípios. Esse fundo poderia financiar as iniciativas de redução da geração dos resíduos [por meio, por exemplo, da compostagem doméstica]; transformação de resíduos em recursos, por meio de economia circular; e desenvolvimento e implementação de tecnologias locais, como a compostagem, reciclagem e o aproveitamento do biometano dos aterros. Tudo isso sob a ótica da redução das emissões de gases de efeito estufa e do estímulo à economia circular e de baixo carbono. É um modelo que não só poderá ser implantado no Brasil, mas também inspirar soluções semelhantes em outros países em desenvolvimento, na América Latina, África, Ásia e BRICS [grupo de países de mercado emergente, entre eles o Brasil]”, concluiu o Dr. Michel Paes.

Acesse o artigo científico completo publicado na revista ‘Habitat International’ (em inglês).

Acesse o artigo científico completo publicado na revista ‘npj Urban Sustainability’ (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Agência Fapesp.

Fonte: José Tadeu Arantes, Agência FAPESP. Imagem: Central Mecanizada de Triagem Carolina Maria de Jesus, no município de São Paulo. Fonte: Dr. Michel Xocaira Paes.

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