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Pesquisa avalia o ciclo do mercúrio natural e antrópico na Amazônia

Na Amazônia há grande incidência do mercúrio de origem antrópica, como o decorrente do garimpo

Divulgação, UFRJ

Fonte

FAPERJ | Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

Data

terça-feira, 22 outubro 2019 08:20

Áreas

Biodiversidade. Desmatamento. Recursos Naturais. Saúde.

Guardiã do maior bioma do Brasil, com área superior a cinco milhões de quilômetros quadrados, segundo dados do IBGE, a Amazônia abrange grande parte do noroeste brasileiro e se estende até a Colômbia, Bolívia, Peru e outros países da América do Sul. Maior floresta tropical do mundo, abriga cerca de 2.500 espécies de árvores, o equivalente a 1/3 das espécies florestais tropicais do mundo, outras 30 mil espécies de plantas, e abriga mais de quatro mil espécies de animais, 20% de toda a fauna do planeta, incluindo muitas espécies endêmicas. Com seis milhões de quilômetros quadrados, 1.100 afluentes e habitat de 85% das espécies de peixes da América do Sul, a bacia hidrográfica amazônica também é a maior do mundo. Seu renomado e principal rio, o Amazonas, possui vazão de mais de 200 milhões de litros de água por segundo. A umidade da bacia Amazônica é carregada para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, chamada de rios voadores, que permitem diversas atividades econômicas que dependem das chuvas nestas regiões. Como se não bastasse, a Amazônia ainda tem abundantes riquezas minerais, incluindo ouro, diamantes, nióbio, cobre e fosfato, entre outros.

Toda essa rica biodiversidade vem seduzindo, ao longo do tempo, cientistas mundo afora e, ainda assim, estima-se que haja outras milhares de espécies a serem descobertas, das quais 4.000 apenas entre as árvores. Por outro lado, a possibilidade de negócios com extração de madeira nobre, a expansão da fronteira agrícola e extração de ouro, diamantes e minerais nobres para a indústria sempre gerou conflito na região, em especial quando a atividade ameaça as reservas indígenas. Em junho passado, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) alertou para o crescimento do desmatamento seguido de queimadas na Amazônia e o assunto ganhou repercussão internacional, criando, inclusive, mal-estar diplomático, ameaças de sanções comerciais internacionais.

Em total evidência nos últimos meses, a Amazônia está sob a lupa da pesquisadora Dra. Daniele Kasper há 17 anos, desde seu estágio na graduação em Ciências Biológicas, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Professora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela trabalha em ambientes aquáticos ainda pouco afetados por distúrbios antrópicos, nas bacias dos rios Negro e Solimões. “Isso é uma oportunidade extremamente rara no mundo. Há poucas grandes bacias hidrográficas, com rios e extensas planícies de inundação, ainda em condições pouco impactadas”, explica a pesquisadora. Seu objetivo é avaliar o ciclo natural do mercúrio, onde o ciclo biogeoquímico possivelmente ocorre de uma forma mais semelhante ao que seria natural. Elemento químico de origem natural, o mercúrio está presente em todos os biomas, inclusive na região amazônica. Mas, além da presença do elemento de origem natural, na Amazônia há grande incidência do mercúrio de origem antrópica, como o decorrente do garimpo, por exemplo.

Doutora em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Daniele explica que entre os metais em geral o mercúrio é o único que sobre biomagnificação trófica, ou seja, suas concentrações vão aumentando nos organismos vivos ao longo da cadeia alimentar, sendo mais altas nos organismos que ocupam o topo das cadeias alimentares, incluindo o homem. Algo parecido com o acúmulo progressivo que ocorre com os Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), como o DDT (sigla de diclorodifeniltricloroetano, apontado como o primeiro pesticida moderno, usado em grande escala), por exemplo. Segundo a bióloga, por não ser um elemento essencial ao metabolismo, as consequências da intoxicação por mercúrio geram problemas neurológicos e imunológicos, mesmo em baixas concentrações; sendo um elemento capaz, inclusive, de ultrapassar a barreira placentária e atingir o feto.

A ecóloga explica que a toxicidade do mercúrio é resultado da ação e interação de três fatores ecotoxicológicos principais. Primeiro, suas condições de exposição, ou seja, a forma química sob a qual o metal se apresenta e a via de exposição ao organismo (pelas vias respiratórias, pela ingestão de alimento contaminado ou absorção cutânea). Outro fator determinante são as características físicas e químicas do ambiente onde o mercúrio se encontra, que afetam diretamente a especiação química do metal e a fisiologia dos organismos. Por último, as espécies de organismos que estão expostas ao elemento.

Seus estudos sobre “A importância da dinâmica das áreas alagáveis para a formação de metilmercúrio na Amazônia Central” tiveram início durante o doutorado e continuaram quando ela foi contemplada no Programa Pós-Doutorado Nota 10 da FAPERJ de 2016. Uma das observações da biofísica foi que em algumas regiões da Amazônia ocorrem naturalmente concentrações mais elevadas de mercúrio, devido às características naturais do ecossistema, como nas águas pretas do Rio Negro, por exemplo. Entretanto, ela verificou que no caso de alterações antrópicas, o mercúrio pode ser adicionado ao ecossistema ou ter o seu ciclo natural modificado em decorrência das mudanças nas condições ambientais. Alterações na paisagem, sejam decorrentes do garimpo, desmatamento, queimada ou até mesmo pela abertura de uma estrada, favorecem o aumento da erosão de partículas e lixiviação para os sistemas aquáticos. Tais atividades antrópicas modificam as transformações químicas do mercúrio e o transfere do ambiente terrestre para o aquático, tornando-o disponível para absorção pela biota, incluindo o ser humano. “Portanto, mesmo que o garimpo não use mercúrio na sua atividade, pode estar contribuindo para as mudanças no ecossistema, que levarão a mudanças no ciclo, já que a atividade também provoca um aumento de material particulado em suspensão nos sistemas aquáticos, que carrega o mercúrio adsorvido às partículas”, explica a especialista.

O trabalho mais recente da equipe de pesquisa foi publicado na revista científica Chemosphere.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da FAPERJ.

Fonte: Paula Guatimosim, FAPERJ. Imagem: Divulgação, UFRJ.

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