Notícia
Metodologia de mapeamento do solo adaptada por pesquisador da UFMS é usada em ação humanitária em Angola
Metodologia geofísica de uso de um equipamento chamado EM38 para realizar mapeamentos do solo, por meio de indução de condutividade elétrica, possibilita testar a eficiência na detecção de elementos que indiquem a presença de diferentes estruturas no solo
Divulgação, UFMS
Fonte
UFMS | Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Data
quarta-feira, 2 março 2022 13:00
Áreas
Geociências. Geografia. Geofísica. Sensoriamento. Tecnologias.
Há mais de 20 anos estudando as lagoas salinas do Pantanal, o Dr. Ary Tavares Rezende Filho, professor da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pesquisa a variabilidade química da água e sua influência no comportamento e evolução do solo. O professor adaptou a metodologia geofísica de uso de um equipamento chamado EM38 para realizar mapeamentos do solo, por meio de indução de condutividade elétrica. O ajuste possibilita testar a eficiência na detecção de elementos que indiquem a presença de diferentes estruturas no solo, em uma determinada área. Foi a partir do questionamento de um estudante do Curso de Geografia, no qual o professor ministra a disciplina de Pedologia, que o pesquisador testou a possibilidade de uso do equipamento para contribuir na localização de ossadas humanas.
Com a metodologia adaptada e a realização de alguns testes para tentar mapear alterações no solo, causadas por influência dos corpos enterrados, o pesquisador pôde dividir o conhecimento com o Governo Angolano, que busca localizar ossadas resultantes da Guerra Civil. “Todas as pesquisas feitas no Pantanal foram com o intuito de entender a formação das lagoas salinas do Pantanal da Nhecolândia, para preservá-la para a humanidade […] destaco, ainda, que uma pesquisa de base que não gera efeito imediato à sociedade, pois seus resultados vão nortear novas pesquisas aplicadas. De repente, você se depara com um desafio: de aplicar esse conhecimento, ou seja, testar a metodologia adaptada com o uso do aparelho EM38 para efeito imediato, neste caso, detectar anomalias geoquímicas provenientes de ocultação de cadáveres. Isso é gratificante”, disse o professor.
Sobre a viagem a Angola, em novembro do ano passado, ele completa: “Tem a questão humanitária […]. Quando os familiares não sabem onde está [o corpo], eles têm esperança de encontrar vivo. Neste contexto que a localização dos restos mortais (ossadas) é importante, pois a família põe fim a uma dor que pode cicatrizar e se transformar em saudade”, avaliou o Dr. Ary Tavares Rezende Filho.
Pesquisa
Para as pesquisas no Pantanal, o equipamento se mostrou eficiente, contudo, a informação é de que o aparelho detecta condutores. Então, o osso, em si, não é um material passível de ser detectado. O que o aparelho aponta é a mudança da estrutura do solo, por meio da presença de um conjunto de elementos ou estrutura condutora que faça com que a corrente elétrica transite mais rápido, como ferro, fio de cobre e soluções salinas.
“O corpo humano tem uma certa quantidade de sais minerais. Então, em um solo em que a taxa de elementos químicos é homogênea, a inserção dessa quantidade de sais minerais em um ponto isolado vai modificar o comportamento da condutividade elétrica. Com isso, o aparelho EM38 detecta, dando posicionamento de anomalia. No caso da ossada, a hipótese mais provável é que isso [anomalia] ocorra a partir do necrochorume – substância produzida pela decomposição do corpo humano – ”, explicou o pesquisador.
Mesmo sem a validação final da metodologia, o Governo Angolano convidou o pesquisador para uma missão científica de 30 dias para tentar contribuir na localização das ossadas. O trabalho foi realizado em nove sítios, e as informações coletadas são parciais, mas satisfatórias. Em um dos sítios, foi feita uma escavação parcial, na qual foi localizada uma ossada que está passando pela análise de DNA para confirmar se faz partes das vítimas desaparecidas durante o conflito da Guerra Civil. Os resultados ainda não estão disponíveis, e, por enquanto, uma nova viagem ao país ainda não foi confirmada.
Segundo o pesquisador, reunindo todas as experiências vivenciadas até agora, a pretensão é apresentar um novo projeto para trabalhar com mapeamento de solo em diferentes situações ambientais com o uso dessa metodologia, voltado, também, à questão das ossadas humanas, no intuito de validar as hipóteses. “Uma outra possibilidade é ser chamado pela própria perícia para fazer um trabalho de mapeamento. Neste caso, podemos verificar a localidade identificada pelos dados do aparelho EM38, por meio de escavação detalhada para coletar amostras de solo para análises da composição química do solo, e cruzar os resultados para validação da metodologia. Neste caso, seria um estudo maior, amparado por um projeto de pesquisa envolvendo um grupo maior de pesquisadores e acadêmicos de graduação e pós-graduação”.
Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Fonte: Christiane Reis, UFMS. Imagem: Divulgação, UFMS.
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