Notícia

Lançada plataforma sobre mercúrio e garimpo na região pan-amazônica

Nova plataforma abrange não só a Amazônia brasileira mas toda a Pan-Amazônia (que inclui outros países com floresta amazônica) e mostra a mesma pressão sobre povos indígenas na Colômbia, Guyana e Bolívia

Reprodução, Observatório do Mercúrio

Fonte

Fiocruz | Fundação Oswaldo Cruz

Data

quinta-feira, 22 julho 2021 06:20

Áreas

Geociências. Gestão Ambiental. Monitoramento Ambiental. Políticas Públicas.

As violentas invasões de garimpeiros em terras indígenas, como as sofridas pelo povo Munduruku, no Pará, e pelos Yanomami, em Roraima, não são exceção, mas sim uma amostra do cenário atual da Amazônia. O Observatório do Mercúrio, plataforma georreferenciada lançada no último dia 20 de julho, reúne estudos sobre o mercúrio e dados referentes à exploração de ouro e mostra a grande quantidade de garimpo legal e ilegal em Terras Indígenas (TI).

A plataforma abrange não só a Amazônia brasileira mas toda a Pan-Amazônia (que inclui outros países com floresta amazônica) e mostra a mesma pressão sobre povos indígenas na Colômbia, Guyana e Bolívia. Além da terra Munduruku, no Pará, é possível localizar atividades de mineração, por exemplo, na área dos Menkragnotí; na TI Baú, do povo Kayapó; e na TI Xikrin do Cateté. No Maranhão, há garimpo bem no limite da TI Alto Turiaçu; no Amazonas, nas TIs Marapi, Rio Biá, Waimiri-Atroari, entre outras.

A condição se repete em todos os estados brasileiros e países com floresta amazônica, como a TI Pilón Lajas, na Bolívia Na plataforma é possível fazer uma navegação georreferenciada por meio de camadas, o que facilita a localização espacial das atividades mineradoras. Por exemplo, ao escolher as camadas Municípios, Mineração, Mineração ilegal, Contaminação por mercúrio em humanos e Contaminação por mercúrio em peixes, é possível visualizar as regiões onde foram feitos estudos que apontam contaminação por mercúrio e as áreas de garimpo. No Pará, por exemplo, a maior concentração de garimpo legal e ilegal está na região de Itaituba, a oeste do estado, a mais de 1.200 quilômetros de Belém, inclusive em Áreas Protegidas (outra camada disponível).

No caso de Manaus, o ponto de garimpo mais próximo mostrado pelo Observatório fica perto do município de Maués, a mais de 260 quilômetros da capital amazonense em linha reta e acessível somente por balsa pelo rio Amazonas.

Junto com o garimpo e a violência chega também o mercúrio, metal utilizado para separar o ouro de outros sedimentos. Ele se soma ao mercúrio que também está presente na natureza e é liberado à atmosfera pelo desmatamento, queimadas e alterações provocadas pelo homem, alcançando níveis prejudiciais à saúde.

Em três comunidades Munduruku, 6 em cada 10 indígenas apresentaram níveis de mercúrio acima dos limites máximos estabelecidos como seguros por agências de saúde internacionais. Essas comunidades ficam entre os municípios de Itaituba e Trairão, no Médio Tapajós, no Pará. Na plataforma, é possível visualizar registros dos estudos feitos sobre a contaminação com humanos e com os peixes. Em um deles, realizado com uma comunidade ribeirinha próxima à TI Munduruku, foi registrado um nível 12 vezes acima do limite máximo considerado seguro. “O mercúrio é mais um problema em uma cadeia de vulnerabilidades”, afirma a pesquisadora Dra. Sandra Hacon, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz).

A Dra. Sandra é uma das autoras de um estudo sobre o impacto do mercúrio na Amazônia Oriental, realizado em 2019, que detectou níveis de contaminação em fios de cabelos de todos os indígenas participantes da pesquisa, sem exceção – crianças, adultos e idosos.

A ativista do movimento indígena de Roraima Jama Wapichana tem acompanhado de perto a complexa e criminosa cadeia do garimpo, e cita os problemas enfrentados pelos Yanomami. “Os parentes dessa etnia acabam por sair do território destruído pelo garimpo e vão para as cidades com a família toda, sem qualquer apoio. A falta de um mínimo de condições de vida os leva ao álcool, ao suicídio. Muitos se jogam na frente de veículos na estrada para se matar”, disse a ativista.

Por trás do garimpo fica o rastro de destruição e a perda da cultura e do modo de vida de diversos povos. “Não falo só dos indígenas. A população ribeirinha e a das cidades depende da saúde dos nossos rios. O principal deles, o rio Branco, recebe a contaminação do garimpo por meio de seus afluentes e, por sua vez, vai desaguar no rio Negro. O rastro de destruição é muito grande.” “Com a publicação do Observatório do Mercúrio, as evidências do problema premente do uso ilegal de mercúrio no garimpo ficam públicas”, afirmou Marcelo Oliveira, especialista de conservação do WWF-Brasil e líder da agenda de combate ao garimpo ilegal.

“A ambição é que a reunião desses dados e informações sobre a Pan-Amazônia possa servir de apoio técnico-científico à elaboração e implementação de políticas públicas e à tomada de decisões que promovam a legalidade e a conservação da região e respeitem a autonomia e os direitos dos povos tradicionais locais, incluindo indígenas, ribeirinhos e quilombolas.” Jama explicou que, além de comando e controle, faltam políticas públicas que também garantam a autonomia, saúde e vida digna aos povos indígenas. “Os povos indígenas precisam de segurança e instituições fortes a favor deles para que possam continuar lutando por suas terras e enxergando um futuro digno em seu modo tradicional de viver”, concluiu Jama Wapichana.

Acesse a página do Observatório do Mercúrio.

Acesse a notícia na página da Fiocruz.

Fonte: Ensp/Fiocruz. Imagem: Reprodução, Observatório do Mercúrio.

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