Notícia

Ecossistemas tropicais são mais dependentes de insetos aquáticos emergentes, o que pode representar maior risco

Pesquisadores descobriram que os ecossistemas florestais tropicais são mais dependentes de insetos aquáticos do que os ecossistemas florestais temperados e, portanto, são mais vulneráveis a perturbações nas ligações entre a terra e a água

Dr. Liam Nash, Universidade Queen Mary de Londres

Fonte

Universidade Queen Mary de Londres

Data

terça-feira, 17 outubro 2023 11:00

Áreas

Biodiversidade. Biologia. Ecologia. Engenharia Florestal. Geografia. Monitoramento Ambiental. Recursos Naturais. Sustentabilidade. Zoologia.

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Queen Mary de Londres, no Reino Unido, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), descobriu que os ecossistemas florestais tropicais são mais dependentes de insetos aquáticos do que os ecossistemas florestais temperados e, portanto, são mais vulneráveis a perturbações nas ligações entre a terra e a água.

O estudo, publicado na revista científica Ecology Letters, é o primeiro a comparar diretamente as interconexões entre a terra e a água em ambientes tropicais e temperados através do surgimento de insetos aquáticos. Os pesquisadores usaram uma técnica chamada ‘análise de isótopos estáveis’ para rastrear o sinal de presas aquáticas nos tecidos de predadores artrópodes, como aranhas, saindo da água para a terra, ao redor de riachos nas florestas inglesas, galesas e escocesas e nas florestas tropicais amazônica e atlântica do Brasil.

Eles descobriram que as aranhas consumiam mais presas de insetos aquáticos nos trópicos do que no Reino Unido, resultando em maior diversidade alimentar geral nas teias alimentares tropicais, em terra. Os resultados indicaram que os animais terrestres tropicais são mais dependentes e afetados pelos insetos aquáticos emergentes. Isto sugere que os ambientes tropicais são mais vulneráveis a futuras perturbações nas interconexões entre a terra e a água.

“As nossas descobertas mostram que não podemos simplesmente aplicar o conhecimento da investigação em zonas temperadas para proteger os ecossistemas tropicais”, disse o Dr. Pavel Kratina, autor sénior do estudo e professor de Ecologia na Universidade Queen Mary de Londres. “O fato de os ecossistemas tropicais serem mais vulneráveis a perturbações nas ligações entre a terra e a água é preocupante, tendo em conta as crescentes pressões humanas sobre os ecossistemas tropicais de água doce, que estão entre os mais ameaçados do mundo.”

Os insetos aquáticos emergentes podem tornar-se um caminho para que os impactos humanos negativos se movam de um ambiente para outro. Por exemplo, poluir um riacho pode reduzir o número de insetos, o que, por sua vez, pode reduzir a disponibilidade de alimentos nutritivos para os predadores terrestres. Os insetos aquáticos tropicais estão sob ameaça de declínios catastróficos devido à atividade humana e às alterações climáticas – os resultados dos pesquisadores sugerem que isto teria consequências em cascata nos ambientes tropicais.

‘Tampas ribeirinhas’ são faixas de terra protegidas em torno dos cursos de água que contribuem para proteger as ligações entre a terra e a água. No entanto, o tamanho destas faixas tampão (normalmente entre 5 e  100 metros) é considerado inadequado para a proteção de grande parte da biodiversidade terrestre em torno da água. No Brasil, as regulamentações em torno dos buffers foram até flexibilizadas ao longo da última década. O estudo dos pesquisadores sublinhou a necessidade de uma maior proteção das zonas ribeirinhas e de uma consideração mais ampla das ligações entre os ecossistemas, em vez de considerar diferentes habitats isoladamente, especialmente nos trópicos.

“Nossa pesquisa nos levou a partes remotas do mundo, desde a selva amazônica e a bacia do rio Iguaçu, no Brasil, até o parque nacional Snowdonia, no País de Gales, e The Trossachs, na Escócia”, disse o Dr. Liam Nash, autor principal do estudo e recém-doutor pela Laboratório do Dr. Pavel Kratina na Universidade Queen Mary de Londres. “Enfrentamos carrapatos, vespas, mosquitos e cobras para coletar nossas amostras e vimos animais como harpias e antas pelo caminho. Enfrentamos desafios com a pandemia, que me fez voar para fora do Brasil em um dos últimos voos disponíveis em março de 2020, pois as regras de viagem mudavam de hora em hora! Este trabalho não poderia ter acontecido sem a ajuda de guias de campo locais experientes e a estreita colaboração com cientistas e estudantes do Brasil”, concluiu o pesquisador.

Pela Unicamp, participaram do estudo a Dra. Fátima Recalde, pesquisadora de pós-doutorado, e o Dr. Gustavo Romero, além do Dr. Thiago Izzo, professor da UFMT.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade Queen Mary de Londres (em inglês).

Fonte: Universidade Queen Mary de Londres. Imagem: Dr. Liam Nash, Universidade Queen Mary de Londres.

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