Notícia

Demógrafo analisa mudanças nas dinâmicas sociodemográfica, espacial e migratória da população pobre de 1991 a 2015

Quão pobres são os pobres no Estado de São Paulo?

Antoninho Perri, Unicamp. Divulgação.

Fonte

Jornal da Unicamp | Universidade Estadual de Campinas

Data

sexta-feira, 29 junho 2018 13:55

Áreas

Desigualdade Socioambiental, Sociedade.

Nem todos os pobres são iguais – a afirmação, que parece senso comum, ficou demonstrada em tese de doutorado analisando as mudanças nas dinâmicas sociodemográfica, espacial e migratória da população pobre no Estado de São Paulo entre 1991 e 2015. A pesquisa do demógrafo Dr. Pier Francesco De Maria aponta que os níveis de pobreza caíram substancialmente no período analisado – o que coincide com o observado na literatura nacional –, mas que isso não implicou em redução da desigualdade entre os pobres, especialmente entre aqueles em situação de extrema pobreza. Mais: que programas de transferência de renda como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (voltado ao idoso e à pessoa com deficiência), por mais exitosos e importantes que tenham sido e continuem sendo, não necessariamente identificaram ou alcançaram os mais pobres dentre os pobres.

“A renda é um índice unidimensional importante para avaliar a pobreza, mas insuficiente. Por isso, temos avançado na análise do que chamamos de pobreza multidimensional, envolvendo outros aspectos como qualidade da moradia, acesso a serviços, nível de escolaridade para concorrer no mercado de trabalho, o fato de estar trabalhando e assim por diante”, explica Pier De Maria, que teve a orientação da professora Dra. Rosana Baeninger, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). “Na tese, procuramos estudar quanto os pobres são diferentes entre si – e também dos não pobres –, recorrendo a uma divisão em quatro grupos: os não-pobres, os vulneráveis à pobreza, os pobres e os extremamente-pobres.”

O autor da tese afirma que a combinação de metodologias e indicadores, a partir do Censo Demográfico (1991, 2000 e 2010) e da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios anual, 1992 a 2015), permitiu observar a trajetória da pobreza no Estado e a sua evolução socioespacial. “Como índice unidimensional seguimos o critério usual no Brasil, que atribui até meio salário mínimo de renda para o pobre e de um quarto do salário para o extremamente-pobre; os vulneráveis à pobreza são aqueles que ganham de meio a dois salários (em torno de 1.800 reais, valor este obtido considerando que a cesta básica é só uma porção da renda necessária) e, acima disso, estão os não-pobres. Como índices multidimensionais, adotamos duas metodologias distintas, uma nacional e outra internacional, cujos resultados, numa escala que vai de zero a 1 (quanto mais próximo de 1, pior a condição do indivíduo), foram estratificados conforme sugerido na literatura.”

Segundo De Maria, a análise dos índices uni e multimensionais confirmou uma esperada redução do número de pobres no Estado de São Paulo, não só em termos absolutos como relativos. “Isso é fato. Ocorre que esta redução não veio acompanhada de uma redução das desigualdades entre os pobres, especialmente entre os de extrema pobreza. A composição da população pobre é cada vez mais heterogênea, não podemos dizer que os pobres são todos iguais: os que eram pobres ascendem para o grupo de não pobres e os extremamente-pobres para o de pobres – é uma troca de patamar, que chamamos de mobilidade ascendente. Mas há um grupo entre os mais pobres que não consegue dar esse salto e fica para trás – isto é, dentro desse grupo, há os que se encontram nos limiares da pobreza e um contingente maior estacionado mais distante, na borda.”

Para o autor da tese, a desigualdade de renda entre os extremamente pobres tem aumentado com o passar do tempo, refletindo uma combinação da heterogeneização da pobreza com a desigualdade no acesso às políticas de transferência de renda. “Essas pessoas não vêm tendo acesso a políticas sociais ou não foram identificadas pelo Estado; sabemos ainda de indivíduos sem registro de nascimento e, consequentemente, sem carteira de identidade para obter os benefícios. Outra possibilidade é de o governo não ter chegado até elas por problemas na gestão dessas políticas. Programas como o Brasil sem Miséria [lançado em junho de 2011, no governo Dilma Rousseff] vieram, de certa forma, identificar e atender esse grupo que ficou esquecido.”

Acesse a notícia completa no site do Jornal da Unicamp.

Fonte: Luiz Sugimot, Unicamp. Imagem: Antoninho Perri, Unicamp. Divulgação.

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