Notícia

COVID-19 na África: grupo de pesquisadores analisa impactos

Estudiosos identificam cinco características contextuais que precisam ser consideradas nos esforços em andamento para limitar a propagação da doença e mitigar seus impactos no continente

Pixabay

Fonte

Universidade da Cidade do Cabo

Data

sexta-feira, 18 dezembro 2020 10:35

Áreas

Desigualdade Socioambiental. Políticas Públicas. Saúde. Sociedade.

Desde que foi declarada uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional em janeiro de 2020, a COVID-19 se espalhou pelo mundo em um ritmo rápido. Com o aspecto epidemiológico tendo a devida preferência em termos de pesquisa, os impactos socioeconômicos estão apenas começando a ser compreendidos. Além disso, também está ficando claro que, embora o vírus esteja afetando vidas e meios de subsistência em todos os lugares, os impactos variam em diferentes contextos.

A África, por exemplo, teve um início tardio da pandemia e um número relativamente baixo de infecções e mortes em comparação com outras regiões. Encontrar as razões para esses fenômenos exigirá mais pesquisas nos próximos meses e anos, mas elas podem ser atribuídas à população mais jovem, ao clima mais quente e ao fato do continente estar menos conectado a outras partes do mundo em termos de viagens.

No artigo intitulado “COVID-19 na África: Contextualizando impactos, respostas e perspectivas”, recentemente publicado na revista científica Environment: Science and Policy for Sustainable Development, o professor Dr. Ralph Hamann, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, e seus colegas argumentam que a taxa de infecção e morbidade relativamente baixa na África ‘oferece pouco espaço para complacência’.

Retrocesso em alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Com foco no Quênia, Maurício, Nigéria e África do Sul – os quatro países onde os pesquisadores estão baseados – o Dr. Hamann descreve o artigo como uma saída inicial e inesperada de um projeto colaborativo que o grupo lançou anteriormente neste ano: o projeto Negócios, os ODS e  COVID-19 na África.

O que emergiu da pesquisa do Dr. Hamann e seus colegas é o fato de que a COVID-19 tem sido um sério retrocesso no progresso da África em alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (ONU), progresso que já era desafiado antes da pandemia. “O alcance da crise é visível em seus efeitos sobre todos os objetivos, além daqueles sobre pobreza, saúde, fome, gênero e educação”, diz o artigo.

Para a equipe de pesquisadores, isso destaca a importância de reconhecer o papel de diversos contextos sociais na forma como a pandemia se manifesta. Isso sugere que os tomadores de decisão não podem depender apenas de especialistas médicos – “mais ênfase deve ser dada às ciências sociais no apoio a tomadas de decisão com mais nuances e contexto específico”.

Cinco recursos contextuais para a África

Um dos resultados mais importantes do artigo é a identificação pela equipe de pesquisa de cinco características contextuais que devem ser consideradas nos esforços em curso para limitar a propagação da doença e mitigar seus impactos no continente:

  • “As pessoas que vivem em assentamentos informais e dependem de trabalho informal têm dificuldade ou mesmo impossibilidade de aderir às regras de ‘isolamento local’, e isso reduz a eficácia e a aceitabilidade social dos regulamentos de lockdown”. Com base nisso, o documento sugere que, daqui para frente, as medidas de mitigação social devem ser direcionadas a áreas específicas tanto quanto possível e devem ser combinadas com testes intensivos e a provisão de instalações de auto-isolamento baseadas na comunidade.
  • “Em um contexto de pobreza e insegurança alimentar, onde a maioria dos trabalhadores está na economia informal e carece de proteção do bem-estar social, as consequências sociais das restrições econômicas são graves”. Isso exige uma avaliação mais cuidadosa do impacto que as regras de lockdown podem ter sobre os meios de subsistência dos trabalhadores informais. Também requer uma resposta mais abrangente e colaborativa aos impactos socioeconômicos.
  • “Na maioria dos países africanos, os estados não têm recursos fiscais e capacidades organizacionais para mitigar efetivamente os impactos da pandemia em suas economias e comunidades”. É encorajador que, a este respeito, a pandemia também tenha dado origem a um crescimento acentuado da organização espontânea da sociedade civil. “Por exemplo, na África do Sul, uma extensa cadeia de ‘redes de ação comunitária’ surgiu para apoiar membros vulneráveis ​​da comunidade”, destacaram os pesquisadores. Embora comovente, a organização da sociedade civil dessa natureza não pode preencher suficientemente as lacunas de governança em longo prazo.
  • “Os regulamentos de lockdown e os esforços subsequentes para mitigar seu impacto não deram atenção suficiente às circunstâncias específicas dos trabalhadores informais”. Além de perderem seus próprios meios de subsistência devido a medidas restritivas de lockdown, os trabalhadores informais, como comerciantes de frutas e vegetais, por exemplo, muitas vezes desempenham um papel crucial no bem-estar de suas comunidades. Por esse motivo, é importante que governos e agências internacionais priorizem a consideração de atividades econômicas informais em suas políticas e planos.
  • “A pandemia está exacerbando as desigualdades e conflitos sociais pré-existentes, incluindo disparidades geográficas dentro de países com raízes coloniais de longa data”. Mulheres e meninas foram particularmente atingidas e, daqui para frente, seus direitos devem ser priorizados em todas as medidas de resposta a desastres. É imperativo que as mulheres tenham um papel ativo nos processos de tomada de decisão.

Apesar dos contratempos e desafios em curso, a pandemia também deu origem a uma série de respostas positivas em vários contextos africanos. Isso inclui inovações tecnológicas, como um kit de teste de baixo custo desenvolvido no Senegal e um aplicativo de rastreamento desenvolvido na África do Sul; inovações sociais, como as ‘redes de ação comunitária’, que estão ultrapassando os abismos legados do apartheid entre as comunidades; e o bom uso que foi feito das experiências anteriores de vários países africanos no combate a vírus como o HIV e o Ebola.

“Uma das mensagens principais… é que a África é muito diversa e devemos ter cuidado ao generalizá-la, e isso também se aplica à pandemia. É por isso que é importante que os governos usem respostas mais direcionadas (por exemplo, em termos de geografias e regras) para reduzir os impactos o máximo possível”, concluiu o Dr. Ralph Ramann.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade da Cidade do Cabo (em inglês).

Fonte: Nadia Krige, Universidade da Cidade do Cabo. Imagem: Pixabay.

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