Notícia
Micro e nanoplásticos estão se infiltrando no gelo do Ártico
Cientista ambiental cultiva núcleos de gelo em laboratório para investigar o transporte e acúmulo de micro e nanoplásticos e compreender melhor os fluxos de materiais no gelo do Ártico
wirestock via Freepik
Fonte
ETH Zurique | Instituto Federal de Tecnologia de Zurique
Data
terça-feira, 2 abril 2024 10:45
Áreas
Biologia. Ciência Ambiental. Ecologia. Geociências. Geografia. Gestão Ambiental. Gestão de Resíduos. Materiais. Microbiologia. Oceanografia. Saneamento. Saúde. Saúde Ambiental. Sociedade. Sustentabilidade. Toxicologia.
Uma campanha lançada em 2012 – chamada ‘Beat the Microbead‘ – e liderada pela Plastic Soup Foundation, tem o objetivo de reduzir a utilização de microplásticos em produtos cosméticos, de forma a minimizar os efeitos negativos sobre o meio ambiente e sobre as pessoas. Para a Dra. Alice Pradel, a campanha foi um alerta: “Como jovem cientista ambiental, fiquei chocada por estarmos colocando todos esses produtos químicos no meio ambiente sem nos preocupar em descobrir o que aconteceu com eles”, lembrou a pesquisadora.
Em 2020, foram produzidas cerca de 400 milhões de toneladas de plástico em todo o mundo; deste total, 9% foram reciclados, 12% foram incinerados e o restante acabou em aterros, no meio ambiente ou no mar.
Desintegrando-se em novas propriedades
“O que me fascina nas ciências ambientais é que elas me permitem aprender continuamente mais sobre a nossa relação com o meio ambiente”, disse a Dra. Alice Pradel. “Para mim, cuidar da Terra também significa compreendê-la melhor”. Nos seus estudos de mestrado na Universidade de Rennes, no noroeste de França, ela concentrou-se na forma como diferentes produtos químicos, como os pesticidas, se acumulam nos solos e em outros meios porosos. Em 2018, ela assistiu uma palestra do Dr. Julien Gigault, químico do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS). Ele contou aos alunos como o plástico no meio ambiente é dividido em partículas cada vez menores por processos bióticos e abióticos e como o material adquire novas propriedades como resultado. Esta miniaturização permite que as partículas permeiem todos os sistemas ecológicos – um fato que fascinou e chocou a então estudante Alice Pradel.
Posteriormente, ela escreveu sua tese de doutorado, como Dr. Julien Gigault como orientador, sobre como e onde os micro e nanoplásticos se acumulam em materiais porosos. Ao aproximar-se do final do projeto, ficou surpreendida ao descobrir que grandes quantidades de microplásticos também tinham se acumulado no gelo marinho do Ártico. Estudos confirmaram isso pouco antes. O gelo é uma substância porosa: possui áreas de maior e menor densidade, bem como cavidades e fluxos microscópicos de água salgada entre os cristais de gelo. Como resultado, existe uma troca constante entre a água do mar e o gelo – e o interesse de Alice Pradel por este fenômeno começou a crescer. “Micro e nanopartículas podem ficar alojadas entre os cristais de gelo. Isto é altamente problemático, pois são precisamente estes locais onde as microalgas prosperam melhor”, explicou. Outros investigadores demonstraram que estas algas absorvem aditivos plásticos tóxicos, garantindo-lhes assim a entrada na cadeia alimentar do Ártico.
Um estudo de 2018 mostrou que são as menores partículas microplásticas as mais comuns no gelo marinho. Por definição, os microplásticos são menores que 5 centímetros e os nanoplásticos menores que 1 micrômetro. Os pesquisadores não conseguem quantificar partículas de plástico menores que 10 micrômetros, que é o limite analítico. “Isto sugere que não podemos ver nem medir com precisão a maior parte do plástico presente no gelo marinho”, disse a Dra. Alice Pradel.
Expedição ao Ártico
Para suas análises, a Dra. Alice Pradel também colabora com pesquisadores do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Florestal, Neve e Paisagem (WSL). Ela usa tomografia no laboratório da WSL em Davos para analisar seus núcleos de gelo a -15°C, e as imagens resultantes fornecem dados sobre a porosidade e estrutura do gelo. “Isso nos dá informações importantes sobre onde as partículas de micro e nanoplásticos se acumulam”, disse a cientista. As experiências atuais mostram que as partículas nanoplásticas são transportadas através do gelo de forma semelhante aos sais dissolvidos na água do mar. A forma como os microplásticos se acumulam no gelo marinho, por outro lado, depende mais da densidade das partículas.
A Dra. Alice Pradel acredita que seus experimentos também podem abrir novas possibilidades em outras áreas de pesquisa. “O aquecimento global está tornando todo o gelo marinho do Ártico muito mais dinâmico. O próprio gelo está se tornando mais fino, os processos de derretimento estão ficando mais rápidos e a redistribuição de sais e partículas por todo o gelo está ganhando velocidade”.
Com as experiências da pesquisadora, tais desenvolvimentos podem ser simulados em laboratório sem que os pesquisadores tenham que ir até o Ártico. “Isto também faz sentido porque pretendemos realizar pesquisas ambientais de uma forma favorável ao clima”, destacou. No entanto, a sua pesquisa não lhe permitirá evitar completamente as viagens ao extremo norte: ainda este ano, a Dra. Alice Pradel viajará pela primeira vez para o Oceano Ártico para medir a ‘pegada plástica’ da humanidade no gelo com a maior precisão possível.
Acesse a notícia completa na página do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (em inglês).
Fonte: Samuel Schläfli, ETH Zurique. Imagem: wirestock via Freepik.
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