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Comércio global de soja tem implicações importantes sobre o clima

Pesquisadores alemães avaliam a extensão em que a produção e o comércio de soja do Brasil contribuem para as mudanças climáticas

Divulgação, Universidade de Bonn

Fonte

Universidade de Bonn

Data

quinta-feira, 21 maio 2020 14:10

Áreas

Agricultura. Mudança Climática.

O comércio global de soja é uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa por várias razões. A conversão da vegetação natural em terra arável é provavelmente a causa mais importante, uma vez que esta geralmente retém consideravelmente menos CO2 do que os ecossistemas originais. Os gases de efeito estufa também são liberados durante a colheita da soja e o processamento em produtos derivados, o subsequente transporte para os portos e o embarque para exportação.

A extensão em que a produção e o comércio brasileiros de soja contribuem para a mudança climática depende em grande parte do local onde a soja é cultivada. Isso é demonstrado por um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Bonn, na Alemanha, em parceria com colegas da Espanha, Bélgica e Suécia. Em alguns municípios, as emissões de CO2 resultantes da exportação de soja e derivados são mais de 200 vezes maiores que em outros. Entre 2010 e 2015, a União Europeia importou soja principalmente de locais onde grandes áreas de florestas e savanas haviam sido anteriormente convertidas em terras agrícolas (a chamada expansão da fronteira agrícola). A análise foi publicada na revista científica Global Environmental Change.

Para estimar a pegada de carbono incorporada nas exportações brasileiras de soja, os pesquisadores usaram a metodologia Life Cycle Assessment (LCA). Isso permite quantificar a pegada ambiental de um produto, desde a sua produção até ser entregue ao importador. Os pesquisadores do Instituto de Economia de Alimentos e Recursos (ILR) da Universidade de Bonn realizaram essa análise para quase 90.000 cadeias de suprimentos identificadas no total de exportações de soja do Brasil no período 2010-2015. “Cada um desses 90.000 fluxos comerciais individuais representa uma combinação específica do município produtor no Brasil, o local em que a soja foi armazenada e pré-processada, os respectivos portos de exportação e importação e, quando aplicável, o país em que o processamento é realizado. Simplificando, calculamos a quantidade de dióxido de carbono liberada por tonelada de soja exportada por cada uma dessas cadeias de suprimentos”, explicou a Dra. Neus Escobar, pesquisadora do ILR.

Cerca de 90.000 fluxos de comércio de soja analisados

No estudo, os pesquisadores usaram um banco de dados desenvolvido no Instituto Ambiental de Estocolmo. Ele rastreia as rotas comerciais das exportações de commodities agrícolas da região de produção para o importador em detalhes. “O banco de dados também contém informações espacialmente explícitas sobre o desmatamento associado ao cultivo de soja na região produtora. Nós a complementamos com dados adicionais, por exemplo, sobre os meios de transporte envolvidos na rota de exportação correspondente, bem como sua intensidade de emissão de CO2. Isso nos permitiu fazer uma avaliação muito detalhada do impacto do cultivo de soja no Brasil, e [também pelo] transporte subsequente, nas emissões globais de gases de efeito estufa”, explicou a Dra. Escobar. Curiosamente, os resultados mostram que: “As emissões resultantes de gases de efeito estufa variam consideravelmente de município para município, dependendo do desmatamento subjacente, práticas de cultivo e logística de frete. A pegada de carbono de alguns municípios é 200 vezes maior que outros. A variabilidade é, portanto, muito maior do que a relatada até agora na literatura científica ”, ressalta a pesquisadora.

As maiores emissões de CO2 surgem na região chamada MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), no nordeste do país. Essa região ainda possui grandes áreas cobertas por vegetação natural, principalmente florestas e savanas, que foram cada vez mais perdidas para a agricultura nos últimos anos. Além disso, as exportações de soja dos municípios dessa região geralmente envolvem longas distâncias de transporte para os portos de exportação, que são geralmente cobertas por caminhões devido à falta de infraestrutura alternativa de transporte. Assim, as emissões de gases de efeito estufa do transporte podem ser substanciais e até superar os efeitos do desmatamento.

Os pesquisadores também investigaram quais países geram quantidades particularmente grandes de emissões de gases de efeito estufa importando soja. Em primeiro lugar, o maior importador do mundo é a China, no entanto, a União Europeia não fica muito para trás. “Embora os países europeus tenham importado quantidades consideravelmente menores de soja, entre 2010 e 2015, isso ocorreu principalmente em áreas onde ocorreu um desmatamento considerável”, observa a Dra. Escobar.

“Os fatores regionais podem ter uma influência significativa nos impactos ambientais incorporados no comércio agrícola global. Nosso estudo ajuda a esclarecer esses relacionamentos”. Os formuladores de políticas precisam urgentemente dessas informações: elas podem ajudar a projetar cadeias de suprimento de baixo carbono, por exemplo, com melhorias na infraestrutura de transporte ou políticas mais eficazes de conservação florestal. Além disso, também podem informar os consumidores sobre as implicações ambientais do alto consumo de carne, como em muitos países da União Europeia: uma grande proporção da soja importada pela Europa é usada como alimento animal.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Bonn (em inglês).

Fonte: Universidade de Bonn. Imagem: Divulgação, Universidade de Bonn.

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