Notícia

A toxicologia ambiental e o antigo problema dos corantes naturais

Grupo da Unicamp desenvolve método otimizado para identificar substâncias mutagênicas, que podem causar câncer

Antonio Scarpinetti e Renan Garcia, Jornal da Unicamp

Fonte

Unicamp | Universidade Estadual de Campinas

Data

segunda-feira, 19 julho 2021 06:40

Áreas

Toxicologia.

Corantes naturais podem não ser inofensivos, apesar de naturais. Estas substâncias são foco de uma nova linha de pesquisa da professora Dra. Gisela de Aragão Umbuzeiro, que tem destacada atuação na área de toxicologia ambiental, com análises de corantes e agrotóxicos nas águas. “Você vai me perguntar por que corantes, essa coisa antiga, se agora só se fala em microplásticos e hormônios na água. Trabalhei na Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo] e fomos pioneiros em encontrar corantes responsáveis pela mutagenicidade de um rio”, afirmou a professora, que coordena o Laboratório de Ecotoxicologia e Genotoxicidade (LAEG) da Faculdade de Tecnologia (FT) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Limeira.

Substâncias mutagênicas são assim chamadas devido ao seu potencial para induzir mutações. Se a molécula de corante for capaz de penetrar nas células dos organismos e causar lesões no DNA, isso pode levar ao câncer e, se atingir espermatozoide ou óvulo, transmitir problemas genéticos aos descendentes. Os corantes podem também ser tóxicos aos organismos aquáticos, levando à redução das populações. “No LAEG estudamos a mutagenicidade e toxicidade aquática de corantes tanto com organismos de água doce como de água salgada. Participo de um projeto muito interessante liderado pela pesquisadora finlandesa Riikka Raisanen, chamado Biocolour, financiado pela Academia de Ciências da Finlândia. Uma parte deste projeto está sendo também financiado pela FAPESP. Dentre outros objetivos, nosso grupo irá fazer a avaliação da mutagenicidade e toxicidade para organismos aquáticos de corantes oriundos de plantas e de fungos produzidos em biorreatores com microrganismos manipulados por técnicas de biologia molecular.”

Segundo a professora Gisela Umbuzeiro, o projeto Biocolour visa explorar o uso de corantes naturais para desenvolver produtos mais sustentáveis e seguros para a saúde humana e ambiental. “As pessoas, geralmente, acham que produtos naturais não causam nenhum efeito adverso, o que não é verdade. Haja visto a toxina botulínica, que é natural, mas é uma das substâncias mais tóxicas do mundo, produzida por uma bactéria. Outro exemplo é a aflatoxina, produzida por um fungo geralmente presente no amendoim, que nos preocupa tanto.”

A toxicologista explica que os corantes em geral são comercializados como misturas e muitos deles foram avaliados no passado com amostras de baixa pureza, fazendo com que os dados existentes sobre a sua mutagenicidade não apresentem boa qualidade. “Uma biblioteca na Carolina do Norte mantém em gavetas 98 mil amostras de corantes, muitas delas supernovas e que muita gente quer utilizar em baterias solares, medicamentos, corantes de tecidos, no que for possível imaginar”, destacou a pesquisadora.

Mas, como analisar 98 mil substâncias quanto à sua mutagenicidade, para evitar problemas no futuro, quando da sua utilização comercial? Uma ideia foi utilizar ferramentas in silico (modelos computacionais) de predição da sua mutagenicidade que se baseiam em dados já existentes na literatura, mas a Dra. Gisela Umbuzeiro constatou que os modelos atuais, embora funcionem para medicamentos e outras classes de compostos, não são bons para prever a mutagenicidade dos corantes. “Foi daí que fiz um pós-doutorado (na verdade, um ano sabático) pela FAPESP, com a proposta de desenvolver um método in silico aplicado para corantes, mas percebi que é preciso mais dados. Dei um passo atrás, fui para desenvolver um programa, e me deparei com um problema.”

A pesquisadora da Unicamp então recorreu a um teste de mutagenicidade miniaturizado que foi desenvolvido pelo seu grupo de pesquisa e publicou recentemente na revista científica Environmental and Molecular Mutagenesis, revista clássica da área de mutagênese ambiental. O artigo apresenta uma forma otimizada para gerar mais dados de qualidade para corantes, visando chegar, mais à frente, a uma ferramenta in silico adequada, e mereceu a capa da revista em janeiro. “Estamos propondo essa nova abordagem, que com poucas miligramas de amostra é possível gerar dados de qualidade e com rapidez até que cheguemos a uma programa de computador capaz de prever a mutagenicidade dos corantes sintéticos ou naturais com confiança”.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Unicamp.

Fonte: Luiz Sugimoto, Jornal da Unicamp. Imagem: Corantes naturais extraídos de fungos por meio de técnicas de biologia molecular. Fonte: Antonio Scarpinetti e Renan Garcia, Jornal da Unicamp.

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