Notícia

Desafio de recuperar vegetações de campos, que cobrem 40% do planeta, é tema de novo estudo

Artigo de revisão que tem docente da Unesp entre os autores alerta para a urgência de mais iniciativas de restauração desses ecossistemas, bastante degradados pelo avanço da fronteira agrícola

Dra. Elise Buison

Fonte

Jornal da Unesp

Data

segunda-feira, 8 agosto 2022 06:30

Áreas

Biodiversidade. Biologia. Ciência Ambiental. Conservação. Ecologia. Geociências. Geografia.

As vegetações de campos cobrem nada menos do que 40% da superfície terrestre. No Brasil, sua presença equivale a 27% do território do país. Porém, quando se debatem os projetos de restauração de biomas devastados e desmatados —  especialmente no contexto do combate às mudanças climáticas —  a atenção que elas recebem, mesmo por parte dos pesquisadores, costuma ser muito inferior à área que efetivamente ocupam no planeta.

Um artigo publicado recentemente em uma edição especial da revista científica Science apontou a necessidade de se incluir as vegetações de campos em programas de restauração, e de que se amplie o conhecimento sobre as técnicas e as estratégias que são mais eficazes para a sua regeneração. A publicação, que tem como uma de suas coautoras a Dra. Alessandra Fidelis, professora do Laboratório de Ecologia da Vegetação do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, destacou a complexidade deste bioma, e também o intenso processo de devastação a que tem sido submetido, motivado pelas mudanças no uso da terra. O texto aponta ainda que o desconhecimento das características desses biomas abertos vem dando brecha para a ocorrência de sérios equívocos na seleção e plantio de espécies em projetos de restauração da vegetação.

As formações campestres são ecossistemas antigos marcados principalmente pela presença de espécies gramíneas e de pequenas ervas. São genericamente chamadas de grasslands pela comunidade científica. Este perfil de vegetação acaba por formar paisagens abertas e com poucas árvores de grande porte. No Brasil, essas características podem ser encontradas em diversos biomas, como o Cerrado, a Caatinga, o Pampa e o Pantanal. A professora Alessandra Fidelis explicou que, embora a fisionomia deste ecossistema aparente certa simplicidade, abriga uma grande riqueza de espécies e de interações entre elas.

Falar em savanização é erro

“Grande parte das pessoas acha que esses ecossistemas abertos seriam originalmente florestas degradadas, ecossistemas recentes e que poderiam se recuperar rapidamente”, apontou a bióloga. Ela ressalta como exemplo o uso equivocado do termo ‘savanização’ para descrever o processo de degradação das florestas. “Falar em savanização é um erro. Savanas são ambientes complexos e ricos em espécies. Já as florestas degradadas são ambientes pobres em espécies e de baixa complexidade. Em comum mesmo, elas têm apenas o fato de serem abertos”, explicou a pesquisadora.

A confusão entre espaços degradados e ambientes campestres tem estimulado projetos de restauração que promovem o plantio de árvores nos biomas campestres. “Isso é um problema porque as gramíneas e herbáceas presentes nesses campos precisam da exposição ao sol, e a primeira coisa que a árvore vai fazer é criar sombra e consumir água, provocando a perda dessa diversidade rasteira”, explicou a Dra. Alessandra Fidelis. Atualmente, pesquisas têm apontado que alguns ambientes campestres, como o Cerrado brasileiro, são na realidade ecossistemas extremamente antigos (primários) e que demoram décadas ou até séculos para se regenerarem.

Para além do que é visível na superfície, esses ecossistemas também se caracterizam por uma complexa formação subterrânea que está intimamente ligada à sua resiliência ao longo dos séculos. Grande parte dessas espécies possuem sob a terra estruturas formadas por um tecido meristemático que funciona como um banco de gemas: à medida que sua parte aérea sofre algum distúrbio, o tecido é capaz de rebrotar, permitindo uma sobrevida à planta. A lista de eventos que os biólogos classificam como distúrbios é ampla. Pode incluir, por exemplo, simplesmente um grupo de animais que se alimentam do capim, que após alguns dias vai rebrotar. Ao realizar esse processo particular de regeneração, a vegetação campestre também armazena uma quantidade significativa de carbono no subsolo.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unesp.

Fonte: Marcos do Amaral Jorge, Jornal da Unesp. Imagem: Campos Subtropicais, Rio Grande do Sul, Brasil. Fonte: Dra. Elise Buison, Universidade Avignon, França.

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