Notícia

Urbanização e agricultura são os usos do solo que mais afetam os rios no Brasil

Mapa elaborado pela equipe de pesquisadores revela que apenas 26% de mata nativa está preservada na Floresta Atlântica

Journal of Environmental Management

Fonte

Agência FAPESP

Data

terça-feira, 6 outubro 2020 11:40

Áreas

Agricultura. Gestão Ambiental. Recursos Hídricos. Sociedade.

O Brasil abriga o maior volume de água doce do mundo, mas essa reserva está se tornando mais escassa devido a fatores como mudanças climáticas, aumento do consumo e tratamento inadequado. Mais do que isso: as águas dos rios brasileiros estão perdendo qualidade por conta da falta de planejamento no uso do solo.

Agricultura e urbanização são os tipos de atividade que mais preocupam, mas não só. A mineração, apesar de ocupar pouco território, apresenta um alto potencial de dano à qualidade dos mananciais, apontam os autores de uma pesquisa brasileira publicada na revista científica Journal of Environmental Management.

A revisão foi liderada pela Dra. Kaline de Mello, bióloga do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e contou com a participação de pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade de Massachusetts e Universidade Estadual do Oregon, ambas nos Estados Unidos.

O trabalho é o primeiro a criar um panorama nacional sobre como cada tipo de uso do solo afeta os recursos hídricos nacionais. “A maioria dos estudos faz projeções sobre os impactos da mudança do uso do solo na quantidade de água disponível, não na sua qualidade, então não sabemos como estará a qualidade da água no país daqui a 30 anos”, comentou o Dr. Ricardo Hideo Taniwaki, da UFABC, um dos autores.

A pesquisa, portanto, é um ponto de partida para vislumbrar o futuro da água no país em diversos cenários, otimistas e pessimistas.

Levantamento extenso

A análise foi dividida em etapas. Na primeira, os autores obtiveram informações sobre cobertura e uso da terra a partir da plataforma Mapbiomas. Nesse momento, foi possível observar a preservação da vegetação nativa e a extensão de atividades com possível impacto na qualidade da água: agricultura, pasto, silvicultura, mineração e urbanização.

“Depois, separamos os estudos que avaliaram em campo o efeito da atividade em questão nos rios próximos a ela, nos diferentes biomas brasileiros”, destacou a Dra. Kaline de Mello. Entre os parâmetros usados para medir a qualidade da água estão a presença de coliformes fecais, sedimento, nitrogênio, fósforo, metais pesados e outros poluentes. Em uma segunda fase, além da atividade em si, o grupo mostrou que a degradação varia conforme a escala usada para avaliá-la, e que isso deve ser levado em conta no planejamento de ações de preservação.

Impacto por tipo de solo

Atualmente, 28,8% do território brasileiro é ocupado por pasto e agricultura, concentrados principalmente no Cerrado (42% do total) e na Floresta Atlântica (62%). “Nas áreas de pastagem, o solo é compactado pelos animais, o que afeta a absorção de água pelo solo, aumentando o escoamento superficial e faz com que uma maior quantidade de água e poluentes chegue ao corpo d’água quando chove”, explicou a Dra. Kaline de Mello.

A agricultura também afeta a dinâmica de escoamento, além de ser responsável por um grande aporte de poluentes como nitrogênio, fósforo e outras substâncias químicas nos rios e riachos. “Vale lembrar que o Brasil é um dos maiores consumidores de fertilizantes e agrotóxicos do mundo, o que gera um grande impacto nas águas superficiais e subterrâneas”, continuou a pesquisadora.

Nas áreas urbanas há dois problemas principais. “Primeiro, a impermeabilização quase que total do solo, graças ao asfalto, então tudo que fica ali, inclusive metais pesados, é escoado para o rio quando chove, e não temos muitos programas de tratamento de água pluvial”, apontou o Dr. Taniwaki.

Depois, apesar de ocuparem apenas 0,6% do solo do país, as cidades são grandes responsáveis pela degradação das águas por conta do esgoto não tratado, que despeja nos rios coliformes fecais, matéria orgânica e outros poluentes. Para se ter ideia, cerca de 48% da população não conta com coleta de esgoto em casa. E apenas 10% das 100 maiores cidades brasileiras tratam mais do que 80% do esgoto coletado.

Biomas mais ameaçados

A Dra. Kaline de Mello destacou que, no geral, a perda da mata nativa é o que mais ameaça os recursos hídricos nos biomas brasileiros e menciona a situação dos rios e outros cursos d’água na região da Mata Atlântica, que concentra 65% da população brasileira. Um mapa elaborado pela equipe de pesquisadores revela que apenas 26% de mata nativa está preservada na Floresta Atlântica. Não à toa, apenas 6,5% dos principais rios da região têm água avaliada como de boa qualidade.

Outros dois biomas que preocupam são a Amazônia e o Cerrado. A Amazônia, apesar de ainda conservar boa parte de sua vegetação nativa, vive um momento delicado. “Em 2019, enfrentou sua maior perda florestal em dez anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais”, destacou a especialista.

O futuro da água no Brasil

Com modelos matemáticos já disponíveis na literatura, gestores e pesquisadores podem projetar o futuro da qualidade de água em suas regiões e detectar que tipo de intervenção é mais eficaz naquela situação específica. Uma das ferramentas destacadas pelos autores, a avaliação multicriterial, utiliza a participação social, estatal e privada para priorizar áreas a serem restauradas em um cenário de escassez de recursos financeiros.

Para que essa análise seja feita de maneira mais assertiva, contudo, é preciso melhorar a qualidade dos dados disponíveis, que, para os pesquisadores, é escassa. “É difícil fazer projeções com as informações sobre qualidade da água e uso do solo que temos agora, e elas são fundamentais para criar políticas públicas”, comentou o Dr. Taniwaki.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Chloé Pinheiro, Agência FAPESP. Imagem: Journal of Environmental Management (reprodução com autorização).

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