Notícia

Ultrassonografia avalia saúde de árvores

Análises feitas por laboratório da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp contribuem com a arborização urbana

Felipe Bezerra, Jornal da Unicamp

Fonte

Jornal da Unicamp

Data

quarta-feira, 4 outubro 2023 20:05

Áreas

Cidades. Ciência Ambiental. Ciência de Dados. Ecologia. Engenharia Florestal. Monitoramento Ambiental. Saúde Ambiental. Tecnologias.

Entre o fim de 2022 e início de 2023, Campinas enfrentou situações trágicas envolvendo suas árvores. Após uma figueira do Bosque dos Jequitibás cair sobre um carro, vitimando um homem de 36 anos, e de um eucalipto da Lagoa do Taquaral tirar a vida de uma garota de 7 anos, um alerta se acendeu na cidade: havia o risco de outras árvores caírem? Em virtude das quedas, vários parques e jardins fecharam seus portões para que a situação fosse avaliada. No Bosque dos Jequitibás, a análise feita pela prefeitura apontou a necessidade de retirada de 108 árvores. A medida, contestada pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema) e pela Comissão de Arborização Urbana da Câmara Municipal, acabou sendo adotada. Já na Lagoa do Taquaral, 181 árvores foram retiradas com a proposta de substituição por espécies nativas.

“As árvores são equipamentos públicos que nos trazem benefícios. Precisamos pensá-las como parte viva da infraestrutura urbana. Elas precisam de avaliações periódicas”. A afirmação é de Larissa Volpi, mestranda da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Ensaios Não Destrutivos (GPEND) da unidade. Coordenado pela professora Dra. Raquel Gonçalves, o grupo dedica-se ao desenvolvimento e aplicação de tecnologias para o monitoramento das condições internas de árvores e de estruturas não metálicas. Os estudos feitos pelo laboratório podem ser úteis tanto para avaliar a saúde das árvores de uma cidade como para empresas florestais que as utilizam na produção de papel e celulose ou, por exemplo, como madeira na construção civil.

Por dentro das árvores

Diversos fatores podem afetar uma árvore, tais quais fungos, insetos, doenças, podas inadequadas, falta de espaço para o crescimento de raízes, aspectos do solo, bem como a adaptação de espécies a determinados locais. “Às vezes, olhamos uma árvore e pensamos que ela está bem. No entanto, internamente, ela pode estar deteriorada ou com cavidades”, explicou a professora Raquel Gonçalves. Por isso, uma avaliação minuciosa, identificando as condições internas das árvores, permite a tomada da decisão correta, que pode ser um tratamento, a colocação de um suporte ou até mesmo o corte, minimizando situações como as ocorridas recentemente em Campinas.

As pesquisadoras do grupo apontam que grande parte das inspeções realizadas são feitas com base no estado fitossanitário aparente das árvores, ou seja, com base no que se vê por fora. Trata-se de uma inspeção fundamental que permite avaliar questões importantes. Porém, em certos casos, apenas essas informações não bastam.

Os estudos do GPEND utilizam técnicas de ultrassonografia, baseadas na análise das interferências ocorridas durante a propagação das ondas do aparelho. Por se tratarem de ondas mecânicas, sua velocidade de propagação é maior em meios sólidos e íntegros. Para a inspeção, o tronco da árvore é demarcado com uma série de pontos, formando uma malha com várias rotas de propagação. Em cada ponto, um sensor emite um sinal acústico, que percorre o tronco e é recebido por outro sensor. Com isso, o equipamento mostra o tempo que a onda demorou para realizar determinado percurso. Esses dados são inseridos em um software que calcula as velocidades de propagação das ondas de ultrassom na malha. Tomando como base a maior velocidade, comparam-se os registros nas diferentes rotas. “Reduções na velocidade são indícios de desvios na trajetória da onda ou alterações na estrutura interna da madeira, indicando a existência de cavidades ou de zonas com deterioração e, portanto, perda de rigidez do material”, destacou a professora.

Os dados obtidos a partir da ultrassonografia podem ser utilizados para gerar imagens de tomografia, na qual a condição interna do tronco é representada graficamente. “A tomografia nos ajuda a escolher o manejo adequado, o que é recomendado para árvores centenárias ou com significado histórico, por exemplo”, explicou a Dra. Stella Palma, pesquisadora do grupo.

Outro equipamento utilizado é o resistógrafo, que introduz no tronco uma agulha de 2 milímetros de diâmetro. Conforme a agulha penetra na madeira, um gráfico indica a resistência encontrada. Uma queda abrupta na resistência significa um indício de deterioração da madeira. “São vários estudos que podem ser feitos e várias medidas que podem ser tomadas antes da opção pelo corte da árvore”, defendeu.

As técnicas utilizadas pelo laboratório não comprometem a integridade da planta e, ainda assim, permitem a obtenção de dados importantes, como sobre a rigidez e densidade da sua madeira. As pesquisadoras citaram como outra vantagem da nova tecnologia determinar, antes mesmo da extração, o destino do material – por exemplo, para a indústria de papel e celulose ou para a construção civil. “Conseguimos direcionar o material da árvore para uma aplicação adequada e economizamos tempo e recursos das empresas”, destacou a coordenadora.

A novidade também contribui para a aplicação de outras tecnologias, como a inteligência artificial. “Um estudo que não destrói o material permite a extração de uma quantidade maior de dados, o que é uma demanda para trabalharmos com o aprendizado de máquina”, lembrou a Dra. Stella Palma.

Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unicamp.

Fonte: Felipe Mateus, Jornal da Unicamp. Imagem: Larissa Volpi instala sensor em árvore. Fonte: Felipe Bezerra, Jornal da Unicamp.

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