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Torre na Amazônia é usada para investigar relação da floresta com o clima global

Torre Alta da Amazônia tem 325 metros de altura e equipamentos capazes de captar informações sobre os fluxos de troca entre a floresta e a atmosfera

Agência FAPESP

Fonte

Agência FAPESP

Data

terça-feira, 8 janeiro 2019 10:20

Áreas

Ciência Ambiental.. Clima.

Para fazer ciência na Amazônia, além de enfrentar longos desafios logísticos, também é preciso subir degraus. Muitos deles. Quase 1,5 mil e, se possível, de uma só vez. O esforço vale a pena, pois tem levado a descobertas sobre o impacto tanto das mudanças climáticas na Amazônia quanto da floresta no clima de todo o planeta.

A escadaria em questão está na Torre Alta da Amazônia (ATTO, na sigla em inglês), com 325 metros de altura. A torre fica a 150 km de Manaus (AM), na Estação Científica do Uatumã e é lá que cientistas instalam equipamentos capazes de captar informações sobre os fluxos de troca entre a floresta e a atmosfera.

São análises de concentrações de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, do balanço de radiação e de fluxos de ozônio e aerossóis – partículas líquidas ou sólidas em suspensão no ar –, entre outros indicadores importantes para que se forme um panorama da importância da floresta amazônica.

Antônio Huxley do Nascimento sobe até o topo da torre diariamente quando está na Estação Científica, cerca de 10 dias por mês. Ele é técnico em instrumentação do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e monitora a operação de alguns dos mais de 100 equipamentos instalados na torre ATTO. Para subir, ele usa equipamento de segurança que inclui cinturão, mosquetões e cordão presos à cintura e ao corrimão da escadaria.

Nascimento verifica dados e o funcionamento dos equipamentos. “São equipamentos que coletam dados complexos o tempo inteiro, não pode haver interrupção. Eles geram uma quantidade enorme de dados e as informações são acessadas pelos pesquisadores em seus laboratórios no Brasil e na Alemanha. Mas é preciso ver constantemente se está tudo funcionando bem na torre”, disse à Agência FAPESP.

Em funcionamento desde 2015, a construção da torre custou € 8,4 milhões, financiados metade pelo governo alemão e pelo Instituto Max Planck e a outra metade pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) do Brasil, com recursos da Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep). Agências de fomento estaduais, como a FAPESP, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e a Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar), financiam projetos de pesquisa na torre.

Na reserva existem ainda outras duas torres mais baixinhas, com 80 metros cada, usadas para o estudo de gases e aerossóis. Nelas é possível ter uma perspectiva mais próxima do dossel e não sobre a floresta, como ocorre com a torre ATTO.

A copa das árvores chega geralmente até 40 metros de altura, ou um oitavo da torre ATTO. Nessa etapa da subida da torre, é possível sentir a variação da umidade da floresta. Bem mais acima, a uns 170 metros de altura, um vento forte toma a torre. No entanto, ela não balança, pois está fixada também por longos e fortes cabos de aço. No topo, vê-se a imensidão da floresta, geralmente acompanhada por um enorme silêncio. De resto, só alguns pássaros conseguem parar no alto da torre, ou deixar lembranças por lá.

A Amazônia desempenha um papel importante nos ciclos biogeoquímicos globais de gases de efeito estufa. “A floresta amazônica é de extrema importância, principalmente por ser um bioma único no mundo, em região tropical. É a maior extensão de floresta tropical e o único lugar onde a própria floresta tem mecanismos de controle de seu clima interno, impactando muito de nosso planeta”, disse o   Dr. Paulo Artaxo, professor titular no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP) e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Essas características da floresta amazônica permitem que ela tenha mecanismos de regulação climática sobre a região.

“A floresta controla o balanço de energia, o fluxo de calor latente e sensível, o vapor d’água e os núcleos de condensação de nuvem que vão intensificar o seu ciclo hidrológico. E isso só é possível se houver uma extensão muito grande de floresta contígua. Quando ela é fragmentada, deixa de ter essa propriedade”, disse o também membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.

O Dr. Artaxo coordena a pesquisa “O ciclo de vida dos aerossóis e nuvens na Amazônia“. Apoiada pela FAPESP, a pesquisa vai calcular o transporte de aerossóis a partir de medidas obtidas na torre ATTO, em Chacaltaya – a 5.250 metros de altitude nos Andes bolivianos – e em barcos e aviões.

O pesquisador também coordenou o href=”https://bv.fapesp.br/pt/376/”>Green Ocean Amazon Experiment (GOAmazon), campanha científica que buscou entender como os ciclos de vida dos aerossóis e das nuvens são influenciados pelo transporte de poluentes de Manaus para regiões de floresta tropical. O GOAmazon foi realizado de 2013 a 2018 e teve apoio da FAPESP, do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE) e da Fapeam.

A análise de dados coletados na torre ATTO e em outros locais da Amazônia permitiu ao projeto GoAmazon fazer descobertas importantes sobre a dinâmica da floresta amazônica e sua relação com as mudanças climáticas. A partir de dados obtidos na torre, pesquisadores descobriram que o processo de aquecimento global pode ser ainda mais intenso do que o previsto originalmente caso não se consiga frear o desmatamento.

O grupo de pesquisadores reproduziu matematicamente as condições atmosféricas atuais do planeta, incluindo concentrações de aerossóis, compostos orgânicos voláteis (VOCs, na sigla em inglês) antropogênicos e biogênicos, ozônio, CO2, metano e também os demais fatores que influenciam na temperatura global. De acordo com o estudo, essa maior intensidade de aquecimento está relacionada principalmente às mudanças nas emissões de BVOCs (compostos orgânicos voláteis biogênicos) pelas florestas tropicais.

Outro estudo, publicado na Nature Communications, reforçou a importância da Amazônia na regulação química da atmosfera. Pesquisadores do GoAmazon descobriram que a floresta amazônica emite três vezes mais isopreno do que o estimado anteriormente. A substância é um dos principais precursores do gás ozônio.

Aerossóis e ozônio

Um terceiro trabalho, publicado na revista Science, mostrou que na floresta tropical as partículas ultrafinas de poluição emitidas pelas cidades – e que costumam ser desprezadas para o impacto da poluição urbana – afetam substancialmente a formação das nuvens de tempestade na Amazônia.

Os resultados obtidos ajudam na compreensão de como a poluição urbana afeta os processos relacionados à formação de tempestades na Amazônia.

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Maria Fernanda Ziegler, em Uatumã, Agência FAPESP. Imagem: Agência FAPESP.

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