Notícia

Riachos intermitentes podem ser importantes na conservação da biodiversidade aquática

Rios e riachos intermitentes constituem quase 50% dos sistemas lóticos globais e fornecem serviços ecossistêmicos como provisão e purificação de água, estoque de carbono e ciclagem de nutrientes

Francisco Valente Neto

Fonte

UFMS | Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Data

terça-feira, 3 dezembro 2019 10:50

Áreas

Biodiversidade. Recursos Naturais. Ecologia.

Baixa pluviosidade, interrupção do fornecimento de água subterrânea e tipo de solo são fatores que provocam a seca, durante uma parte do ano, dos riachos chamados de intermitentes.

Num primeiro momento, o sistema pode até parecer sem importância em período de seca, pois a água não flui e a biodiversidade aquática ali parece bem pequena e reduzida a pequenas poças desconectadas. Mas muitos estudos têm mostrado que rios e riachos intermitentes constituem quase 50% dos sistemas lóticos globais e fornecem serviços ecossistêmicos como provisão e purificação de água, estoque de carbono e ciclagem de nutrientes.

Nessa linha, estudo conduzido pelo pós-doutorando Francisco Valente Neto, do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação (PPGEC)  da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), analisou uma rede hidrográfica localizada em Bodoquena, em Mato Grosso do Sul. O estudo foi conduzido em colaboração com o professor Dr. Fábio de Oliveira Roque, da UFMS, o professor Dr. Alan Covich, da Universidade da Georgia, nos Estados Unidos,  e o aluno de doutorado Fábio Henrique da Silva. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Hydrobiologia, International Journal of Aquatic Sciences, mostrando a importância de riachos intermitentes para a conservação da biodiversidade aquática.

Bodoquena

A rede hidrográfica do rio Betione, município de Bodoquena, apresenta riachos perenes (que nunca secam) e intermitentes. Em campo, os autores coletaram insetos aquáticos em 12 riachos intermitentes e 34 riachos perenes no mês de setembro de 2013, final do período de seca.

“Nessa época, os riachos intermitentes não possuem fluxo de água, mas mantém poças isoladas com água, onde foram amostrados os insetos aquáticos”, explica Francisco.

Os autores mapearam nesse sistema a quantidade de espécies e a singularidade da composição de espécies. “Quanto mais singular um riacho, mais diferente é a composição de espécies em relação a todos os outros riachos amostrados na rede hidrográfica. Ao contrário, riachos menos singulares são muito parecidos com os outros riachos amostrados na rede hidrográfica”, ressalta o pesquisador.

Os estudos permitiram encontrar achados interessantes: riachos intermitentes são mais singulares e possuem menor riqueza que riachos perenes. “Isso quer dizer que, apesar de ter um menor número de espécies em riachos intermitentes, o conjunto de espécies que está presente nesses riachos é mais único. Esse resultado foi explicado pela variação na condutividade elétrica da água e pela intermitência dos riachos”, diz Francisco.

Entre os grupos que conferiram essa singularidade aos riachos intermitentes, os autores destacaram espécies de besouros aquáticos, mosquitos e libélulas que possuem adaptações para abrigar ambientes de água parada (lênticos) ou possuem boa capacidade de dispersão.

Resultados

Dessa forma, o estudo mostrou que a manutenção desses riachos intermitentes é fundamental para manter a diversidade de espécies na região. “Esses riachos intermitentes são ótimos alvos para ações de conservação e manutenção da integridade desses sistemas, incluindo a dinâmica temporal”, completa o professor Fabio.

Os autores recomendaram ações de conservação em riachos intermitentes, incluindo a detecção e mapeamento de córregos com alta singularidade e baixa riqueza de espécies; a definição de alvos para conservas córregos intermitentes usando ferramentas de otimização; incentivos e pagamentos por serviços ambientais a produtores que mantiverem a integridade desses sistemas; educação dos proprietários e população sobre os serviços ecossistêmicos que córregos intermitentes fornecem a sociedade, incluindo sua alta singularidade de composição comparada a riachos perenes.

“Apesar da ausência de fluxo no período de seca, que pode passar uma ideia de baixa diversidade, riachos intermitentes possuem um conjunto de espécies singulares e são fundamentais para a manutenção da diversidade regional”, finaliza o pós-doutorando Francisco.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da UFMS.

Fonte: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Imagem: Francisco Valente Neto.

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