Notícia

Repensar o cuidado com produtos têxteis pode ajudar a proteger o meio ambiente

Maior consideração pelas roupas que compramos e como cuidamos delas pode levar a práticas mais equitativas e ecológicas

serhii_bobyk via Freepik

Fonte

UNSW | Universidade de Nova Gales do Sul

Data

domingo, 16 julho 2023 15:55

Áreas

Economia Circular. Engenharia Têxtil. Gestão de Resíduos. Inclusão Social. Indústria. Negócios. Sociedade. Sustentabilidade.

Em 2022, a marca de luxo Balenciaga provocou indignação quando lançou uma versão desgastada de seus tênis Paris High Top. A linha de edição limitada apresentava rasgos, arranhões e uma aparência geral ‘suja’. Os tênis foram chamados online de ‘pobreza chique’ e ‘Converse surrado’, mas foram vendidos por cerca de R$ 6 mil.

A controvérsia talvez não seja surpreendente, dado que os tênis exemplificam conflitos de longo prazo na indústria da moda, disse a Dra. Alison Gwilt, professora de Artes, Design e Arquitetura da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW), na Austrália. “Eles estão longe de ser a primeira instância de estética angustiada na moda – pense em tudo, desde jeans rasgados até os designs desconstruídos dos rebeldes da moda Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto. Mas eles ilustram a exclusão social da alta moda, a relação perdulária da indústria com recursos e impactos no meio ambiente e, ironicamente, sua promoção – e a natureza arbitrária – do ‘novo’ que impulsiona o consumo excessivo”, disse a professora.

Aceitar que as roupas possam estar danificadas, mas ainda assim ‘desejáveis’, traz benefícios ambientais e sociais positivos, disse a designer e pesquisadora de moda e têxteis. “Celebrar o processo natural de envelhecimento das roupas pode nos encorajar a guardá-las por mais tempo. Isso também ajudaria a aliviar o estigma associado a roupas usadas, prolongando sua vida útil”, disse a professora.

“No entanto, no caso dos tênis da Balenciaga, os materiais novos são danificados antes mesmo de os produtos serem usados, impactando o meio ambiente e enfraquecendo as fibras do material. Isso é uma contradição em relação aos investimentos da indústria da moda em tecnologias mais limpas, práticas e modelos de negócios mais sustentáveis”.

Reduzindo a pegada ambiental

A pegada ambiental da indústria da moda continua significativa. Sua longa cadeia de abastecimento – desde agricultura e produção petroquímica (produção de fibras), até a manufatura, logística e varejo – equivale a um uso substancial de água, materiais, produtos químicos e energia.

Os australianos são os segundos maiores consumidores de têxteis do mundo, atrás somente dos EUA, comprando mais que o dobro da média global; mais de 90% desses têxteis são jogados fora dentro de um período de um ano. Seis toneladas de roupas e têxteis são despejados em aterros a cada 10 minutos. As roupas levam décadas para se degradar, emitindo gases de efeito estufa no processo. Com as marcas de moda de hoje produzindo quase o dobro do volume de roupas de antes do ano 2000, o problema está aumentando exponencialmente.

“Fazer mudanças simples em como escolhemos, usamos e mantemos nossas roupas pode ajudar na sustentabilidade”, disse a professora Alison Gwilt. “Juntamente com marcas e fabricantes, precisamos trabalhar para uma economia circular que elimine o desperdício, mantenha os produtos em uso e regenere os sistemas naturais”, destacou a professora.

Mudando padrões de consumo para melhorar a sustentabilidade

A economia circular é impulsionada para promover a transição para energia e materiais renováveis, em vez do modelo atual que produz e consome recursos finitos. “A economia circular funciona por meio de dois ciclos: um ciclo técnico que mantém produtos e materiais em circulação por meio de reutilização, reparo, remanufatura ou reciclagem, e um ciclo biológico que devolve materiais biodegradáveis à terra para regenerar a natureza”, disse a pesquisadora.

Fibras naturais, como algodão puro e linho, ficam dentro do ciclo biológico, enquanto tecidos ‘complicados’, como poliéster e outras misturas sintéticas que não se decompõem, caem no ciclo técnico. A revenda, reaproveitamento, troca ou doação desses itens é outra forma de prolongar seu uso.

Algumas marcas de moda também estão fazendo mudanças para apoiar uma economia circular, disse a professora Gwilt.

Embora projetar especificamente para a economia circular pareça a resposta óbvia, para marcas associadas a preços baixos, os desafios são evidentes, segundo a professora: “Os clientes esperam comprar itens a um determinado preço, e isso pode promover o uso de tecidos sintéticos mais baratos e não biodegradáveis. Mesmo os itens feitos de fibras naturais precisam de consideração cuidadosa durante a produção para garantir que atendam aos requisitos de um ciclo biológico”.

Novas biofibras e materiais compostáveis trazem uma nova esperança

O desenvolvimento de tecidos inovadores que visam substituir fibras naturais intensivas em recursos e fibras sintéticas à base de petróleo também proporcionará uma produção mais sustentável, disse a Dra. Alison Gwilt.

Novas fibras e materiais surgiram de culturas fáceis de cultivar, como o cânhamo, e resíduos de subprodutos de culturas (fibras de base biológica), como abacaxi (Piñatex), frutas cítricas (Orange Fiber), leite (Qmilk), cogumelos (Mylo) e algas (Algikit).

A professora Gwilt também está prestando consultoria sobre a criação de uma especificação técnica para têxteis compostáveis para a Standards Australia, a primeira desse tipo no mundo.

“A compostagem de têxteis não requer grandes avanços tecnológicos ou enormes investimentos ou infraestrutura, portanto, seria uma vitória relativamente fácil para os usuários de roupas e para o meio ambiente. O que é empolgante é que isso poderia dar uma visão maior para a indústria começar a desenvolver produtos que podem se decompor com segurança em sistemas compostáveis. Portanto, podemos começar a ver um movimento no sentido de projetar para o ciclo biológico, incluindo itens de moda rápida que podem ser compostados”, concluiu a Dra. Alison Gwilt.

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Nova Gales do Sul (em inglês).

Fonte: Kay Harrison, UNSW. Imagem: serhii_bobyk via Freepik.

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