Notícia

Projeto entre Brasil e Reino Unido discute a mobilidade urbana saudável

Estudo investigou o impacto das atividades físicas em comunidades de baixa e média renda

Unsplash

Fonte

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Data

segunda-feira, 14 outubro 2019 12:25

Áreas

Cidades. Mobilidade. Mobilidade Urbana. Saúde.

Pedalar pela cidade pode ser apenas uma atividade de lazer em um fim de semana. Essa prática, porém, pode, muitas vezes, ser incluída no cotidiano como meio de transporte, até mesmo substituindo o carro. Pensando nisso, um grupo de pesquisadores brasileiros e britânicos buscou identificar a relação entre as atividades físicas e a rotina da população de baixa e média renda nos dois países. O projeto foi uma parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Oxford Brookes, do Reino Unido. O estudo foi financiado pelo Fundo Newton – iniciativa do governo britânico para promover pesquisa, ciência e tecnologia com países parceiros – e pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e é fruto de uma chamada de financiamento de pesquisa colaborativa internacional, feita em 2015 pelo Fundo Newton, para ser usado em projetos entre Brasil e Reino Unido. Teve como inspiração o movimento Cidades Saudáveis da Organização Mundial da Saúde (OMS), criado em 1978, que visa entender como o ambiente urbano afeta a saúde da população e melhorar sua qualidade de vida.

As cidades de Brasília, Florianópolis, Porto Alegre e Oxford (no sul da Inglaterra) foram selecionadas como áreas de estudo por se tratarem da sede de cada universidade. Os pesquisadores escolheram três bairros em cada cidade brasileira e dois na inglesa. Os bairros foram selecionados por suas diferenças demográficas e pelos obstáculos impostos à locomoção; entretanto, todos se assemelhavam quanto à sua localização: estavam situados perto do centro da cidade. Em Porto Alegre, foram pesquisados o Menino Deus, a Vila Tronco e a Vila Cruzeiro; o primeiro é um bairro de classe média, e os outros são considerados segregados cultural e socioeconomicamente.

A mobilidade urbana saudável é considerada aquela feita com meios não motorizados, por exemplo de bicicleta ou a pé, e como parte das viagens do dia a dia. Portanto, a utilização de carros não se adequaria ao conceito, já que não traz benefícios à saúde do usuário. “Mas se começou a ver, principalmente para idosos e pessoas com deficiência, que só o fato de sair de casa, ter mais mobilidade, seja ela ativa ou motorizada, já melhora a qualidade de vida”, explica o professor da Faculdade de Arquitetura da UFRGS Dr. Júlio Vargas, um dos autores do estudo.

Para guiar as etapas do trabalho, o grupo utilizou uma abordagem de métodos mistos − que se resume na junção do método qualitativo com o quantitativo− e contou com a participação ativa da comunidade e de gestores. A pesquisa foi dividida em cinco componentes, considerando o conhecimento dos integrantes das equipes nas áreas de planejamento urbano, estudos de transporte, saúde pública e psicologia ambiental.

No mapeamento espacial e geoprocessamento, foi realizada uma análise da configuração das ruas, da infraestrutura e da disponibilidade de transporte público. Já o questionário foi elaborado para coletar dados dos moradores – qualidade e hábitos de vida, renda mensal, percepção do bairro, atividades físicas – e aplicado em endereços aleatórios. Ao final foram arrecadadas cerca de 1100 amostras em cada bairro brasileiro e 272 no britânico. Nas entrevistas, realizadas com um total de 99 participantes, era pedida uma linha do tempo, contemplando as trajetórias – mudanças de residência, educação, trabalho – realizadas ao longo da vida. Para a jornada acompanhada, outras 99 pessoas concordaram em realizar um caminho, a pé ou de bicicleta, enquanto eram gravadas. A comunidade local também participou por meio de outras atividades, como a produção de vídeos sobre a situação da mobilidade em Oxford e a confecção de um “varal dos desejos” em Brasília. Os resultados colhidos pelas quatro equipes foram posteriormente reunidos no material utilizado para divulgação e produção teórica.

Cada pesquisador ficou encarregado do levantamento de dados da sua cidade e teve a disponibilidade de montar uma equipe de trabalho para auxiliá-lo. “Aqui surgiu uma diferença bem clara entre mim e meus outros colegas, que já são mais seniores. Tudo eles encaixam no fluxo da pós-graduação. Então, em Brasília e Florianópolis, a pesquisa ficou muito presa aos prazos dos mestrandos e doutorandos. Eu, por não estar tão envolvido na pós-graduação, tive mais liberdade para montar minha equipe para o projeto. Então eu peguei estudantes de arquitetura e urbanismo, engenharia ambiental, geografia, psicologia e saúde coletiva. Eu fui atrás de estudantes da UFRGS com perfis diferentes que pudessem montar uma equipe multidisciplinar”, comenta o professor Júlio Vargas, que escolheu uma equipe diversificada para abranger diferentes pontos da pesquisa.

Nas cidades brasileiras, principalmente Porto Alegre – área de pesquisa do professor –, foi constatado que a precariedade nos serviços de transporte público, aliada ao alto valor das passagens, obriga os moradores de comunidades de baixa renda a praticarem mobilidade forçada. Assim, caminhar se torna a única opção para essas pessoas, já que não possuem carro e não podem pagar a passagem de ônibus. A pesquisa também apontou que a falta de segurança, vegetação e infraestrutura nas ruas é um obstáculo para a adoção da mobilidade urbana saudável.

Apareceram ainda, nos resultados obtidos nas quatro cidades, outros fatores que dificultam a mobilidade: a escassez de ciclovias, a pouca iluminação, a segurança pública e a falta de manutenção das calçadas. No Brasil, também foram apontados problemas como o tráfego intenso de carros em alta velocidade e o uso das calçadas como estacionamento, impossibilitando a circulação dos moradores, além da elevada taxa de criminalidade.

Acesse a notícia completa na página da UFRGS Ciência.

Fonte: Thauane Silva, UFRGS Ciência. Imagem: Unsplash.

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