Notícia
Primeiras observações sobre os danos genéticos e fisiológicos causados por nanoplásticos em mexilhões
Pesquisadores confirmaram pela primeira vez que pequenas concentrações de nanoplásticos causam danos genéticos e fisiológicos no mexilhão Mytilus galloprovincialis
Divulgação, UAB
Fonte
UAB | |Universidade Autônoma de Barcelona
Data
sábado, 28 julho 2018 15:40
Áreas
Poluição. Meio Ambiente. Resíduos Sólidos.
A poluição por material plástico é um problema ambiental mundial que piora quando esse material se degrada em partículas de menor tamanho, como os microplásticos e os nanoplásticos, estes últimos capazes de penetrar nas células de um organismo.
Uma equipa de investigação do Departamento de Biologia Celular, Fisiologia e Imunologia da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), na Espanha, da Universidade de Aveiro, em Portugal, e do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), também em Portugal, observou como alguns destes nanoplásticos, mesmo em baixas concentrações, podem causar danos ao DNA e às membranas celulares e produzir estresse oxidativo no mexilhão Mytilus galloprovincialis, o mexilhão mediterrâneo mais comum consumido pelos seres humanos.
Os pesquisadores expuseram os mexilhões, originários da costa portuguesa, à presença de nanoplásticos de poliestireno durante quatro dias, em concentrações que variaram entre 0,005 miligramas por litro e 50 miligramas por litro, e detectaram variações na expressão de vários genes nas brânquias e glândulas digestivas. Com uma concentração de apenas 0,05 mg por litro (mg/l), podem ser observadas alterações na expressão destes genes. Essa concentração modificou a atividade do gene cat (catepsina), relacionado ao correto funcionamento do sistema imunológico nas brânquias do mexilhão. Com 0,5 mg/l de nanoplásticos, o gene cyp11 – relacionado à biotransformação de substâncias químicas para o correto funcionamento do organismo – também se expressou em excesso nas brânquias. E com 5 mg/l, a expressão do gene cyp32, relacionada à biotransformação, e do gene lys, relacionado ao sistema imune, foi afetada. Concentrações mais elevadas (50 mg/l) modificaram a expressão do gene hsp70, relacionado ao reparo de tecido celular, nas glândulas digestivas de mexilhões.
Os pesquisadores também puderam observar como os nanoplásticos podem aumentar os efeitos tóxicos de outros contaminantes. Entre os contaminantes mais comuns absorvidos pelos nanoplásticos está a carbamazepina, uma droga que trata distúrbios convulsivos. A adição de pequenas concentrações (6,3 microgramas por litro) deste fármaco à presença de nanoplásticos criou um aumento na absorção quando comparado ao fármaco por si só. A combinação de carbamazepina com apenas 0,05 mg/l de nanoplásticos modificou a expressão do supressor tumoral p53, relacionada ao reparo do dano ao DNA, além da expressão dos genes citp32, hsp70 e lys citados anteriormente.
Os pesquisadores também observaram os efeitos fisiológicos dos nanoplásticos, começando com apenas 0,005 mg/l. Nesse nível de concentração, os nanoplásticos já produziam alterações na atividade da alanina transaminase de guelra (ALT), enquanto que com 0,05 mg/l o dano podia ser observado no DNA da hemolinfa (o “sangue” dos moluscos), nas membranas celulares e também alterações nos indicadores bioquímicos relacionados ao estresse oxidativo nas brânquias e nas glândulas digestivas.
“Todos esses efeitos causados pelos nanoplásticos ocorrem em baixas concentrações e, por isso, é importante estudar os efeitos desses novos contaminantes em concentrações mais altas”, afirma a Dra. Irene Brandts, autora da pesquisa, resultado de sua tese de doutorado no Departamento de Biologia Celular, Fisiologia e Imunologia da UAB.
A Dra. Mariana Teles, pesquisadora da UAB responsável pelo estudo e pesquisadora também na Universidade de Aveiro e CIIMAR, destaca a importância deste tipo de dano em animais, dado que “em contraste com o efeito imediato do plástico convencional, que por exemplo pode matar uma tartaruga se ingerido, os nanoplásticos têm um efeito subletal, com mais consequências em longo prazo”.
A pesquisa foi publicada na última edição da revista Science of the Total Environment.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Universidade Autônoma de Barcelona (em inglês).
Fonte: Universidade Autônoma de Barcelona (UAB). Imagem: Divulgação, UAB.
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