Notícia
Poluentes de queimadas florestais geram impactos físicos e mentais
Pesquisadora alerta para o potencial carcinogênico de algumas partículas poluidoras resultantes de incêndios florestais
Pixabay
Fonte
Jornal da USP
Data
terça-feira, 8 agosto 2023 11:40
Áreas
Biologia. Ciência Ambiental. Desmatamento. Ecologia. Engenharia Florestal. Geografia. Microbiologia. Queimadas. Saúde. Sociedade. Toxicologia.
Estudo apontou que queimadas e incêndios florestais já tornam a qualidade do ar nociva aos moradores da região da Amazônia Legal e do Centro-Oeste em pelo menos metade dos dias do ano. Segundo os pesquisadores, esse tipo de poluição afeta cerca de 20 milhões de brasileiros ou 10% da população do País. Os dados utilizados foram obtidos do satélite do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de 2010 a 2019. O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT), da Fundação Oswaldo Cruz do Piauí (Fiocruz Piauí), da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a Dra. Mariana Matera Veras, bióloga e chefe do Laboratório de Patologia Ambiental e Experimental (LIM05) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP), essas queimadas acontecem algumas vezes por ano em períodos mais secos, mas estão se tornando cada vez mais frequentes. “O poluente que é tratado no estudo a gente chama de material particulado 2,5. O [particulado] 2,5 se refere ao tamanho dessa partícula, então ela é muito pequenininha, capaz de entrar nos nossos pulmões e atravessar barreiras de proteção, cair na corrente sanguínea e fazer bastante mal para nossa saúde.”
Essa poluição, por sinal, é diferente da observada nos centros urbanos, e a principal diferença é a concentração desse poluente particulado. “Quando você tem uma queimada, a concentração é extremamente alta e por consequência quando você inala esse ar, a quantidade desse material particulado é muito alta. O que é interessante deste estudo é que eles desenvolveram um indicador para se estimar a exposição dessas populações, porque nessas regiões nós não temos redes de monitoramento de qualidade do ar como na cidade de São Paulo”, explicou a Dra. Mariana.
Riscos para a saúde
A pesquisa utilizou dados de monitoramento por satélite e também dados gerados pelo Sinan de pontos de queimadas nas regiões. A partir disso, se fez um modelo para estimar o número de dias no ano ou no mês em que a concentração desse poluente está acima de 15 microgramas por metro cúbico. A estimativa também busca datar os dias de poluição acima do recomendado pela OMS.
A partir da coleta desses dados, se tem uma dimensão dos impactos diversos para a saúde dos que estão expostos a esse tipo de poluição. “Essas partículas [poluentes] são muito ricas em hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. Entre esses compostos, alguns são carcinógenos já conhecidos, e um estudo do nosso laboratório avaliou o potencial carcinogênico desta partícula e descobriu que essas partículas geradas pela queima de floresta na Amazônia podem induzir mutações nas células que eventualmente podem levar ao câncer”, comentou a pesquisadora.
Outros riscos são aqueles observados, por exemplo, no tabagismo e podem ser de longo prazo. “A exposição à poluição do ar faz um mal muito semelhante ao cigarro, só que ela age mais lentamente. Em termos de efeitos vão ser os mesmos, principalmente no sistema respiratório e cardiovascular, mas existem outros quando a gente está falando desse volume de poluente muito alto, como irritação ocular, eczema e alergias respiratórias”, destacou a Dra. Mariana.
Também é preciso pontuar que a saúde mental é afetada, explicou a pesquisadora: “O que muitas vezes nós nos esquecemos é um impacto na saúde mental de quem lida para extinguir esse fogo e das pessoas no entorno com o medo e o calor gerado pelas queimadas”.
Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Cadernos de Saúde Pública.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP.
Fonte: Jornal da USP no Ar/Rádio USP. Imagem: Pixabay.
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