Notícia

Plantio de árvores não pode ser panaceia para solução de problemas ambientais

Reflorestamento tem de ser acompanhado de planejamento e ações integradas com a sociedade, advertem pesquisadores em artigo publicado na revista científica Science

Dr. Pedro H. S. Brancalion

Fonte

Jornal da USP

Data

sábado, 18 julho 2020 10:40

Áreas

Ciência Ambiental. Mudanças Climáticas. Reflorestamento.

O plantio de árvores tem sido promovido globalmente como panaceia para solução de problemas ambientais complexos como mudanças climáticas e extinção de espécies. Em artigo publicado na revista científica Science, o professor Dr. Pedro H. S. Brancalion, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), em Piracicaba, adverte que “é preciso planejar estratégias de controle e degradação florestal, equilibrando objetivos sociais, ecológicos  e econômicos, além de promover a articulação entre governo, empresas e comunidade científica para se obter resultados positivos”.

O artigo tem como autores o Dr. Pedro Brancalion e a pesquisadora Dra. Karen Holl, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, nos Estados Unidos. Trata-se de um artigo de perspectiva ou artigo opinativo, que geralmente é escrito por especialistas renomados da área de pesquisa em questão e que apresenta uma síntese do conhecimento existente sobre o tema, identificando lacunas de conhecimento e apontando caminhos futuros para a pesquisa.

Embora não desmereça as iniciativas de plantios de árvores, as quais considera bem-vindas e podem ajudar a gerar benefícios para a natureza e sociedade, o engenheiro agrônomo apontou que “não se pode ter uma visão romanceada da questão e achar que somente plantando árvores irá se resolver questões complexas”, afirmou o Dr. Pedro Brancalion ao Jornal da USP.

Segundo o pesquisador, é preciso envolvimento social e integração de ocupação e outros usos do solo. No Brasil, existem diversos exemplos em que mudas de árvores foram plantadas e não foram para frente, porque estavam em áreas tradicionalmente usadas para pastagens e foram reocupadas pelo gado pouco tempo após o plantio.

Como contraponto, e exemplo positivo, o professor cita o trabalho que vem sendo desenvolvido há alguns anos na Mata Atlântica do Brasil. As ações do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (PRMA), criado em 2009, buscam dialogar com  os diversos atores da sociedade,  a fim de obter bons resultados e benefícios sociais e econômicos para todos por meio da recuperação florestal. O Pacto tem sido um modelo de sucesso copiado em todo o mundo, diz o engenheiro que  é também vice-coordenador do PRMA.

Mudanças climáticas

O Dr. Pedro Brancalion rebateu inclusive que o simples plantio de novas árvores impacte as mudanças climáticas.  “O reflorestamento pode compensar, no melhor dos cenários, apenas em um terço das emissões de gases de efeito estufa”, disse o professor ao Jornal da USP.  Em sua opinião, é preciso ações interligadas de áreas diferentes e a intensificação da fiscalização ambiental para proteção das florestas já existentes, o que poderia ser mais efetivo em alguns contextos para reduzir a emissão de gases de efeito estufa.

Sobre o aspecto da biodiversidade, o pesquisador disse que o assunto exige parcimônia, porque dependendo de onde forem plantadas, as novas árvores poderão provocar, inclusive, danos ao meio ambiente, como é o caso dos campos e dos cerrados. “Quando árvores são inseridas nesses ecossistemas, o sombreamento poderá levar à morte de várias espécies de ervas nativas, algumas inclusive ameaçadas de extinção”, explicou o especialista.

Sobre a região amazônica, o pesquisador disse que é uma área de muitas complexidades, exigindo, assim, planejamento igualmente complexo. São inúmeros os interesses sociais, econômicos e ecológicos envolvidos de uso do solo e da mata, e que de alguma forma estes vieses precisam ser colocados à mesa para discussão e definição de ações, para não agravar ainda mais os conflitos ali existentes. São as demarcações de terras indígenas, regularização fundiária de grandes áreas de produtores rurais (de soja, por exemplo), pastagens, invasão de terras por grileiros e exploração de madeireiros e garimpeiros.

Acesse o resumo do artigo (em inglês).

Acesse a notícia completa no Jornal da USP.

Fonte: Ivanir Ferreira, Jornal da USP. Imagem: Plantio de árvores nativas para a recuperação de uma mata ciliar em Extrema, Minas Gerais. Fonte: Dr. Pedro H. S. Brancalion.

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