Notícia
Pesquisadores obtêm tijolos a partir de resíduos de gesso, porcelana e cerâmica
Os trabalhos provaram a reciclabilidade desses resíduos mantendo sua composição química, sendo possível reaproveitar o mesmo material várias vezes
Antoninho Perri, Jornal da Unicamp
Fonte
Jornal da Unicamp | Universidade Estadual de Campinas
Data
quinta-feira, 14 março 2019 10:00
Áreas
Construção Civil, Gestão Ambiental, Gestão de Resíduos, Tecnologias.
A reciclagem de resíduos de gesso da construção civil faz parte de uma linha de pesquisa conduzida há duas décadas pela professora Dra. Gladis Camarini, na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp. O resultado mais recente deste trabalho é a produção de tijolos a partir de gesso e resíduos de cerâmica e de porcelana, e teve artigo publicado na revista científica Construction and Building Materials, revista de impacto na área. “Desde 1999 temos avaliado a reciclagem de gesso de várias maneiras, visando obter um produto adequado para a construção, com baixo consumo energético e bom desempenho tanto mecânico como em relação à sua durabilidade. Os trabalhos provaram a reciclabilidade desses resíduos mantendo sua composição química, sendo possível reaproveitar o mesmo material várias vezes”, explica a docente.
O que também merece ser destacado sobre o artigo é que entre os autores estão Janaína Domingos de Souza e Sofia Campos, que quando da pesquisa eram alunas de iniciação científica do ProFIS – Programa de Formação Interdisciplinar Superior, voltado a egressos do ensino médio em escolas públicas. Ambas acompanharam todas as etapas da pesquisa, inclusive os ensaios especiais, sob a tutela de dois alunos de doutorado, Rodrigo Henrique Geraldo e Luiz Flávio Reis Fernandes. Foram usados gesso comercial e reciclado, com a incorporação de resíduos de cerâmica vermelha e de isolador térmico de porcelana, para se chegar a um produto de maior resistência mecânica com aplicação em edificações.
Segundo a orientadora Gladis Camarini, transformar resíduos gerados pela atividade humana em novos produtos é uma importante ferramenta para a busca da sustentabilidade e, na construção civil, esta é uma preocupação emergencial devido ao grande volume de resíduos poluentes. “Temos impactos importantes no meio ambiente, a começar pela extração da matéria-prima, pois para produzir cimento, é preciso calcário e argila e, para o gesso, a jazida de gypso. Segundo, porque temos segmentos da construção que apresentam enorme desperdício, sem muito controle sobre os resíduos – grandes construtoras ainda reaproveitam uma parte, mas as outras empresas não têm o hábito da reciclagem e jogam tudo no ambiente.”
Uma estimativa da Dra. Gladis Camarini é de que, em 2012, o Brasil coletou mais de 35 milhões de toneladas de resíduos da construção, que representam cerca de 55% do total de resíduos sólidos urbanos. A região Sudeste gerou mais de 18 milhões de toneladas/ano e, somente a cidade de São Paulo, responde por cerca de 100.000 toneladas/ano de resíduos de gesso – com uma pequena fração recolhida por algumas empresas visando, por exemplo, a produção de gesso acartonado (para acabamento, em que se mistura papel cartão). “As jazidas de gypso estão no Norte e Nordeste, sendo as de Pernambuco as mais exploradas. O centro consumidor é São Paulo e, apesar do custo de transporte, trata-se de um produto barato, não havendo uma utilização racional nas obras, Uma pesquisa nossa mostra que, do gesso que entra numa construção, entre 40% e 50% saem como resíduos.”
A pesquisadora aponta problemas ambientais sérios nos locais de extração, já que o gesso é contaminante do solo e, descartado em qualquer lugar, pode atingir o lençol freático – na verdade, os resíduos deveriam ser depositados em aterro especial, o que nem sempre é cumprido devido ao custo elevado. “No Polo Gesseiro do Araripe [PE], trabalhadores e moradores sofrem com a poeira, por se tratar de uma rocha que é dinamitada e moída. Na fábrica temos o chamado ‘gesso de varrição’, que o trabalhador passa o dia varrendo e aspirando o material particulado. Os moradores das cidades do entorno também respiram a poeira, que obviamente afeta a saúde.”
Acesse a notícia completa no Jornal da Unicamp.
Fonte: Luiz Sugimoto, Jornal da Unicamp. Imagem: Antoninho Perri, Jornal da Unicamp.
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