Notícia

Pesquisadores estudam propriedades e aplicações do bambu como material alternativo para a construção civil

De crescimento rápido e cultivo simples, gramínea é apontada por especialistas como uma opção para reduzir o uso do cimento e do aço, indústrias que figuram entre as maiores emissoras de gases do efeito estufa do planeta

Freepik

Fonte

Jornal da Unesp

Data

quinta-feira, 27 julho 2023 13:40

Áreas

Arquitetura. Construção Civil. Engenharia Ambiental. Engenharia Civil. Gestão de Resíduos. Inclusão Social. Materiais. ODS. Sustentabilidade. Tecnologias.

A construção civil é um setor de alto impacto quando se trata de emissões de gases de efeito estufa. Isso porque alguns dos principais materiais usados no desenvolvimento de casas e de obras de infraestrutura, como o cimento ou o aço, emitem grandes quantidades de carbono em sua produção. Um relatório publicado pela Agência de Avaliação Ambiental da Holanda, em 2015, aponta a indústria do cimento como responsável por 8% das emissões globais causadas pelo homem, em virtude das reações químicas necessárias à fabricação do cimento e do calor necessário para aquecer os fornos onde essas reações ocorrem.

Da mesma forma, a produção do aço foi responsável, em 2020, por 7 a 9% das emissões de gases do efeito estufa, segundo a WorldSteel, associação industrial que representa cerca de 8% dos produtores mundiais da liga metálica. As emissões na siderurgia, em grande parte, estão relacionadas ao uso dos alto-fornos e do carvão no processo de redução do minério de ferro. Para se ter uma ideia do impacto, se fossem países, as indústrias tanto do cimento quanto do aço, seriam o terceiro e quarto maiores emissores de gases do efeito estufa do planeta, atrás apenas de Estados Unidos e China.

Buscar processos e materiais construtivos que substituam ou consigam reduzir o consumo desses materiais pode colaborar para a redução das emissões de carbono.

Bambu como opção de material construtivo

Uma opção promissora para o desenvolvimento de aplicações na construção é o bambu, uma gramínea extremamente versátil, de crescimento vertiginoso e de fácil adaptação e cultivo, uma vez que não necessita replantio: à medida que a planta cresce, novos ramos brotam da própria moita. Essas e outras qualidades têm despertado o interesse de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), como a Dra. Juliana Cortez Barbosa, professora do Instituto de Ciências e Engenharia da Unesp em Itapeva, que lidera o grupo de pesquisa ‘Ligno – Desenvolvimento de Produtos Lignocelulósicos’. “O bambu tem uma primeira vantagem que é o fato de ele não estar concorrendo com o papel e a celulose”, afirmou a professora ao enumerar as vantagens da planta. Além disso, explicou, a gramínea possui um sistema radicular muito forte capaz de combater a erosão do solo e colaborar no abastecimento de água nas nascentes.

Nos últimos anos, o grupo de pesquisa tem se dedicado a pesquisas relacionadas especialmente à produção de compósitos de madeira reforçados com lâminas de bambu para aplicação na indústria moveleira e da construção. Esta linha de pesquisa trabalha com as madeiras ‘engenheiradas’, que recebem esse nome porque saíram da floresta e foram selecionadas para passarem por um processo industrial de corte na forma de tábuas, lâminas ou partículas, de modo a facilitar a sua colagem e, consequentemente, a formação de um novo produto, cujas propriedades físicas são reforçadas.

Entre os trabalhos realizados pelo grupo, painéis engenheirados conhecidos como CLT (madeira laminada cruzada), fabricados a partir da madeira de pinus, foram colados com resina de poliuretano à base de óleo de mamona e reforçados externamente com tiras de bambu da espécie Dendrocalamus asper. Os testes de rigidez e de resistência para o uso dos painéis como paredes foram publicados na revista científica Bioresources e apontaram um significativo ganho de resistência do material.

“Uma das conclusões que tivemos é que incluindo duas camadinhas de bambu em cima e embaixo do painel de pinus você quintuplica a resistência mecânica dessa peça”, destacou a professora Juliana Barbosa, que por enquanto testou apenas um reforço da madeira com bambu. “Nós ainda não temos uma disponibilidade muito grande de bambus e por isso começamos a trabalhar com peças de madeira engenheiradas. Assim que tivermos mais bambus disponíveis testaremos as vigas todas em bambu”.

A professora explicou que, ao longo das pesquisas realizadas com estes produtos compensados e laminados, o formato cilíndrico do bambu acabou gerando uma quantidade grande de resíduos. Para aproveitar esse material, o grupo realizou outro estudo, publicado na revista Pesquisa Agropecuária Tropical, em que esse resíduo em pó é reaproveitado na forma de painéis particulados. Na ocasião, os pesquisadores também substituíram o formaldeído usado para dar unidade à peça por elementos mais sustentáveis, como a resina à base de óleo de mamona ou ácido cítrico.

Os resultados apontaram que a maioria dos painéis de partículas de bambu desenvolvidos no laboratório atendeu às normas internacionais aplicadas aos painéis de partículas de madeira, em especial no que se refere às propriedades mecânicas, embora o texto destaque que a absorção de água e a dilatação da espessura ainda precisam ser melhoradas. O artigo concluiu que o processo de produção mais simples e o fato de a diversidade de espécies de bambu indicarem baixos custos e recursos abundantes para a fabricação dos painéis tornam o bambu uma alternativa adequada para o uso em moradias e móveis.

Acesse o artigo científico completo publicado na revista Bioresources (em inglês).

Acesse o artigo científico completo publicado na revista Pesquisa Agropecuária Tropical (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unesp.

Fonte: Marcos do Amaral Jorge, Jornal da Unesp. Imagem: Freepik.

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