Notícia

Pesquisadores divulgam registros de tecnologia inédita de monitoramento da Amazônia

Tecnologia inédita faz primeiro registro de monitoramento de animais na Amazônia

Instituto Mamirauá, Divulgação.

Fonte

MCTIC | Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações

Data

segunda-feira, 7 maio 2018 14:00

Áreas

Biodiversidade, Conservação, Gestão Ambiental

Com o filhote a tiracolo, uma fêmea de macaco-prego faz seu caminho pela floresta até subir numa árvore em busca de alimento. Este pode até parecer um registro comum, mas a cena ganha contornos inéditos por representar um importante passo no conhecimento sobre a Amazônia. Trata-se do primeiro registro oficial de um sistema pioneiro para monitorar a biodiversidade em tempo real. Em abril, os pesquisadores concluíram os testes para o funcionamento desta tecnologia inédita, que pode ser uma poderosa aliada na conservação das espécies na Amazônia.

O projeto Providence, colaboração científica internacional liderada no Brasil pelo Instituto Mamirauá, é formado por uma rede de 10 sensores instalada na floresta amazônica. Os equipamentos foram colocados numa área de 3,5 milhões de hectares onde estão as reservas Mamirauá e Amanã – duas das maiores unidades de conservação do país.

Os módulos da tecnologia Providence são equipados com câmeras e microfones, que vão captar, 24 horas por dia, o movimento e o comportamento da vida que habita o interior da floresta.

O grande avanço trazido pela tecnologia é a sua capacidade de identificar espécies de animais por imagem e som e enviar essas informações automaticamente, por satélite, wifi ou 3G, de qualquer lugar para um banco de dados. A ideia é criar um observatório da biodiversidade da Amazônia de fácil acesso para a sociedade.

Segundo o pesquisador Dr. Emiliano Ramalho, do Instituto Mamirauá, na próxima fase, o projeto Providence terá uma plataforma online para acesso livre e gratuito à informação gerada a partir da tecnologia.

“Queremos que essas informações sejam úteis para outros pesquisadores, para que a ciência avance. Que o sistema seja usado como ferramenta de educação, de manejo de recursos naturais e conservação pelas comunidades locais e gestores de unidades e, de maneira geral, ser usado para enviar uma mensagem para todo o mundo sobre o que está acontecendo com a biodiversidade na Amazônia”, afirma Ramalho, que é coordenador do projeto Providence.

Ele ressalta que o Providence foi criado para superar os desafios que as ações de conservação da Amazônia exigem. “Um sistema inteligente, eficaz e sustentável, com alcance e resultados mais amplos que os métodos tradicionais de monitoramento.”

Tecnologia 

O Providence é composto por dois módulos de imagem e som que operam em conjunto para gravar e identificar espécies da fauna. Graças ao clima quente e úmido da Amazônia, o sistema é alimentado com painéis de energia solar. Para evitar consumo desnecessário, parte dos dispositivos funciona em estado semidormente, ou seja, é ativada somente quando um animal se aproxima. Completando a estrutura, antenas transmitem o material – fotos e áudios – para o banco de dados do projeto.

Para a comunicação ser bem-sucedida, as antenas da tecnologia foram instaladas em pontos altos da floresta, em geral, árvores de grande porte, a exemplo da urucurana e do apuí. “Um módulo sonoro também foi implantado dentro de um lago para registrar sons de espécies subaquáticas, como o boto cor-de-rosa e o tucuxi”, explica o pesquisador Michel André, do Laboratório de Aplicações Bioacústinas da Universidade Politécnica da Catalunha, que integra a colaboração científica Providence.

André lembra que as tecnologias de som são um valioso recurso de monitoramento uma vez que conseguem alcançar distâncias maiores de captação do que os dispositivos de imagem. “Então, mesmo que não tenhamos a imagem do animal, seremos capazes de identificá-lo pelo som que emite.”

Os módulos de som do Providence têm dois microfones – um para frequências sonoras audíveis por seres humanos e outro para sons que escapam aos nossos ouvidos, como os produzidos por morcegos.

Já os módulos de imagem são “os olhos” do sistema e estão habilitados para firmar bichos à luz do dia, na escuridão da mata à noite (com o auxílio de lentes infravermelho) e mesmo em condições climáticas adversas, como em temporais. “Com os testes feitos ao longo do ano passado até o momento, conseguimos adaptar os equipamentos às condições desafiadoras da Amazônia”, ressalta o cientista Paulo Borges, da organização científica CSIRO, da Austrália.

A identificação das espécies é feita por um sistema de inteligência artificial desenvolvido pelo Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas. O sistema, de acordo com a pesquisadora Eulanda Santos, está sendo treinado para reconhecer mais de dezespécies de animais característicos da Amazônia, como a onça-pintada e duas espécies de mutum.

Com os testes realizados em março na Reserva Mamirauá, o projeto Providence encerra a primeira fase de suas atividades. Nela, dez sensores foram instalados em diversas partes da reserva, provando que a tecnologia funciona em uma das regiões mais desafiadoras do mundo – as florestas inundáveis de várzea da Amazônia.

Revolução 

Na próxima fase, serão instalados cem sensores para monitorar toda a extensão da Reserva Mamirauá, “tornando a primeira reserva do mundo a ser monitorada 24 horas por dia”, segundo o pesquisador Emiliano Ramalho. Nesta etapa, também será lançado o site do projeto Providence, para acesso público.

A terceira fase completa o projeto com a instalação de mil sensores ao longo de toda a Amazônia brasileira e, possivelmente, em outros países.

Além disso, segundo Ramalho, a ideia é expandir o Providence para unidades de conservação do governo federal por meio de uma parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio). “Será um avanço imenso, uma revolução na forma como se faz monitoramento de biodiversidade no Brasil.”

Fonte: MCTIC. Imagem: João Cunha, Instituto Mamirauá.

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