Notícia
Pesquisadora estuda produção de compósitos utilizando fibra amazônica, o tururi, e resina de poliuretano a base de mamona
O tururi é oriundo dos cachos de frutos da palmeira ubuçu, uma espécie nativa amazônica presente na Venezuela, Colômbia, Guianas e Brasil, onde é encontrada principalmente nos estados do Amazonas, Pará e Amapá
Kelen Soares via Flickr
Fonte
IPT | Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
Data
segunda-feira, 14 março 2022 06:10
Áreas
Conhecimento Tradicional. Inovação. Novos Materiais.
A união entre engenharia e design pode ser favorável ao desenvolvimento de materiais: é por meio dessa atividade de projeto que novas experiências surgem e criam impacto positivo, e o designer pode influenciar a criação de materiais requisitando comportamentos técnicos, de processamento ou estéticos específicos.
Essa interação é hoje beneficiada pelo fato de que é cada vez mais comum a utilização de novos materiais no projeto de produtos como resposta às crescentes demandas ambientais, já que oferecem a possibilidade de substituição de materiais comumente utilizados e que podem ser extremamente poluentes por alternativas ambientalmente corretas.
Para atender a essa combinação de experimentação e de necessidade de utilização de materiais sustentáveis no projeto de produtos, Amanda Monteiro – bacharela em Design pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) e mestra em Têxtil e Moda pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) – buscou desenvolver um método para produção de compósitos com a técnica de infusão a vácuo, utilizando um material fibroso natural e encontrado na região amazônica, o tururi, e a resina de poliuretano à base de mamona.
Amanda Monteiro desenvolveu o projeto dentro do programa de Design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e do Programa Novos Talentos do Instituto de Pesquisa Tecnológicas (IPT): “Em meu doutorado tenho como objetivo desenvolver um protocolo metodológico para auxiliar designers na criação de novos materiais de forma artesanal, e aplicá-los no projeto de produtos orientados pelo processo de desenvolvimento, suas propriedades físicas e também da experiência dos usuários com os mesmos”.
Ela escolheu utilizar o tururi pela sua familiaridade e o longo trabalho de pesquisa já realizado com a fibra: ela está pesquisando este material desde a graduação, e durante o mestrado realizou sua caracterização físico-química e acompanhou os processos de extração, beneficiamento e aplicação em produtos artesanais em uma comunidade ribeirinha no Pará, na cidade de Muaná.
O tururi é oriundo dos cachos de frutos da palmeira ubuçu, uma espécie nativa amazônica presente na Venezuela, Colômbia, Guianas e Brasil, onde é encontrada principalmente nos estados do Amazonas, Pará e Amapá. As palmeiras ubuçu são encontradas de maneira dispersa nas matas de várzea e em ilhas e não há conhecimento até o momento de projeto de silvicultura da palmeira. A coleta é feita de maneira artesanal pela população ribeirinha, que utiliza métodos tradicionais para o corte, como facões e peçonhas.
Sobre a resina à base de poliuretano vegetal, a escolha foi devido à revisão bibliográfica que apontou o material como uma alternativa mais sustentável no desenvolvimento de compósitos, já que é oriunda de fonte renovável (mamona). Os compósitos confeccionados com esta resina apresentam características como alta durabilidade, grande resistência aos raios ultravioleta, estanqueidade a líquidos e a gases e excelente penetração nos poros da superfície.
Infusão a vácuo
Para a fabricação dos compósitos foi utilizada a técnica de infusão a vácuo que a pesquisadora aprendeu durante seu mestrado, quando realizou parte da pesquisa na Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos: “Esta é uma técnica de injeção de resina alternativa aos processos manuais em molde aberto para a criação de compósitos. O processo caracteriza-se pela utilização de um molde flexível, que é submetido ao vácuo a fim de injetar a resina para o interior do material de reforço”, explicou a pesquisadora.
Um dos maiores desafios agora no doutorado foi adequar o processo à realidade brasileira, testando diferentes variáveis para que fosse possível reproduzir a técnica em laboratórios menores e com maquinário passível de ser adquirido nacionalmente. “Nosso desejo era gerar uma alternativa que possibilitasse sua replicação em outras universidades e laboratórios no Brasil. Existem muitas pesquisas sobre esse tipo de processo, todavia elas requerem maquinários que não estão disponíveis no país, ou que são muito custosos”, ressaltou Amanda Monteiro.
Sobre o atual estágio na produção de compósitos a partir de materiais sustentáveis no Brasil, Amanda afirmou que nos últimos anos houve um crescimento de esforços nessa temática, sendo que a preocupação com os materiais sustentáveis extrapolou a área da engenharia de materiais – isso demonstra, em sua opinião, um esforço multidisciplinar para desenvolver, caracterizar e gerar produtos originais utilizando materiais sustentáveis e aproveitar as potencialidades do país.
Acesse a notícia completa na página do Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
Fonte: IPT. Imagem: Manicaria saccifera (Palmeira ubuçu). Fonte: Kelen Soares via Flickr.
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