Notícia

Pesquisa revela rede oculta de interações ecológicas

Pesquisa realizada no campo rupestre da Serra do Cipó revelou como a interação de uma terceira espécie influencia a relação entre pares de espécies e, consequentemente, entre toda a comunidade

Professor Dr. Geraldo Wilson Fernandes, UFMG e Peld-CRSC

Fonte

FAPEMIG | Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

Data

domingo, 4 junho 2023 11:30

Áreas

Biodiversidade. Biologia. Ecologia. Geografia. Monitoramento Ambiental. Saúde Ambiental. Zoologia.

Pela primeira vez um estudo comprovou experimentalmente a existência de uma extensa rede oculta de interações entre espécies. A pesquisa foi desenvolvida no âmbito do sítio de Pesquisas de Longa Duração nos Campos Rupestres da Serra do Cipó (PELD-CRSC) observando uma comunidade de artrópodes (insetos herbívoros, predadores e parasitas) e sua planta hospedeira (Baccharis dracunculifolia) – o alecrim-do-campo, na Serra do Cipó. Os estudos foram desenvolvidos pelo pesquisador Dr. Milton Barbosa da Silva Júnior durante seu doutorado na Universidade de Oxford, no Reino Unido. O Dr. Milton é atualmente pós-doutorando no Environmental Change Institute da Universidade de Oxford.

Os resultados foram divulgados em um artigo publicado na revista científica Current Biology com a autoria do pesquisador, sua orientadora Dra. Rebecca Morris e o coordenador do Laboratório de Ecologia Evolutiva da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do sítio Peld-CRSC, o professor Dr. Geraldo Wilson Fernandes.  “Entender um sistema com qualidade em ecologia muitas vezes precisa de experimentos claros e este foi um deles. Por isso, essa enorme repercussão mundial do artigo”, destacou o professor Geraldo Fernandes.

Implicações

A modificação nas interações entre um par de espécies por uma terceira espécie é muito pouco entendida. O professor Geraldo Fernandes contou que costumamos simplificar as relações presentes na natureza. Um predador e sua presa, um parasito e seu hospedeiro, duas espécies que competem entre si, mas, na verdade, existe ali uma rede de interações invisíveis. “Oscilações nas populações das espécies interagentes podem causar um distúrbio enorme […] assim como acontece com as zoonoses. Às vezes temos um sistema supercontrolado e de forma dinâmica lá no meio de uma floresta, mas, à medida que destruímos e fragmentamos as nossas savanas, campos e florestas, você pode causar um efeito não esperado como o surgimento de novas pragas que podem transmitir novas doenças”, explicou o professor.

O pesquisador disse que milhares de espécies estão em extinção devido a alterações drásticas promovidas pela ação humana. As interações são muito importantes para compreender como um ecossistema é formado e como ele evoluí e, especialmente, fundamentais para promover a restauração de um ambiente degradado, preservar a presença de polinizadores e a qualidade da água.

Pioneirismo

O Dr. Geraldo Fernandes destacou que o alecrim-do-campo é uma espécie alvo das pesquisas do grupo há décadas. A sua relação com os insetos que interagem com ela como polinizadores, ou aqueles que se alimentam das suas folhas e induzem tumores nos seus brotos já era muito conhecida pelos pesquisadores. A pesquisa nasce da observação de que algumas dessas espécies eram mais abundantes que outras, algo comum em muitos sistemas. “O que fizemos foi, seletivamente, remover uma espécie e observar como surgiriam novos insetos nessa planta […] nós também adicionamos tumores causados por insetos em alecrim-do-campo de outros ambientes e observamos essa dinâmica”. Isso mostrou claramente como a rede de interações tróficas muda dramaticamente diante da supressão de uma espécie ou a adição de outras.

Segundo o pesquisador, o desaparecimento de uma pequena espécie pode, inclusive, ter efeitos irreversíveis. “Eu tenho certeza de que este artigo é um bom modelo para demonstrar a fragilidade dos nossos ecossistemas, principalmente, nas regiões tropicais onde nós temos milhares de espécies raras”, disse o professor. Estudos em longo prazo como este são importantes para a viabilidade das grandes descobertas. “Nós colocamos um tijolo nessa grande parede que é o conhecimento. É muito importante que estudos experimentais continuem sendo feitos para compreender a relação de causa e efeito na ecologia”, concluiu o professor Geraldo Fernandes.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais.

Fonte: Júlia Rodrigues, FAPEMIG. Imagem: formiga sobre o alecrim-do-campo. Fonte: Professor Dr. Geraldo Wilson Fernandes, UFMG e Peld-CRSC.

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