Notícia
Pesquisa indica relevância de monitorar qualidade da água com precisão
Estudo realizado em município no interior do estado de São Paulo usando a técnica de citometria de fluxo identificou a presença de bactérias em caixas d’água residenciais
rawpixel via Freepik
Fonte
UFSCar | Universidade Federal de São Carlos
Data
segunda-feira, 22 janeiro 2024 12:40
Áreas
Biotecnologia. Cidades. Engenharia Ambiental. Microbiologia. Políticas Públicas. Qualidade da Água. Saneamento. Saúde. Tecnologias.
A presença de bactérias na água usada para consumo humano em geral não é um problema, já que é mais comum que elas não causem malefícios à saúde humana. No entanto, essa situação pode se inverter dependendo do tipo e da quantidade dessas bactérias, que não são detectadas pelos métodos comumente usados no Brasil para monitoramento de qualidade da água no processo de tratamento, distribuição e armazenamento.
Estudo realizado em município no interior do estado de São Paulo, usando a técnica de citometria de fluxo, mais sensível que aquelas usadas tradicionalmente para essa função, identificou a presença de bactérias em caixas d’água residenciais, em um conjunto de 36 amostras coletadas em pontos distintos da cidade. O resultado, publicado recentemente, apontou que a aplicação da técnica pode ser ferramenta muito útil no monitoramento do crescimento bacteriano após as estações de tratamento, permitindo averiguar possíveis contaminações.
A pesquisa foi desenvolvida por Leandro Manoel Afonso Mendes, estudante de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sob orientação do Dr. Hugo Sarmento, professor do Departamento de Hidrobiologia da UFSCar. “A qualidade da água é o fator individual mais importante para garantir a saúde pública, e as estações de tratamento têm o compromisso de fornecer um suprimento seguro de água potável para a população, garantindo a ausência e limitando o crescimento de qualquer microrganismo que possa causar alguma doença”, destacou o professor Hugo Sarmento.
No entanto, o professor explicou que é comum as bactérias aparecerem durante os processos de tratamento e distribuição da água. “A presença dessas bactérias, na maioria das vezes, não causa malefícios à saúde humana, mas é preciso um controle rigoroso para garantir a qualidade da água fornecida”, avaliou o professor, que coordena o Laboratório de Biodiversidade e Processos Microbianos (LMPB), onde as amostras foram analisadas.
Normalmente, a contagem dos microrganismos é feita por técnica que utiliza placas de cultivo como um parâmetro geral de qualidade microbiana da água potável. O professor Hugo Sarmento indicou que diversos estudos demonstraram a presença de microrganismos na água potável ou em biofilmes utilizando técnicas mais sensíveis como a citometria de fluxo, que ainda não é utilizada no Brasil com esta função: “Este método é utilizado para enumeração direta das concentrações totais de células na água, utilizando marcadores de ácidos nucléicos fluorescentes e detecção de características específicas de cada célula. Existem na literatura relatos de detecção de microrganismos, alguns patógenos, em água de distribuição, reforçando a importância de tais achados para a saúde coletiva”, destacou o professor da UFSCar. Ele reforçou, também, que esses estudos estão concentrados em países onde não existem caixas d’água residenciais no circuito de distribuição, um elemento que pode deteriorar a qualidade da água armazenada. “No hemisfério Norte, as pessoas não têm caixas d’água individuais. São grandes reservatórios por bairro, controlados por empresas”, relatou.
Resultados
Os pesquisadores apontam que foi constatada a presença de bactérias no interior dos reservatórios analisados e nas entradas das caixas d’água, em concentrações condizentes com os resultados de estudos realizados em outros países. “Observamos uma forte correlação entre as concentrações de bactérias na água entregue pela empresa pública de saneamento e na água das caixas d’água, com maiores concentrações de bactérias nestas últimas, em geral”, registraram.
Outra análise buscou relacionar a presença das bactérias à higienização dos reservatórios, cujo intervalo variou entre períodos de três meses a 20 anos. Os resultados indicam que se a água já chegar aos reservatórios com as bactérias, a limpeza das caixas d’água não fará diferença. “No entanto, é primordial que seja feita a limpeza periódica dos reservatórios”, destacaram.
“Nossos resultados mostram que empresas de saneamento deveriam buscar meios de implementação da citometria de fluxo como ferramenta conjunta de monitoramento do processo de tratamento, distribuição e armazenamento de água potável, principalmente para detecção e quantificação esporádica de bactérias, tal como já se faz atualmente em outros países”, concluiu o Dr. Hugo Sarmento.
O professor conta que a citometria de fluxo já é usada em países como a Suíça, por exemplo, de forma ágil, permitindo detecção precoce de bactérias e tomada de providências em caso de necessidade. A pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Os resultados foram publicados na revista científica Recursos Hídricos.
Acesse o artigo científico completo (em português).
Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de São Carlos.
Fonte: Gisele Bicaletto, UFSCar. Imagem: rawpixel via Freepik.
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