Notícia

Pesquisa aponta desafios na gestão de resíduos sólidos no Brasil

Pesquisa realizada na UFSCar avaliou como diferentes atores envolvidos se comportam e interagem em relação à Política Nacional de Resíduos Sólidos

frimufilms via Freepik

Fonte

UFSCar | Universidade Federal de São Carlos

Data

domingo, 15 janeiro 2023 12:15

Áreas

Cidades. Ciência Ambiental. Economia Solidária. Educação Ambiental. Engenharia Ambiental. Gestão de Resíduos. Materiais. Negócios. Políticas Públicas. Reciclagem. Sociedade. Sustentabilidade. Tecnologias.

A gestão de resíduos sólidos no Brasil tem um marco em 2010, com o estabelecimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, Lei nº 12.305), após 20 anos de debate no Congresso Nacional. No entanto, sua implementação segue insatisfatória.

Para explorar possíveis causas e indicar caminhos de aprimoramento, pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCAm) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) avaliou o arranjo de governança da Política, ou seja, como diferentes atores envolvidos se comportaram e interagiram ao longo deste processo.

Os resultados obtidos apontam baixa articulação entre esses atores – e, especificamente, ausência de atuação integrada entre ministérios – e estado crítico de vulnerabilidade de catadores e catadoras, dentre outras conclusões.

Para essa avaliação, foram realizadas 36 entrevistas, com atores selecionados para permitir a análise da articulação entre as três esferas políticas (federal, estadual e municipal) envolvidas na PNRS e vários grupos de interesse – de empresas a catadores e catadoras e à sociedade como um todo. Esse grupo abrangeu, por exemplo, representantes de ministérios; da Câmara dos Deputados; Confederação Nacional dos Municípios; Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (ASSEMAE); Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe); e Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), dentre outras instituições.

A pesquisa foi realizada no escopo da tese de doutorado de Cristine Diniz Santiago em Ciências Ambientais pela UFSCar, sob orientação da Dra. Erica Pugliesi, professora do Departamento de Ciências Ambientais da Instituição. A metodologia da pesquisa qualitativa utilizou o process tracing, técnica que busca mapear processos pela descrição minuciosa de uma série de eventos. “A ideia é delimitar um determinado momento da história – neste caso, o contexto da implantação da PNRS e anos depois – e ‘abrir’ aquilo: quem fez o que? Por que acontece cada problema, cada avanço, e como foi?”, explicou a Dra. Cristine Santiago.

Para a definição das pessoas entrevistadas, utilizou-se o método chamado de ‘bola de neve’, em que se inicia por contatos considerados chave, que vão indicando outros, e assim sucessivamente, até que as primeiras pessoas entrevistadas voltam a ser indicadas, o que evidencia a saturação do ciclo. Segundo a pesquisadora, este é um método importante para captar o conhecimento tácito, não registrado em documentos, que fica na oralidade e na memória das pessoas. “É importante entender como tudo aconteceu para justamente enxergarmos como podemos sair disso”, acrescentou a pesquisadora.

Os resultados obtidos apontam baixa articulação entre os grupos envolvidos com a temática nos últimos anos, o que prejudica a descentralização (que está na PNRS e é positiva, se feita de forma articulada) e a atribuição de responsabilidades.

No âmbito federal, o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) – nome à época da pesquisa, de 2019 a 2022; hoje, o atual Ministério das Cidades – e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) não trouxeram atuações integradas.

“O MMA, o MDR e a Funasa precisam estar articulados, pois os três têm competências na PNRS. A gestão envolve processos complexos, de transporte e tratamento à destinação adequada dos resíduos, além de coleta seletiva, de orgânicos e de rejeitos. É preciso que todos no Governo Federal ‘disseminem’ ou ‘cobrem’ dos municípios as mesmas ações – caso contrário, acontece o que mostrou a realidade a partir de 2016: cada um estabelece sua forma e critérios de gastos e lógicas, gerando confusão para o município e descoordenação da política, que, por sua vez, não caminha”, destacou a Dra. Cristine Santiago.

Outra questão crítica é o estado de vulnerabilidade de grupos essenciais para a gestão dos resíduos, como catadores e catadoras – responsáveis por 90% do material reciclado no País.

“A proximidade do Governo Federal com o movimento dos catadores (MNCR) – muito forte em 2010, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando a PNRS foi instituída – teve uma grande queda a partir de 2016. Análises documentais e entrevistas corroboram que praticamente todas as decisões na área de resíduos nos anos recentes não consideraram a participação social, por onde os catadores poderiam participar, demonstrando a vulnerabilidade desses grupos e um maior interesse, por parte do Governo Federal, em se articular com o setor privado, trazendo uma visão tecnicista”, ponderou a pesquisadora.

Acesse a tese ‘Governança da Gestão de Resíduos Sólidos Brasileira: Caminhos para a Efetivação da Política Nacional de Resíduos Sólidos’.

Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de São Carlos.

Fonte: Adriana Arruda, UFSCar. Imagem: frimufilms via Freepik.

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