Notícia

Pesquisa aborda plantas medicinais usadas para tratar problemas do sistema reprodutor feminino

As práticas relacionadas ao uso de plantas medicinais tem um caráter interdisciplinar, onde as áreas da ciência e os saberes tradicionais se entrelaçam e se complementam

Jorge Izaquiel Alves de Siqueira

Fonte

UFPI | Universidade Federal do Piauí

Data

quarta-feira, 6 novembro 2019 15:10

Áreas

Agroecologia, Conhecimento Tradicional, Saúde.

As práticas relacionadas ao uso de plantas medicinais tem um caráter interdisciplinar, onde as áreas da ciência e os saberes tradicionais se entrelaçam e se complementam, fazendo com que as experiências de importância biocultural com as plantas, transmitidas de geração em geração, tragam cada vez mais ensinamentos, ocupem espaço merecido em aplicações de pesquisas e provoquem o interesse de cientistas pelo mundo. Na Universidade Federal do Piauí – Campus Ministro Reis Velloso, o grupo de pesquisa “Biodiversidade do Baixo Parnaíba”, liderado pela professora Dra. Maria Helena Alves do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, tem dado uma atenção especial ao assunto, desenvolvendo pesquisas sobre o uso desses recursos vegetais.

O ex-bolsista do Programa PIBIC CNPq/UFPI, Jorge Izaquiel Alves de Siqueira, premiado em 2ª colocação no XXVII Seminário de Iniciação Científica (SIC), desenvolveu um estudo sobre as plantas medicinais para tratar problemas do sistema reprodutor feminino na comunidade Franco, Cocal, semiárido piauiense, documentando 20 práticas bioculturais utilizadas em sua maioria para tratar inflamações no útero. Em outro momento passado, durante o XXV SIC da UFPI (2016), sua pesquisa de Iniciação Científica Voluntária (ICV/2015-2016) relacionada à bioculturalidade sobre espécies vegetais em quintais rurais da comunidade rural Franco, sob orientação do professor Dr. Jesus Lemos, posicionou-se em 3º lugar, recebendo o “Prêmio Destaque da Iniciação Científica da UFPI”.

Segundo o Dr. Siqueira, o comportamento biocultural relacionado ao uso de espécies vegetais para tratar problemas do sistema reprodutor feminino está baseado em um conjunto de estratégias adaptativas compartilhado entre os moradores da comunidade Franco. Para exemplificá-lo, comenta que “na comunidade Franco diversas são as partes utilizadas da planta para tratar o mesmo problema, este achado pode ser uma evidência de estratégia adaptativa, aumentando as possibilidades de cura em situações que algumas espécies não estejam disponíveis para coleta e/ou ocorrentes em áreas de difícil acesso ou, ainda, que demandem o gasto de mais energia para o deslocamento”.

O Dr. Siqueira destaca que a escolha do tema surgiu da necessidade de compreender o comportamento humano relacionado ao uso e seleção de plantas medicinais para tratar problemas do sistema reprodutor feminino na comunidade rural Franco.

“As mulheres da comunidade usavam um conjunto de plantas para tratar alguns problemas de saúde, especialmente, inflamações no útero. Essas relatavam constantemente a dificuldade para encontrar algumas espécies na comunidade, resultado da forte pressão humana. Revisando os dados de pesquisas com enfoque etnobotânico para o Piauí, constatou-se que diversas eram as abordagens que reportavam plantas medicinais para tratar problemas do sistema reprodutor feminino, ainda que negligenciassem toda a dinâmica mais profunda sobre esta bioculturalidade. Assim, associamos a observação do problema na comunidade e das lacunas a serem preenchidas e delimitamos o design e/ou tipo de abordagem da pesquisa. Todo este contexto de delimitação do tema esteve apoiado em premissas ecológicas, de caráter biocultural e, inclusive, evolutivo”, explica.

Plantas medicinais e práticas abortivas

De acordo com Jorge Siqueira, no contexto das práticas abortivas, corrimentos e alterações menstruais, as preparações baseadas no uso Amburana cearensis (imburana-de-cheiro) e Enterolobium contortisiliquum (tamburil) foram as mais populares entre os entrevistados. “Ensaios clínicos com animais demonstram que os frutos de E. contortisiliquum podem provocar aborto e intoxicações agudas”. E acrescenta que, “o conhecimento sobre estas práticas se dissemina rapidamente, funcionando como estratégia de sobreaviso”, diz.

Uso das plantas e a troca dos saberes

Jorge Siqueira, explica que embora o conhecimento sobre o uso de muitas espécies é bem difundido entre os moradores da comunidade, os saberes não estão sendo transmitidos ao longo das gerações, com potencial de acarretar sérias implicações sobre a conservação da diversidade biológica e cultural local, especialmente sobre a saúde feminina.

Ele explica ainda que, muitos dos pesquisadores que lidam com esta área do conhecimento [etnobotânica ou ecologia biocultural] tendem a considerar as espécies mais conhecidas e/ou usadas como mais importantes, com potencial visível para aplicações biotecnológicas e/ou de bioprospecção.

“Negligenciam o viés ecológico e, muitas vezes, não consideram que o fato do conhecimento ser homogêneo pode sinalizar maior pressão antrópica sobre populações naturais dessas espécies. Além disso, a restrição desses conhecimentos em poucos moradores locais apresenta caráter negativo, uma vez que a morte e a migração dessas pessoas podem contribuir com a perda desses conhecimentos intraculturalmente. A abordagem desenvolvida na comunidade Franco é importante porque leva em consideração todos esses vieses, oferecendo oportunidades para o desenvolvimento de estratégias que enfoquem na conservação, proteção e resguardo da memória biocultural local, bem como pela documentação de dados importantes ao entendimento da sustentabilidade de sistemas médicos locais, apoiando-se na ideia de que os etnobotânicos devem trabalhar da comunidade para a comunidade. Esses dados se estruturam como a primeira abordagem com este perfil sobre este sistema corporal para o estado do Piauí”, disse.

Acesse a notícia completa na página da UFPI.

Fonte: Universidade Federal do Piauí. Imagem: Jorge Izaquiel Alves de Siqueira, UFPI.

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