Notícia
Pequenas partículas de plásticos também chegam ao cérebro
Pesquisadores descrevem mecanismo para romper a barreira hematoencefálica pela primeira vez
Dantor via Wikimedia Commons
Fonte
Universidade Médica de Viena
Data
segunda-feira, 24 abril 2023 06:05
Áreas
Biologia. Embalagens. Gestão de Resíduos. Materiais. Microbiologia. Qualidade da Água. Saúde Pública. Toxicologia.
Entre os maiores problemas ambientais da atualidade, as micro e nano partículas plásticas (MNPs) podem entrar no corpo de várias maneiras, inclusive através dos alimentos. E agora, pela primeira vez, uma pesquisa realizada na Universidade Médica de Viena (MedUni Viena), na Áustria, mostrou como essas minúsculas partículas conseguem romper a barreira hematoencefálica e, em consequência, penetrar no cérebro. O mecanismo recém-descoberto fornece a base para novas pesquisas para proteger os seres humanos e o meio ambiente. Os resultados do estudo foram publicados recentemente na revista científica Nanomaterials.
O estudo foi realizado em modelo animal com administração oral de MNPs, neste caso o poliestireno, um plástico amplamente utilizado e também encontrado em embalagens de alimentos. Liderada pelo Dr. Lukas Kenner, professor do Departamento de Patologia da MedUni Viena e pelo Dr. Oldamur Hollóczki, professor do Departamento de Físico-Química da Universidade de Debrecen, na Hungria, a equipe de pesquisa conseguiu determinar que minúsculas partículas de poliestireno poderiam ser detectadas no cérebro apenas duas horas após a ingestão. O mecanismo que lhes permitia romper a barreira hematoencefálica era anteriormente desconhecido da ciência médica. “Com a ajuda de modelos de computador, descobrimos que uma certa estrutura de superfície (coroa biomolecular) era crucial para permitir que partículas de plástico passassem para o cérebro”, explicou o professor Oldamur Hollóczki.
Pesquisando o impacto na saúde
A barreira hematoencefálica é uma importante barreira celular que impede que patógenos ou toxinas cheguem ao cérebro. O intestino tem uma parede protetora semelhante (barreira intestinal), que também pode ser rompida por MNPs, como vários estudos científicos têm demonstrado. Pesquisas intensivas estão sendo realizadas sobre os efeitos na saúde das partículas de plástico no corpo. As MNPs no trato gastrointestinal já foram associadas a reações inflamatórias e imunes locais e ao desenvolvimento de câncer. “No cérebro, as partículas de plástico podem aumentar o risco de inflamação, distúrbios neurológicos ou mesmo doenças neurodegenerativas, como Alzheimer ou Parkinson”, disse o professor Lukas Kenner, apontando que mais pesquisas são necessárias nessa área.
Restrição ao uso de MNPs
Os nanoplásticos são definidos como tendo um tamanho inferior a 0,001 milímetros (um milésimo de milímetro), enquanto alguns microplásticos, de 0,001 a 5 milímetros, ainda são visíveis a olho nu. Os MNPs entram na cadeia alimentar através de várias fontes, incluindo resíduos de embalagens. Mas não são apenas os alimentos sólidos que desempenham um papel importante, mas também os líquidos: de acordo com um estudo, qualquer pessoa que beba os recomendados 1,5 a 2 litros de água por dia em garrafas plásticas acabará ingerindo cerca de 90.000 partículas de plástico por ano no processo. No entanto, beber água da torneira pode – dependendo da localização geográfica – ajudar a reduzir esse número para 40.000.
“Para minimizar o dano potencial das partículas micro e nanoplásticas aos seres humanos e ao meio ambiente, é crucial limitar a exposição e restringir seu uso enquanto pesquisas adicionais são realizadas sobre os efeitos dos MNPs”, explicou o Dr. Lukas Kenner. O mecanismo recém-descoberto pelo qual os MNPs quebram as barreiras protetoras do corpo tem o potencial de avançar decisivamente a pesquisa nessa área.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Universidade Médica de Viena (em inglês).
Fonte: Universidade Médica de Viena. Imagem: microplásticos em pasta de dente, alguns com cerca de 30 µm de diâmetro. Fonte: Dantor via Wikimedia Commons.
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