Notícia
Olhar histórico sobre o clima: amostras evidenciam formação da biodiversidade amazônica
Estudo da Universidade Federal Fluminense verifica mudanças climáticas com amostra dos últimos dois milhões de anos
NASA/JPL - Caltech
Fonte
UFF | Universidade Federal Fluminense
Data
terça-feira, 18 julho 2023 11:50
Áreas
Biodiversidade. Biologia. Ciência Ambiental. Clima. Ecologia. Geociências. Geografia. Mudanças Climáticas. Recursos Naturais. Saúde Ambiental.
A Amazônia é uma região importante mundialmente. Ela abriga a maior biodiversidade do planeta, possuindo 50% de todas as espécies de plantas terrestres. A floresta e os seres vivos evoluíram em conjunto e são reflexo das oscilações climáticas ao longo dos anos.
Com a finalidade de compreender como o clima dos últimos dois milhões de anos influenciou a floresta e a diversidade biológica, a Universidade Federal Fluminense (UFF) tem investigado a evolução climática da Amazônia. O estudo é fruto de parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e com universidades e centros de pesquisa nos Estados Unidos: Universidade Duke, Universidade da Carolina do Leste, Universidade de Nebraska e Centro Nacional de Serviço Geológico dos Estados Unidos.
Inicialmente, uma parceria entre a UFF e a Universidade de Duke, em 2008, através do Dr. Cleverson Guizan, orientador do estudo e professor da UFF na área de geociências, possibilitou a coleta de sedimentos na Bacia da Foz do Amazonas. Esses testemunhos começaram a ser analisados tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. A continuidade das investigações revelou que uma das amostras possui o registro mais completo de tempo geológico, abrangendo o período quaternário, os últimos dois milhões de anos.
Os sedimentos coletados contêm uma mistura de materiais, alguns provenientes do continente (pela ação das chuvas e secas) e outros produzidos na coluna d’água. Dessa mistura é possível extrair informações geoquímicas para estabelecer uma linha cronológica de transformações. Como a região amazônica tem um longo período de evolução, essas mudanças ficaram registradas no sedimento. “Nós também estudamos as carapaças de microrganismos que vivem na coluna d’água e no fundo do mar. Quando esses organismos morrem, eles vão para o fundo e se incorporam aos sedimentos. As técnicas de análise das carapaças informam, principalmente, quais seriam as mudanças na temperatura da água. Assim, podemos associá-las às mudanças do clima e de precipitação”, comentou o professor Cleverson Guizan.
O estudo é desenvolvido pelo Dr. Allan Sandes, pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Dinâmica dos Oceanos e da Terra da UFF. De acordo com o professor Guizan e o Dr. Allan Sandes, a evolução climática funciona como um termômetro: ela auxilia na compreensão de como se formou a biodiversidade da região. Por isso, o objetivo do estudo contínuo é investigar as variações climáticas e as mudanças oceanográficas da Margem Equatorial do Atlântico Sul, na região da Amazônia. Em decorrência da crise climática atual, é importante compreender como funcionam os mecanismos climáticos desse local, a fim de propor ações efetivas para o futuro.
A pesquisa utilizou um testemunho extraído de um monte submarino na Bacia Pará-Maranhão, abrangendo os últimos 1,8 milhões de anos. No trabalho publicado pelo grupo de pesquisadores no primeiro semestre de 2023, foi apresentada a reconstrução da vegetação do período quaternário até a atualidade. As análises foram baseadas em dados de pólen, reconstruções de biomas e métricas de biodiversidade. Desse modo, foi possível documentar a história do bioma amazônico, o impacto do clima e da mudança de CO₂ nas vegetações.
Os resultados confirmam a sensibilidade da vegetação em relação às alterações de CO₂, de temperatura e à disponibilidade de umidade. “Observamos que, ao longo de dois milhões de anos, tivemos uma variação significativa na região equatorial do Brasil. Em muitos casos, resultou em longos períodos de seca, assim como em períodos mais chuvosos. Conhecemos uma Amazônia úmida e chuvosa. Mas, no tempo geológico estudado, parece que choveu mais do que agora, em razão das condições climáticas daquele período”, destacou o Dr. Allan Sandes.
O estudo constatou a presença da floresta tropical em áreas da bacia amazônica desde o período do Pleistoceno Médio. Durante o início da Transição do Pleistoceno Médio, a floresta tropical se expandiu pela Amazônia. Posteriormente, o resfriamento e a diminuição de CO₂ ocasionaram mudanças na floresta, com elementos mais frios e possivelmente mais secos. O clima global e a vegetação amazônica mudaram durante os últimos 400 mil anos. As altas temperaturas e os níveis de CO₂ nos estágios interglaciais, provavelmente, favoreceram a expansão da floresta tropical de planície.
A riqueza da amostra e a existência de outros sedimentos, que ainda não foram analisados, são o motivo da continuidade das pesquisas. As descobertas ajudam a entender como as mudanças climáticas afetariam a região equatorial e a América do Sul. De acordo com o Dr. Allan Sandes, os estudos mostram, na faixa de tempo de dois milhões de anos, como o clima variou. Logo, a partir da compreensão do comportamento climático deste território, é possível ter uma análise mais assertiva de um futuro climático para a região.
Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal Fluminense.
Fonte: Karinee Klein, UFF. Imagem: mega seca na floresta amazônica durante o verão de 2005 causou danos generalizados e mortandade de árvores. Fonte: NASA/JPL – Caltech.
Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que cadastrados no Canal Ambiental e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Ambiental, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.
Por favor, faça Login para comentar