Notícia

Nuvens de fase mista retardam o aquecimento global, mas apenas até certo ponto

À medida que o gelo nas nuvens derrete, as gotas refletem mais luz solar

Cassie Matias via Unsplash

Fonte

Universidade de Oslo

Data

quinta-feira, 29 outubro 2020 16:15

Áreas

Clima. Mudanças Climáticas.

Nuvens que contêm gotículas de água e cristais de gelo, as chamadas de nuvens de fase mista, têm um efeito de desaceleração no aquecimento global. Isso ocorre porque as nuvens refletem cada vez mais a luz solar à medida que o gelo se transforma em água.

Mas o que acontece quando todos os cristais de gelo se transformam em gotas? A doutoranda Jenny Bjordal e a Dra. Trude Storelvmo, professora do Departamento de Geociências da Universidade de Oslo, na Noruega, tentaram descobrir isso. “O que descobrimos é emocionante, mas também assustador”, disse a Dra. Storelvmo. Os resultados foram publicados na revista científica Nature Geoscience.

Nuvens de gelo e água

As nuvens que as pesquisadoras estudaram estão em áreas da atmosfera com temperaturas entre 0 e 38oC abaixo de zero. “A área onde encontramos a maioria delas é no Oceano Antártico. Eles também são encontrados em outros lugares, mas é onde a maioria deles está”, disse Jenny Bjordal.

Como cientistas do clima, eles não olham para as nuvens individuais e como elas mudam ou se movem. Eles estudam como as nuvens mudam em uma área durante um longo período de tempo – e se elas se movem em termos de altura, por exemplo. “Essas nuvens são uma mistura de cristais de gelo e gotas”, disse a professora Storelvmo.

“Quando o clima esquenta, mais cristais de gelo derretem. Então as nuvens refletem mais luz do sol”, explicou Jenny Bjordal.

Cada pequeno cristal de gelo se transforma em muitas gotas ainda menores, o que proporciona uma superfície maior. “Nesse sentido, esse tipo de nuvens nos ajudaram um pouco. Elas contiveram o aquecimento até agora”, disse a Dra. Storelvmo.

Efeito de feedback

O que acontece com essas nuvens é um exemplo do que é chamado de efeito de feedback. Temperaturas mais altas na Terra levam a mudanças nas nuvens, que por sua vez afetam a temperatura. Os efeitos de feedback podem ser positivos e negativos. O que os pesquisadores chamam de feedback positivo acontece quando a temperatura fica ainda mais alta. Neste caso, trata-se de feedback negativo para o clima, claro, mas positivo nos cálculos.

Nuvens de fase mista têm um feedback negativo. Quando fica mais quente, eles refletem mais luz. E portanto elas evitam que a luz solar atinja a terra. Positivo para o clima, mas contabilizado como feedback negativo. “Isso significa que [nesse caso] temos um aumento de temperatura menor do que teríamos sem esse efeito”, destacou Jenny Bjordal.

Quanto mais quente fica, mais o gelo [das nuvens mistas] derrete. Este efeito aumentará com o aumento da temperatura e manterá [o aquecimento] um pouco sob controle. Isso não para o aquecimento, mas diminui sua velocidade. Mas só até certo ponto.

O que acontece quando todo o gelo derrete?

“Enquanto existir gelo que possa derreter, as nuvens refletirão constantemente mais e mais. Mas, eventualmente, [isso] atingirá um nível constante, enquanto a temperatura continua subindo. Então a temperatura vai subir ainda mais rápido”, disse Jenny Bjordal.

“Então, não existirá mais esse efeito das nuvens [mistas] se tornando mais reflexivas. A partir daí, o aquecimento poderá ficar muito mais rápido. Isso significa que devemos, preferencialmente, evitar chegar a este ponto. Preferíamos estar onde ainda temos esse freio”, ressaltou a Dra. Storelvmo.

Atualmente não é possível determinar exatamente quando isso vai acontecer ou exatamente o que é necessário para evitarmos chegar a esse ponto. Mas esse estudo se encaixa na série de advertências dos cientistas do clima. “Quanto mais quente ficar, mais rápido irá aquecer e mais difícil será interromper o aquecimento”, concluiu a doutoranda.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Oslo (em inglês).

Fonte: Eivind Torgersen, Universiade de Oslo. Imagem: Cassie Matias via Unsplash.

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