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Mudanças climáticas podem afetar a segunda safra de milho no Brasil

Eventos extremos de seca no Centro-Sul do país, causados pelo aquecimento global, podem ter impactos na “safrinha”, indica estudo apoiado por FAPESP e Belmont Forum

Wikimedia Commons

Fonte

Agência FAPESP

Data

sábado, 27 junho 2020 07:10

Áreas

Agricultura. Mudanças Climáticas.

As mudanças climáticas representam uma séria ameaça para que o agronegócio brasileiro mantenha os atuais níveis de produtividade e a liderança da exportação de commodities agrícolas. Eventos extremos de seca em regiões onde está concentrada a produção agropecuária no país, causados pelo aquecimento global, podem afetar, por exemplo, a segunda safra de milho, conhecida como “safrinha”, que ocorre de janeiro a abril na região Centro-Sul do país, após a safra de verão.

As conclusões são de um estudo liderado por pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que integram um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) no âmbito de um acordo de cooperação com o Belmont Forum.

Alguns dos resultados do trabalho foram apresentados durante o seminário on-line “Impactos das mudanças climáticas na sociedade brasileira – A ciência focada em soluções produzidas pela cooperação FAPESP-Belmont Forum”, realizado no último dia 16 de junho pela Fundação em parceria com o consórcio que reúne algumas das principais agências financiadoras de projetos de pesquisa sobre mudanças ambientais no mundo.

“Dentre todos os cenários que rodamos para estimar os impactos que diferentes processos biofísicos e humanos podem ter na produção agrícola do país, os relacionados às mudanças climáticas foram os que produziram os maiores efeitos”, disse Dr. Mateus Batistella, pesquisador do Nepam-Unicamp e da Embrapa Informática Agropecuária.

Em colaboração com pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e China, os pesquisadores do Nepam formaram um consórcio de pesquisa, batizado de “Consórcio Telecoupling”, com o objetivo de estudar como interações socioeconômicas e ambientais entre sistemas naturais e humanos acoplados, como é o caso dos processos de produção e fluxo de commodities agrícolas, podem afetar a segurança alimentar e a dinâmica de uso da terra.

Para isso, desenvolveram modelos que representam o comércio internacional de commodities agrícolas, especialmente soja e milho, entre países produtores – como é o caso do Brasil e dos Estados Unidos – e importadores, como a China, além de cenários para estimar os efeitos de processos socioeconômicos e ambientais em escalas nacional e internacional.

No caso do Brasil o foco foi em 10 estados da região Centro-Sul, responsáveis pela produção de mais de 80% da soja e do milho cultivados no país, como Mato Grosso.

As projeções de mudanças na precipitação e na temperatura na região, elaboradas com base nos cenários RCP 4.5 e RCP 8.5 da Plataforma Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), indicaram impacto na segunda safra de milho.

“Eventos extremos de seca representam um risco importante para a manutenção de um ciclo bem-sucedido da agricultura brasileira. Para diminuir essa vulnerabilidade, instituições de pesquisa, como a Embrapa, estão se dedicando a desenvolver variedades de milho mais tolerantes à seca, por exemplo”, disse o Dr. Batistella.

Dependência externa

Além de processos ambientais, os pesquisadores simularam os efeitos colaterais do comércio internacional no fluxo de commodities agrícolas. Uma das situações analisadas foi a diminuição da oferta de fertilizantes, especialmente de potássio, para o Brasil.

O país importa atualmente 85% do potássio que utiliza de apenas quatro países: Canadá, Rússia, Belarus e Alemanha. Se ocorrer uma diminuição significativa da exportação desse fertilizante pode haver impacto na produção brasileira de commodities agrícolas, estimaram os pesquisadores.

“É importante que o Brasil busque fontes alternativas de potássio para diminuir a dependência externa desse insumo”, afirmou Mateus Batistella.

As exportações de soja também estão altamente concentradas em um único país, apontou o pesquisador. Atualmente, 75% das exportações brasileiras dessa commodity agrícola são destinadas para a China, que transformou áreas anteriormente voltadas ao cultivo da soja em regiões como a província de Heilongjiang, no nordeste do país, em lavouras de milho e de arroz irrigado.

Essa decisão resultou em aumento da demanda por fertilizantes nitrogenados pela China e, consequentemente, no aumento dos impactos ambientais pelo uso desses agrotóxicos no país, ponderou o pesquisador.

“Isso ilustra os efeitos dos teleacoplamentos em longas distâncias, como são os processos de produção e fluxo de commodities agrícolas”, concluiu o Dr. Mateus Bastistella.

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Elton Alisson, Agência FAPESP. Imagem: Wikimedia Commons.

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