Notícia

Mudanças climáticas já afetam biologia e até comportamento de caranguejos

Estudo analisou populações de crustáceos do Brasil e da China e identificou fragilidade dos organismos diante de alterações ambientais como elevação da temperatura e acidificação dos oceanos

Dra. Tânia Marcia Costa, Unesp

Fonte

Jornal da Unesp

Data

sábado, 1 abril 2023 16:45

Áreas

Biodiversidade. Biologia. Ciência Ambiental. Ecologia. Geografia. Monitoramento Ambiental. Mudanças Climáticas.

Um trabalho que reuniu pesquisadores de Hong Kong, da Europa e do Campus de São Vicente da Universidade Estadual Paulista (Unesp) analisou a resposta dos organismos dos caranguejos-chama-maré a temperaturas extremas na China e no Brasil e concluiu que as espécies que habitam os manguezais brasileiros possuem menor resiliência a essas alterações. A diferença ocorre também entre os sexos, sendo as fêmeas mais suscetíveis a temperaturas quentes do que os machos. Os achados, alertam os estudiosos, ganham ainda mais relevância no contexto das mudanças climáticas e do aumento das temperaturas em escala global.

Quem já teve a oportunidade de caminhar por uma área de mangue muito provavelmente se deparou com pequenos caranguejos que chamam a atenção por terem uma das pinças (chamadas quelípodos) muito maiores do que o outro par, e por se esconderem rapidamente em suas tocas ao primeiro gesto de aproximação. O caranguejo-chama-maré, ou caranguejo-violinista, não é abundante apenas nos mangues brasileiros; existem mais de cem espécies desse crustáceo habitando os mais diversos ecossistemas costeiros nas regiões tropicais e subtropicais do planeta.

A vasta distribuição geográfica desse caranguejo pelo planeta permitiu que a equipe de pesquisadores desenvolvesse um projeto conjunto para avaliar a resposta de seis espécies do crustáceo das costas brasileira e chinesa a temperaturas extremas. Uma das principais conclusões do trabalho é que caranguejos-chama-maré que vivem em regiões tropicais são mais suscetíveis a temperaturas extremas do que seus equivalentes que habitam a costa chinesa. O artigo relatando o estudo, publicado na revista científica Frontiers in Marine Science, é assinado pelo Dr. Pedro Jimenez e pelo Dr. Lyle Vorsatz, da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Hong Kong; pelo Dr. Stefano Cannicci, da Universidade de Florença, e pela Dra. Tânia Marcia Costa, professora e pesquisadora do Instituto de Biociências do Campus Litoral Paulista da Unesp.

No Brasil, efeitos podem ser maiores

Para a professora Tânia Costa, a observação de que as espécies de caranguejos-chama-maré brasileiras apresentam uma temperatura letal menor que as chinesas contradiz uma ideia cristalizada na literatura científica de que espécies que habitam regiões do globo com maiores latitudes teriam menor capacidade de suportar as variações na temperatura.

“Se as espécies que vivem no Brasil têm uma sensibilidade maior, então qualquer alteração na temperatura pode ter um efeito muito mais drástico para elas”, explicou a bióloga especialista no comportamento de animais aquáticos e efeitos de mudanças climáticas.“Essas espécies vivem muito próximas do seu limite térmico, e isso pode ser assustador se observarmos as projeções do clima para o futuro.”

O limite térmico ao qual a pesquisadora se refere diz respeito a um ambiente muito particular – e desafiador – que esses caranguejos habitam: o entremarés, uma faixa da região costeira restrita ao movimento de baixa e alta da maré. Nesta região, os crustáceos, além de lidarem com a dinâmica cíclica das águas do mar, que faz com que ora estejam expostos, ora estejam submersos, também acabam submetidos a uma intensa variação da temperatura. “No caso de um costão rochoso, por exemplo, quando a maré abaixa, surgem poças que podem chegar a 42 graus de temperatura e uma alta salinidade decorrente da evaporação da água. E mesmo nessas condições encontramos ali peixes e caranguejos”, explicou a professora Tânia. “Sabemos que as primeiras espécies afetadas pela mudança do clima são essas que habitam as entremarés, uma vez que elas já estão vivendo muito próximas do seu limite térmico.”

No projeto, os pesquisadores da Unesp, da Universidade de Hong Kong e da Universidade de Florença selecionaram três espécies de caranguejos de cada país, mas que habitam áreas com perfis distintos, sendo um de área não vegetada, um de áreas vegetadas e um de área úmida. Uma vez coletados, os animais foram depositados em tanques externos que simulavam o seu habitat natural. Ao replicar o ambiente, cada um em sua instituição, os pesquisadores puderam monitorar com maior precisão informações como o consumo de oxigênio ou o batimento cardíaco, por exemplo.

“Para identificar a tolerância térmica, a metodologia que usamos foi colocar o caranguejo em banho-maria, virá-lo de ponta-cabeça e ir aumentando a temperatura gradativamente, enquanto monitorávamos o batimento cardíaco e avaliávamos a sua capacidade de retornar à posição normal”, explicou a  Dra. Tânia. “Temos um protocolo para identificar qual é o momento em que o animal perde a capacidade de voltar à posição anterior e não precisamos esperar ele morrer. Testamos principalmente para temperaturas mais quentes, porque a ideia era estudar a resposta dos caranguejos no contexto da mudança do clima”.

A Dra. Tânia Costa vem trabalhando com esse tipo de caranguejo há cerca de 20 anos, quando estudou a ecologia da espécie na época do doutorado. A pesquisadora argumenta que os chama-maré são um bom modelo para pesquisa e fáceis de se trabalhar em laboratório, uma vez que não se estressam com facilidade e seu alimento é encontrado facilmente no sedimento presente no manguezal.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unesp.

Fonte: Marcos do Amaral Jorge, Jornal da Unesp. Imagem: uma das áreas de mangue investigadas pela professora Tânia Costa e sua equipe. Fonte: Dra. Tânia Marcia Costa, Unesp.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que  cadastrados no Canal Ambiental e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Ambiental, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2025 ambiental t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional em Meio Ambiente, Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account