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Melhora na qualidade do ar durante restrições da pandemia foi menor do que divulgado anteriormente

Novo estudo foi feito por mais de 90 pesquisadores em 25 países de sete regiões

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Fonte

UTFPR | Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Data

segunda-feira, 20 setembro 2021 06:45

Áreas

Cidades. Qualidade do Ar. Sociedade.

Em um artigo científico publicado recentemente, pesquisadores analisaram a qualidade do ar no período de isolamento social devido à pandemia da COVID-19 e compararam com o período após isolamento. Durante os dias de lockdown, ou de medidas restritivas em algumas cidades pelo mundo, muito foi falado sobre a melhoria da qualidade do ar promovida pela redução na emissão de poluentes. Porém, segundo o Dr. Admir Créso Targino, professor do Campus Londrina da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que participou da pesquisa, em alguns países e cidades a qualidade do ar piorou, já que algumas fontes de poluição prevaleceram: “Por exemplo, a queima de biomassa/lenha e emissão de partículas sem relação com tráfego veicular continuou, especialmente nos países onde o lockdown ocorreu na primavera, com temperaturas ainda baixas”, afirmou o professor.

O estudo global foi coordenado pelo programa Global Atmospheric Watch (WMO/GAW) da Organização Meteorológica Mundial e realizado em 540 estações de monitoramento da qualidade do ar de 63 cidades, abrangendo 25 países em sete regiões geográficas do mundo.

Os pesquisadores analisaram as concentrações na qualidade do ar dentro e ao redor das cidades para os seguintes poluentes atmosféricos: três frações do material particulado (PM2,5, PM10 e fração grossa, PMC), óxidos de nitrogênio (NO2 e NOx), dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO) ozônio (O3) e o oxidante gasoso total (OX = NO2 + O3). As emissões foram verificadas durante o pré-bloqueio, bloqueio parcial, bloqueio total e dois períodos de relaxamento que vão de janeiro a setembro de 2020.

“Observamos uma correlação positiva entre as reduções das concentrações de NOe NOx e mobilidade das pessoas para a maioria das cidades. Isso era um resultado esperado, pois as principais fontes desses poluentes são as emissões devido à combustão de combustíveis fósseis. No entanto, a relação NO2/CO indicou que locais específicos (como os das cidades espanholas) foram afetados pelas plumas de queima de lenha, que compensaram a diminuição do NO2 promovido pela redução geral na mobilidade”, explicou o professor.

Uma correlação entre PMC e mudanças de mobilidade também foi observada em algumas cidades asiáticas e sul-americanas. O PMC é a fração grossa do material particulado oriundo de partículas depositadas em superfícies que entra na atmosfera através de ações mecânicas de mobilização. “Então, ao se reduzir o número de veículos transitando, também se reduz as partículas grossas que entram na atmosfera, especialmente pela ressuspensão de poeira nas vias. Porém, um sinal claro não foi observado para outros poluentes, sugerindo que outras fontes, além das emissões veiculares, também contribuíram substancialmente para a mudança na qualidade do ar”, destacou o Dr. Targino.

De acordo com os pesquisadores, foram observadas diminuições de até 70% na média de NO2 e entre 30% e 40% nas concentrações médias da fração fina do material particulado (PM2,5) no período de isolamento em 2020, em comparação com o mesmo período em 2015–2019. No entanto, o PM2,5 exibiu sinais complexos, mesmo dentro da mesma região, com aumentos em algumas cidades espanholas, atribuídos principalmente ao transporte de longa distância de poeira africana e/ou queima de lenha para calefação. E, em algumas cidades chinesas, por exemplo, os aumentos de PM2,5 foram semelhantes ao período de bloqueio.

Um aspecto preocupante foi o aumento do O3 na maioria das cidades (incluindo as cidades da América do Sul: São Paulo, Lima, Bogotá e Quito). O ozônio, embora tenha papel benéfico nas altas camadas da atmosfera, protegendo contra os efeitos danosos da radiação ultravioleta, é nocivo para animais e plantas quando sucede próximo à superfície. “Isso ocorreu devido à diminuição das concentrações de NOx, que funciona como um agente destruidor do O3 sob certos regimes químicos. Na falta de NOx, o O3 aumentou”, ressaltou o pesquisador.

“Nosso estudo indica claramente que as concentrações de PM2,5 provavelmente não atenderiam às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) em muitas partes do mundo, apesar das reduções drásticas na mobilidade. Consequentemente, podem ser necessárias revisões da regulamentação da qualidade do ar com metas mais ambiciosas e específicas para as diferentes regiões do mundo. A mensagem principal que o estudo apresenta é que diminuir o trânsito veicular é apenas uma forma de combater alguns poluentes atmosféricos. Para um efeito duradouro e eficiente, serão necessárias ações coordenadas entre as nações de forma a atacar o problema de vários ângulos e fontes, como a queima de biomassa e outros agentes formadores de partículas, como o nitrato pelo setor agrícola”, completou o professor Admir Créso Targino.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Environment International.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da UTFPR.

Fonte: UTFPR. Imagem: Freepik.

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