Notícia

Latas, garrafas, baterias velhas: pesquisa identifica polvos que moram no lixo no fundo do mar

O polvo-pigmeu é a menor espécie de polvo da América Latina e foi encontrado primeiramente vivendo em latas, garrafas, baterias velhas e até em um vaso sanitário no litoral do Rio de Janeiro

Projeto Cephalopoda

Fonte

UFSC | Universidade Federal de Santa Catarina

Data

sexta-feira, 16 dezembro 2022 15:35

Áreas

Biodiversidade. Biologia. Ecologia. Monitoramento Ambiental. Oceanografia.

A latinha de refrigerante no fundo do mar parecia vazia, mas um movimento repentino mostrou que não era bem assim. Havia uma pequena espécie de polvo vivendo ali. A Dra. Tatiana Silva Leite, oceanógrafa e bióloga na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em seus estudos descobriu que os polvos estão se abrigando em latas, vidros e outros tipos de rejeitos humanos. Cada vez mais numeroso no oceano, o lixo tornou-se o abrigo mais fácil para algumas espécies de polvos que ocupavam conchas e buracos em ambientes recifais como seus abrigos naturais.

Segundo um estudo realizado pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas, divulgado em junho de 2022, só o Brasil descarta 3,44 milhões toneladas de plástico por ano. Desse total, pelo menos 67% (cerca de 2,3 milhões de toneladas) se concentram em bacias hidrográficas, com risco de chegar ao oceano. Isso significa que por ano, cada brasileiro descarta em média 16 quilos de lixo com potencial de escape para o mar. São sacolas plásticas, garrafas PET, canudos, embalagens, vidros, entre outros.

Instigada por essa situação, a Dra. Tatiana iniciou uma linha de pesquisa no Projeto Cephalopoda (projeto que estuda polvos e lulas há mais de 20 anos), para estudar o fenômeno dos polvos que vivem abrigados no lixo no fundo do mar. A pesquisa é a primeira no mundo a tratar dessa temática, ganhando repercussão e destaque em vários países. Além disso, o estudo tem uma abordagem de ciência cidadã, que visa incluir e aproximar a sociedade do trabalho realizado por pesquisadores.

O polvo-pigmeu é a menor espécie de polvo da América Latina – sendo recentemente batizado como Paroctopuscthulu n.sp. – e foi encontrado primeiramente vivendo em latas, garrafas, baterias velhas e até em um vaso sanitário no litoral do Rio de Janeiro. “O pessoal achava que esse polvo pequenininho era filhote do grande, e ninguém nunca olhou para ele. Aí quando souberam que eu estava aqui, mandaram uma foto e percebi que ele não era filhote, era o seu tamanho”, contou a Dra. Tatiana, que também já encontrou essa e outras espécies no lixo marinho catarinense.

Após a descoberta, a equipe de pesquisa realizou uma campanha para coletar imagens subaquáticas do mundo todo para analisá-las a fim de entender como os polvos se relacionam com o lixo. Foram utilizados fotos e vídeos de banco de imagens, de cientistas e também da própria comunidade através das redes sociais. Como resultado, foram descobertas 24 espécies de polvos utilizando lixo como abrigo e proteção contra predadores no oceano. “Os polvos são muito inteligentes, têm um ciclo de vida curto e se adaptam muito rápido, então entender essas mudanças em seu habitat ajuda a entender os impactos do lixo no ambiente marinho”, explicou a pesquisadora, cujo estudo ganhou repercussão na mídia internacional, com divulgação na National Geographic Francesa, Smithsonian e no jornal The Guardian.

Acesse a reportagem completa na página da Universidade Federal de Santa Catarina.

Fonte: Maria Magnabosco e Denise Becker, Núcleo de Apoio à Divulgação Científica/UFSC.

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