Notícia

‘Insetos engenheiros’ interagem com plantas hospedeiras e fornecem recursos para outras espécies

Estudo liderado por pesquisador da UFMG compilou mais de 1 mil registros feitos em 52 países e em todas as zonas climáticas

Cássio Cardoso Pereira

Fonte

UFMG | Universidade Federal de Minas Gerais

Data

segunda-feira, 4 abril 2022 12:00

Áreas

Biodiversidade. Biologia. Ecologia.

Em uma época marcada por mudanças climáticas e declínio acentuado na riqueza de espécies de insetos em todo o mundo, estruturas sutis, construídas em troncos e folhas, tornam-se abrigos seguros para as próprias espécies construtoras e para outras, chamadas de colonizadoras secundárias e inquilinas. O fenômeno foi foco de estudo liderado pelo pesquisador Cássio Cardoso Pereira, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e publicado na revista científica Ecology. O grupo reuniu mais de mil registros sobre ecologia de ecossistemas, produzidos em 52 países, abrangendo de zonas polares a tropicais.

Doutorando do Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre (PPG-ECMVS), sob orientação da professora Dra. Tatiana Cornelissen, do ICB-UFMG, Cássio contou que muitos artrópodes – besouros, lagartas, moscas, aranhas e vespas – constroem estruturas dos mais variados tipos em plantas, usando os troncos, as folhas ou partes das folhas para confeccionar cilindros e tendas. Essas estruturas funcionam como abrigos para que eles se protejam, se reproduzam e se desenvolvam.

Com base na análise do conjunto de 1.009 registros publicados sobre ecologia dos ecossistemas, no período de 1932 a 2021, o grupo de pesquisadores concluiu que, ao construírem seus abrigos em folhas e caules, os ‘engenheiros de ecossistemas’ interagem com as plantas hospedeiras e, indiretamente, fornecem recursos para outras espécies de animais.

“Esses abrigos têm grande impacto nas comunidades de organismos terrestres, pois influenciam indiretamente no número e nas espécies que vão colonizar determinada planta, nas interações entre essas espécies e também nos processos e serviços ecossistêmicos, como polinização, decomposição e ciclagem de nutrientes”, explicou o pesquisador. A equipe é formada ainda pelo professor do ICB Dr. Geraldo Wilson Fernandes, pelos residentes de pós-doutorado Dr. Samuel Novais e Dr. Milton Barbosa e pelos professores Dra. Camila Vieira, do campus Pirassununga da Universidade de São Paulo, e Dr. Gustavo Romero, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos idealizadores da investigação. E ainda outros 49 coautores de várias partes do mundo.

Abrigos microclimáticos

Os registros reunidos pela pesquisa abrangem tanto estruturas naturais (90,6%) quanto aquelas criadas artificialmente por pesquisadores (9%). Segundo Cássio Pereira, para as espécies sensíveis à aridez, a altas temperaturas e à variabilidade climática, essas estruturas representam importantes refúgios microclimáticos, especialmente frente às mudanças ocasionadas pelo aquecimento global. (Análise específica sobre a influência climática pode ser vista neste artigo, publicado na revista científica Global Change Biology, liderado pelo Dr. Gustavo Romero.

De acordo com o levantamento, foram registradas construções em 326 espécies de plantas, em todo o mundo. As florestas foram os biomas mais examinados, independentemente da região – o Brasil foi o país com mais registros nos trópicos, e os EUA, na zona temperada.

Sete tipos principais de construções foram encontrados, a maioria delas (70,5%) em árvores, seguidas de ervas (13,3%) e arbustos (11,2%). As espécies de Quercus (carvalhos e outras árvores) reuniram a maioria dos tipos de construções.

Os dois tipos de abrigos mais frequentemente registrados foram rolos e galhas dos mais diversos formatos, produzidos por meio de indução do aumento do número de células ou do volume celular no tecido vegetal.

Dez ordens de artrópodes foram consideradas na pesquisa – a Lepidoptera (borboletas e mariposas) e a Hymenoptera (abelhas, vespas e formigas) representaram, juntas, mais de 75% do total e foram responsáveis pela construção da maioria dos rolos de folhas (22,2%) e galhas de folhas (23,2%). Outras construções criadas por artrópodes em plantas são laços e tendas de folhas e cavidades de caule.

Em um terço dos casos, essas construções foram utilizadas pelos ‘insetos engenheiros’ para o desenvolvimento dos estágios larvais e descendentes (33%), mas também serviram como abrigos (19,8%) e como local adequado para emboscar e capturar presas (15%).

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de Minas Gerais.

Fonte: Teresa Sanches, UFMG. Imagem: Rolo foliar criado pelo nematoide ‘Ditylenchus gallaeformans’ em ‘Miconia ligustroides’ (jacatirão) abriga diversos artrópodes. Fonte: Cássio Cardoso Pereira.

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