Notícia
Gestão das cidades deve priorizar interesse público
Pesquisadores destacam no programa Ciência Aberta como o crescimento desordenado das cidades gera desigualdade, segregação e problemas de saúde
Felipe Maeda, Agência FAPESP
Fonte
Agência FAPESP | Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
Data
quinta-feira, 13 dezembro 2018 09:00
Áreas
Desigualdade Socioambiental, Gestão Ambiental, Sociedade.
O mundo está se urbanizando e não é de hoje. A expectativa é que, até 2050, 75% da população mundial esteja vivendo em cidades. No Brasil, estima-se que, em 2030, mais de 90% da população será urbana. Isso faz com que os desafios das cidades, como crescimento desordenado, saneamento, trânsito, poluição, déficit habitacional, tornem-se centrais para o entendimento do mundo.
No Brasil, a migração para as cidades atingiu seu auge na década de 1970, quando aproximadamente 17,4 milhões de pessoas se mudaram para os grandes centros urbanos. Nos anos 2000, esse volume de pessoas caiu para 6 milhões. Embora arrefecido, o movimento migratório continua nos dias de hoje e aumenta o inchaço das cidades.
“Se São Paulo fosse uma pessoa, seria uma senhora de 464 anos obesa que cresceu mais que sua estrutura permitia. Teria artérias entupidas por trombos metálicos de quatro rodas, bronquite crônica por poluição e insuficiência renal, com diarreia aquosa em seus rios. Além disso também teria diabetes, por usar energia de forma perdulária, e Alzheimer, por esquecer o que foi dito e feito nas gestões anteriores”, disse Dr. Paulo Saldiva durante o programa Ciência Aberta, uma parceria da FAPESP e da Folha de S. Paulo, no dia 4 de dezembro. O Dr. Saldiva é professor titular da Faculdade de Medicina e diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).
Também participaram do programa a Dra. Marta Arretche, professora do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP, e o Dr. Alberto Augusto Eichman Jakob, coordenador do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó (Nepo-Unicamp).
“No Brasil, é preciso que haja a primazia do interesse público na gestão das cidades para que não exista tanta desigualdade entre as cidades brasileiras e as cidades dentro de uma só cidade. A construção de novas residências foi priorizada, porém, o poder público não controla essa questão em termos de planejamento e burocracias estatais”, disse a Dra. Arretche.
O Dr. Jakob ressaltou que o crescimento desordenado das cidades acarreta segregação. “Essa segregação está no acesso aos serviços, em ter água todos os dias em casa, escola, oportunidades de trabalho, acesso à internet, casa e acesso a financiamento”, disse.
“O nosso parlamento abdicou de gerir a cidade e cedeu espaço para incorporadoras e outros atores. Isso fez com que não fossem aplicados os planos diretores. Uma das consequências é que cada vez mais as pessoas precisam morar mais longe e perdem em média 93 minutos de deslocamento em São Paulo, por exemplo”, disse o Dr. Saldiva.
A Dra. Arretche afirma que isso faz com que a população se encontre separada por muros invisíveis. “São criados desertos de serviços nas cidades. Há separação entre as oportunidades de trabalho e os espaços para residência”, disse.
No entanto, a coordenadora do CEM ressalta que a situação não é inevitável. “O problema está menos relacionado no que diz respeito aos serviços e mais às oportunidades de trabalho. Mas descentralizar o emprego não é trivial. Requer investimento descentralizado”, disse.
Sobre os problemas de trânsito e poluição, a Dra. Arretche comentou que a bicicleta não vai substituir os outros meios de transporte, pois são grandes os deslocamentos feitos pela maioria da população.
“Há boas razões para que o sistema de transporte incorpore a bicicleta. Por outro lado, é difícil pensar que a bicicleta seja a solução. É preciso investir em transporte público, porque temos que levar em conta que mais de 50% da população se desloca mais de 12 quilômetros por dia. É preciso pensar em um sistema mais integrado, com bicicletários nas estações periféricas e opções de outros modais”, disse.
Acesse a notícia completa no site da Agência FAPESP.
Fonte: Maria Fernanda Ziegler, Agência FAPESP. Imagem: Felipe Maeda, Agência FAPESP.
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