Notícia

Exposição à fumaça de incêndios florestais durante a gravidez pode afetar o peso ao nascer

Estudo sugere que fumaça de incêndios florestais no Brasil afetou mulheres no primeiro trimestre de gravidez, aumentando o risco de baixo peso ao nascer em bebês a termo

Antonio Cruz via Wikimedia Commons

Fonte

Universidade de Toronto

Data

terça-feira, 17 maio 2022 15:50

Áreas

Ciência de Dados. Geografia. Microbiologia. Queimadas. Saúde Pública. Sociedade. Toxicologia.

Os incêndios florestais podem dizimar florestas, destruir comunidades e encher o ar com fumaça nociva – mas seu impacto pode ser ainda mais abrangente, afetando a saúde dos bebês no útero. Um estudo recente sugere que a fumaça de incêndios pode afetar as mulheres no primeiro trimestre da gravidez, aumentando o risco de baixo peso ao nascer em bebês a termo. Outros estudos associaram um baixo peso no nascimento a termo com condições mais tarde na vida, incluindo hipertensão, baixo QI, diabetes e doenças cardíacas.

O estudo foi publicado na revista científica The Lancet Regional Health Americas pelos pesquisadores Dr. Weeberb João Réquia Júnior, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV Brasília); Dr. Heresh Amini, professor da Universidade de Copenhague, na Dinamarca; Dr. Matthew Adams, da Universidade de Toronto Mississauga, no Canadá e pelo Dr. Joel Schwartz, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores conduziram uma análise estatística com base em registros de incêndios florestais e dados de nascimento no Brasil, que tem destaque em incêndios florestais no cenário global e é responsável por cerca de 12% a 16% das emissões globais de partículas relacionadas a incêndios florestais. A região sul do Brasil teve o maior risco de baixo peso ao nascer associado à exposição a incêndios florestais, com um aumento de quase 19% quando a exposição aconteceu no primeiro semestre de gravidez.

“Dado que os incêndios florestais são um problema crescente em várias regiões do mundo, especialmente no Brasil – uma região propensa a incêndios, as evidências epidemiológicas mostradas em nosso estudo devem ser de grande preocupação para a comunidade de saúde pública e formuladores de políticas”, disseram os pesquisadores.

Os pesquisadores estudaram 1,6 milhão de registros de nascimento de todo o Brasil entre 2001 e 2018 e analisaram a presença ou não de fumaça proveniente de incêndios florestais que ocorreram durante esse período. Eles descobriram que as mães que foram expostas à fumaça de incêndio no primeiro trimestre de gravidez eram mais propensas a ter um bebê nascido com baixo peso ao nascer: menos de 2,5 kg.

“Fiquei surpreso que o efeito tenha sido tão prevalente no primeiro trimestre, mas não no segundo ou terceiro. O que ainda não sabemos é o porquê. De uma perspectiva política, não importa o porquê. Sabemos que a fumaça é tóxica e vemos esse efeito”, disse o Dr. Matthew Adams.

O Dr. Adams disse que os pesquisadores também ficaram surpresos ao descobrir que algumas áreas do Brasil tinham taxas mais altas de baixo peso ao nascer do que outras: “Vimos os efeitos mudando ao longo do tempo e do espaço. Nós nos perguntamos: por que as áreas do norte e sul do Brasil parecem ter efeitos diferentes? Você pensaria que seria a mesma coisa”, disse o pesquisado.

“Acho que isso é importante à medida que fazemos mais e mais estudos em diferentes regiões geográficas, para reconhecer que os efeitos podem mudar no espaço. É por isso que valerá a pena olhar para eles geograficamente e ao longo do tempo”, completou o professor Matthew Adams. Ele acrescentou que houve pesquisas anteriores ligando a poluição do ar ao baixo peso ao nascer, mas não há muitos estudos atuais sobre a associação entre exposição à fumaça de incêndios florestais e o baixo peso ao nascer.

No futuro, o professor Adams disse que esta é uma área de pesquisa que precisa de mais estudos, especialmente porque as mudanças climáticas criam condições mais secas, aumentando o risco de incêndios florestais na América do Norte e em outros lugares. “O que é interessante sobre as partículas na fumaça dos incêndios florestais é que a toxicidade pode ser diferente. Quando você tem incêndios florestais associados a estruturas feitas pelo homem, que é o que vemos na América do Norte, vemos esses incêndios muitas vezes invadindo comunidades e queimando as casas das pessoas. Não é apenas queimar a matéria da árvore – você está queimando muitos compostos problemáticos ​​que estão embutidos na estrutura desses edifícios feitos pelo homem”, disse o pesquisador, acrescentando que as partículas da fumaça dos incêndios florestais podem incluir objetos manufaturados como metais e plásticos que podem liberar componentes tóxicos no ar.

“Com as mudanças climáticas, estamos tendo esses grandes incêndios florestais que talvez não fossem tão comuns 20 ou 30 anos atrás. Acho importante para o contexto brasileiro, mas acho que pode realmente se traduzir em uma escala espacial mais ampla para áreas que se tornaram mais propensas ao fogo”, disse o Dr. Adams, que espera que a pesquisa encoraje políticas que reduzam a exposição a contaminantes do ar.

“Sabemos muitas coisas que precisamos mudar. Mas quando começamos a pensar em aspectos relacionados ao clima e a olhar para o relógio, não temos uma quantidade infinita de tempo para resolver muitos desses problemas”, concluiu o pesquisador.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Toronto (em inglês).

Fonte: Kristy Strauss, Universidade de Toronto. Imagem: Incêndio no Parque Nacional de Brasília. Fonte: Antonio Cruz via Wikimedia Commons.

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