Notícia

Exposição a combinação de PFAS, os ‘produtos químicos eternos’, pode interromper os principais processos biológicos

Fonte

Escola de Medicina da Universidade do Sul da Califórnia

Data

segunda-feira, 27 fevereiro 2023 06:30

Áreas

Ciência Ambiental. Engenharia Ambiental. Gestão de Resíduos. Materiais. Políticas Públicas. Química. Saúde. Sociedade. Toxicologia.

Uma equipe de pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos Estados Unidos, descobriu que a exposição a uma mistura de produtos químicos sintéticos amplamente encontrados no ambiente altera vários processos biológicos críticos, incluindo o metabolismo de gorduras e aminoácidos, tanto em crianças quanto em adultos jovens. A interrupção desses processos biológicos está ligada a um risco aumentado de uma ampla gama de doenças, incluindo distúrbios do desenvolvimento, doenças cardiovasculares, doenças metabólicas e muitos tipos de câncer.

Conhecidos como substâncias per e polifluoroalquil (PFAS), esses produtos químicos sintéticos são usados ​​em uma ampla gama de produtos de consumo e industriais. Os PFAS às vezes são chamados de ‘produtos químicos eternos’ porque se decompõem muito lentamente e se acumulam no ambiente e nos tecidos humanos.

Embora PFAS individuais sejam conhecidos por aumentar o risco de vários tipos de doenças, o estudo atual, publicado recentemente na revista científica Environmental Health Perspectives, é o primeiro a avaliar quais processos biológicos são alterados pela exposição a uma combinação de múltiplos PFAS, o que é importante porque a maioria as pessoas carregam uma mistura de produtos químicos em seu sangue.

“Nossas descobertas foram surpreendentes e têm amplas implicações para os formuladores de políticas que tentam mitigar os riscos”, disse o Dr. Jesse Goodrich, professor de Ciências Populacionais e de Saúde Pública e principal autor do estudo. “Descobrimos que a exposição a uma combinação de PFAS não apenas interrompeu o metabolismo de lipídios e aminoácidos, mas também alterou a função do hormônio tireoidiano”.

Um projeto de pesquisa inédito

Para entender os efeitos que a mistura de PFAs tem no corpo, a equipe usou amostras de sangue coletadas de 312 adolescentes que participaram do ‘Estudo de Adolescentes Latinos em Risco’ e de 137 crianças do ‘Estudo de Saúde Infantil do Sul da Califórnia’. Eles descobriram que todas as crianças e adolescentes tinham uma mistura de múltiplos PFAS comuns em seu sangue, incluindo PFOS, PFHxS, PFHpS, PFOA e PFNA. Mais de 98% dos participantes também tinham PFDA no sangue.

Os pesquisadores também mediram milhares de substâncias químicas de ocorrência natural no sangue e, usando um método bioestatístico que desenvolveram, identificaram como a exposição a vários PFAS diferentes afetava cada uma dessas substâncias químicas de ocorrência natural. Esta informação ajudou os pesquisadores a determinar que a exposição aos PFAS alterou a forma como o corpo metaboliza lipídios e aminoácidos, bem como os níveis de hormônio tireoidiano, um importante determinante das taxas metabólicas.

Os pesquisadores se concentraram em crianças e adultos jovens porque estão passando por estágios críticos de desenvolvimento que podem torná-los mais suscetíveis aos efeitos negativos à saúde da exposição ao PFAS. É também uma época em que muitas doenças graves que se manifestam em adultos se iniciam. Os pesquisadores acrescentaram que esses resultados são consistentes com estudos anteriores que mostraram que a exposição individual ao PFAS na infância estava associada ao metabolismo desregulado de lipídios e ácidos graxos, o que pode aumentar o risco de distúrbios metabólicos e doenças cardiovasculares mais tarde na vida.

Uma descoberta que se destacou, de acordo com o professor Goodrich, foi o fato de que a exposição ao PFAS teve um efeito na função do hormônio tireoidiano, que tem um papel crítico no crescimento e no metabolismo. Por causa disso, as alterações nos hormônios tireoidianos desempenham um papel importante no desenvolvimento infantil durante a puberdade, o que pode ter efeitos importantes sobre uma série de doenças mais tarde na vida, incluindo diabetes, doenças cardiovasculares e câncer.

Importante consideração de saúde pública

Outra descoberta importante foi o fato de que a exposição a uma mistura de PFAS, em vez de um único produto químico desse tipo, provocou a interrupção desses processos biológicos. Essa descoberta foi consistente nas duas coortes, embora tivessem diferentes níveis de exposição ao PFAS.

Quase todas as pessoas nos EUA têm níveis detectáveis ​​de vários PFAS, que estão em uma ampla variedade de produtos, incluindo roupas impermeáveis ​​e embalagens de alimentos, em seu sangue. Estima-se que 200 milhões de pessoas nos EUA têm água potável com níveis de PFAS consideravelmente mais altos do que os níveis recomendados pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) em 2022.

Alguns fabricantes eliminaram gradualmente o uso de PFAS individuais, mas os autores do estudo concluem que esta pesquisa mostra por que pode ser mais importante regulamentar o PFAS como uma classe de produtos químicos.

“Estamos realmente apenas começando a entender a gama de efeitos que esses produtos químicos têm na saúde humana”, disse a Dra. Leda Chatzi, também coautora do estudo. “Embora as intervenções atuais tenham se concentrado na eliminação gradual do uso de PFAS individuais, como PFOS e PFOA, esta pesquisa mostra por que o foco deve ser a redução da exposição a todos os produtos químicos PFAS”, concluiu a pesquisadora.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Escola de Medicina da Universidade do Sul da Califórnia (em inglês).

Fonte: Hope Hamashige, Escola de Medicina da Universidade do Sul da Califórnia. Imagem: FRD-903 (também conhecido como ácido dimérico de óxido de hexafluoropropileno, HFPO-DA e ácido 2,3,3,3-tetrafluoro-2-(heptafluoropropoxi)propanóico) é um composto químico que está entre a classe de substâncias per e polifluoroalquil (PFAS). Mais especificamente, este petroquímico sintético também é descrito como um ácido perfluoroalquil éter carboxílico (PFECA): não é biodegradável e não é hidrolisado pela água. Fonte: Mplanine via Wikimedia Commons.