Notícia
Expansão de manguezais contribui para sequestro de carbono em SP
Estudo no litoral paulista reforça potencial contribuição de regiões de mangue na mitigação de mudanças climáticas
Wikimedia Commons
Fonte
Jornal da Unesp
Data
sexta-feira, 30 setembro 2022 10:15
Áreas
Biodiversidade. Biologia. Cidades. Ecologia. Geociências. Geografia. Monitoramento Ambiental. Mudanças Climáticas.
Os manguezais ocupam cerca de 14.000 km² do litoral brasileiro, espalhando-se do Amapá até Santa Catarina. E os brasileiros vêm tirando grande proveito de sua presença. Suas florestas protegem a zona costeira contra as ondas e o aumento do nível da maré, diminuindo a erosão do solo e protegendo comunidades e cidades costeiras. Zonas de mangues atuam como escudos contra a força do mar e do vento, diminuindo sua intensidade. Mas não são só os humanos que recebem benefícios. Suas grandes raízes aéreas abrigam e protegem animais durante o período de reprodução e as etapas de crescimento, o que lhes valeu o reconhecimento como berçários da vida marinha. Porém, apesar de todos os serviços ecossistêmicos que eles prestam, o Brasil vem se destacando como um dos países que mais emitem carbono devido ao desmatamento de manguezais. É o que aponta um estudo conduzido por pesquisadoras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Deakin, na Austrália, publicado na revista científica Estuarine, Coastal and Shelf Science.
Em florestas tropicais, como a amazônica, o carbono sequestrado não é armazenado por muito tempo. Isso ocorre porque, quando caem e se decompõem, as folhas liberam o carbono sequestrado, impedindo ciclos longos de armazenamento. Ao entrar em contato com a atmosfera, o carbono, antes preso, é convertido em CO2, um dos principais gases do efeito estufa.
Porém, no caso dos manguezais, o carbono sequestrado é armazenado no sedimento, abaixo do solo, criando estruturas conhecidas como sumidouros de carbono. Isso permite que o gás fique estocado por períodos maiores, tornando as florestas de mangue importantes aliadas na mitigação das mudanças climáticas. Segundo o Atlas dos Manguezais do Brasil, o estoque de carbono destas florestas é maior do que o observado em qualquer outra floresta terrestre no mundo, inclusive as florestas tropicais úmidas. Entretanto, a devastação de áreas de mangue libera todo o carbono armazenado no subsolo, tornando essas regiões grandes emissoras do gás.
No Brasil, a desinformação sobre a relevância socioambiental dos manguezais tem contribuído para sua destruição e o uso indevido dos espaços que eles ocupam. Aqui, boa parte do desmatamento visa a utilização das terras para outros propósitos, como a construção e ampliação de áreas portuárias, indústrias, carcinicultura (técnica de criação de camarões em viveiros), ocupação irregular e agricultura. Mas, no país, ainda são poucos os dados disponíveis sobre esse ecossistema, tanto sobre o histórico de desmatamento, como de sua capacidade de armazenamento de carbono.
O artigo científico publicado tem como autoras a Dra. Débora Martins de Freitas, professora do Instituto de Biociências da Unesp, campus São Vicente, a Dra. Micheli Duarte de Paula Costa, pesquisadora da Universidade Deakin e Lorena Novaes Rosa, que se graduou em ciências biológicas no Instituto de Biologia da Unesp em São Vicente e atualmente cursa mestrado na Unicamp. A pesquisa que embasou o artigo foi fruto do trabalho de conclusão de curso de Lorena, que buscou coletar dados sobre o estoque e a emissão de carbono nas regiões de Santos e de São Vicente, no litoral paulista, e também expandir a conscientização sobre a importância dos manguezais.
Planos de defesa para ecossistemas costeiros
Para alcançar um cenário otimista, entretanto, é necessário que sejam desenvolvidas e implementadas novas políticas de proteção. Além disso, é preciso investir em iniciativas de conscientização sobre a importância dos manguezais.
O estudo das pesquisadoras é o início de um projeto maior, visando não apenas criar registros dos estoques de carbono em toda a região da Baixada Santista, como também usar esses estudos para influenciar as tomadas de decisões locais e, até mesmo, nacionais. “Esse trabalho foi o piloto para a gente mostrar quais são os ganhos e quais são as perdas na região. Nós vimos que os ganhos e perdas estão muito associados à urbanização, à questão da especulação imobiliária, da ocupação irregular, das atividades portuárias, mas, apesar disso, nós podemos trabalhar nesse ambiente para a conservação. Porém, tem que ser um trabalho muito bem coordenado”, disse a Dra. Débora Freitas.
Lorena Rosa também tem expectativas de que a pesquisa seja apenas o começo de um empreendimento maior de conscientização e coleta de dados na região. “Nós já sabíamos que os manguezais eram ecossistemas extremamente importantes para questões da vida marinha. Estudando, descobrimos também que ele é um ecossistema-chave para sequestro de carbono. Nesse sentido, nós delineamos os objetivos de modo a encontrar formas de como esses ecossistemas podem auxiliar nas políticas públicas de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas”, concluiu a mestranda.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unesp.
Fonte: Malena Stariolo, Jornal da Unesp. Imagem: Wikimedia Commons.
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