Notícia

Estudo revela como cursos d’água influenciam o clima

Estudo detalha como o carbono é armazenado ou transportado por cursos d’água interiores e costeiros, com implicações significativas para a aplicação de acordos climáticos internacionais

Franz26 via Pixabay

Fonte

Universidade Princeton

Data

quarta-feira, 23 março 2022 10:40

Áreas

Ciência Ambiental. Ecologia. Geociências. Hidrologia. Mudanças Climáticas.

A maioria dos esforços globais em relação à economia e ao ciclo do carbono pressupõe um fluxo linear de água da terra para o mar, que ignora a complexa interação entre córregos, rios, lagos, águas subterrâneas, estuários, manguezais e muito mais. Um estudo coliderado pela cientista climática Dra. Laure Resplandy, professora de Geociências da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, detalha como o carbono é armazenado e transportado através da complexidade dos cursos d’água interiores e costeiros. Publicado na revista científica Nature, o trabalho tem implicações significativas para a aplicação dos cálculos de carbono que fazem parte dos acordos climáticos internacionais.

Os ecossistemas terrestres e marinhos têm uma poderosa influência sobre o clima, regulando o nível de dióxido de carbono atmosférico (CO2). Esses ecossistemas, no entanto, são muitas vezes vistos como desconectados uns dos outros, o que ignora a transferência de carbono da terra para o mar aberto através de uma complexa rede de corpos d’água – o contínuo de córregos, rios, estuários e outros corpos que transportam água da terra para o mar.

Em uma análise detalhada, a equipe de pesquisadores da Bélgica, Estados Unidos e França descobriu que esse continuum aquático terra-oceano (LOAC) carrega uma quantidade substancial de carbono de origem antropogênica (por exemplo, combustível fóssil). Assim, o carbono retirado da atmosfera pelos ecossistemas terrestres não é todo armazenado localmente, como comumente se supõe, o que tem implicações para os acordos globais que exigem que os países relatem seus inventários de carbono. Os pesquisadores também descobriram que a transferência de carbono de origem natural da terra para o oceano é maior do que se pensava anteriormente, com implicações de longo alcance para a avaliação da absorção antropogênica de CO2 pelo oceano e pela terra.

“A complexidade do LOAC, que inclui rios, águas subterrâneas, lagos, reservatórios, estuários, marismas, manguezais, ervas marinhas e águas acima das plataformas continentais, tornou difícil avaliar sua influência no ciclo global do carbono”, disse o Dr. Pierre Regnier, professor da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, que coliderou o estudo com a Dra. Laure Resplandy.

Por causa dessa complexidade, importantes esforços globais da economia do carbono, como os do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e o Projeto Global de Carbono, normalmente pressupõem uma transferência direta de carbono da foz dos rios para o oceano aberto. Outra suposição comum é que todo o carbono transportado é natural, desprezando-se os impactos das perturbações antrópicas nesse continuum aquático, como o represamento e a dizimação da vegetação costeira.

Neste estudo, os pesquisadores sintetizaram mais de 100 estudos individuais dos vários componentes do continuum. A partir dessa síntese, os ‘orçamentos de carbono’ do LOAC foram desenvolvidos para dois períodos de tempo: o período pré-industrial e os dias atuais. Os resultados confirmam o conhecido ‘ciclo’ de carbono pré-industrial, no qual o carbono foi retirado da atmosfera pelos ecossistemas terrestres, transferido pelos rios para o oceano e depois liberado de volta para a atmosfera.

“Descobrimos que a quantidade de carbono transportada por esse ciclo natural terra-oceano, 0,65 bilhão de toneladas por ano, é aproximadamente 50% maior do que se pensava anteriormente”, disse a Dra. Resplandy. Além disso, esse ciclo é composto por dois ciclos menores: um que transfere carbono dos ecossistemas terrestres para águas interiores e outro da vegetação costeira (os chamados ‘ecossistemas de carbono azul’) para o oceano aberto.

“Um maior transporte de carbono terra-oceano pré-industrial implica que a absorção oceânica de CO2 antropogênico anteriormente inferida a partir de observações foi subestimada”, disse a Dra. Laure Resplandy. “O outro lado é que a absorção de CO2 antropogênico pela terra foi superestimada”, acrescentou o Dr. Pierre Regnier.

O estudo demonstra que o carbono antropogênico transportado pelos rios é liberado de volta para a atmosfera ou eventualmente armazenado em sedimentos aquáticos e no oceano aberto.

O Dr. Philippe Ciais, diretor de pesquisa do Laboratoire des Sciences du Climat et de l’Environnement e coautor do estudo explicou: “Essa nova visão do orçamento antropogênico de CO2 pode ter um lado positivo porque os sedimentos e o oceano oferecem repositórios indiscutivelmente mais estáveis do que a biomassa terrestre e o carbono do solo, que são vulneráveis a secas, incêndios e mudanças no uso da terra”.

Os pesquisadores também mostraram que os humanos diminuíram a absorção de CO2 atmosférico dos ecossistemas de carbono azul em até 50%. “Se não for protegida do aumento do nível do mar, poluição e desenvolvimento costeiro, a absorção de carbono azul do CO2 atmosférico diminuirá ainda mais e contribuirá para um aquecimento climático adicional”, disse o Dr. Raymond Najjar, professor da Universidade Estadual da Pensilvânia (PennState), e coautor do estudo.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade Princeton (em inglês).

Fonte: Universidade Princeton. Imagem: Franz26 via Pixabay.

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